0 comentários
A experiência da AliExpress em Espanha decepciona: não há muito produto nem oferta, e não é barato.
Ao ir às compras a dois estabelecimentos físicos dos oito que tem o gigante asiático em Espanha, comprovámos que os clientes não saem dele fascinados
Talvez o ás da AliExpress na sua partida de cartas contra a Amazon pelo trono do e-commerce seja o preço, já que a empresa chinesa aposta em produtos baratos. Na sua estratégia, as lojas físicas não pareciam ocupar um papel relevante. Pelo menos, até agora. Em Espanha, a AliExpress tem oito estabelecimentos, o último dos quais foi inaugurado no início de junho de 2022 no Shopping A Gavia, em Madrid. Este e o da Vaguada, no bairro El Pilar da capital têm muitas semelhanças, mas, a julgar pelas opiniões dos consumidores, esta experi\êncoa não apaixona porque as lojas físicas da AliExpress nem são tão baratas, nem têm de tudo.
O lema da marca, que aparece nas paredes de ambos estabelecimentos como um mantra, é "Se o imaginas, está na AliExpress ". Mas será no site, porque as lojas não são a mala do Doraemon, nem um armazém infinito. Ambas têm uma única caixa, o que já é um indicativo revelador. Assim, funcionam como uma espécie de mostruário, de exposição, e surpreendem porque deixam de lado a tecnologia para aproximar a um conceito familiar, com verdadeiro ar a Tiger. Além disso, na opinião dos peritos, também funcionam como laboratório para provar determinadas estratégias.
Pouca tecnologia e quase nada de roupa no AliExpress
Ao entrar na nova loja de AliExpress, localizada no Shopping A Gavia (Vallecas), o primeiro que surpreende é a azáfama dos clientes. Como qualquer novidade, leanta a curiosidade. Numa tarde calorosa podem-se encontrar dezenas de curiosos, alguns dos quais conhecem a marca só de ouvido e outros são fiéis seguidores. Apesar de que todos querem ver que está a cozinhar, a satisfação não é unânime. "Vejo-o um pouco vazio de produto", conta Gonzalo Hernández, que veio com a sua noiva e o seu filho pequeno "a ver que tinha".
Não é um estabelecimento muito grande: tem uns 300 metros quadrados pelos que se distribui uma oferta comercial variada. Muito variada. Demasiado variada? Há bastantees brinquedos, acessórios para a piscina como colchões de ar e flutuadores ou material de papelaria (marcadores para estudantes e cadernos do Mr. Wonderful). No entanto, há muito pouca roupa (uns quantos gorros e uma parca com uns poucos vestidos para mulher, a um preço de 9,99 euros) e quase nenhuns vislumbres de tecnologia: teclados estilo gamer que se movem na gama dos dos 15 e os 40 euros, microfones para streamers, auscultadores, caregadores e pouco mais. "Surpreendeu-me que não tenha roupa para crianças, quando no site de AliExpress há muitíssima", indica Raúl Mateos, que se declara comprador habitual da plataforma.
Não é tão barato
Também há alguns objetos de desporto, como umas pesos de cores muito semelhantes às que se podem encontrar na Decathlon, ou essa faixa elástica indelével que se compra porque é barata, mas depois vive enterrada no fundo de uma gaveta. Neste sentido, na AliExpess há muitos objetos destinados ao despertar incerto de um passatempo, seja a cozer ou o ioga. Dentro da seção de brinquedos, destaca-se o merchandising de Harry Potter ou Star Wars, bem como os jogos de mesa. O Catán, por exemplo, custa 45 euros, o mesmo preço que na Toys R us ou El Corte Inglês. Por sua vez, o Satisfayer Pró 2 tem um preço de 34,99 euros, mais barato que no Carrefour, mas menos que na Fnac .
"Nestes primeiros dias as vendas têm ido tão bem que não pudemos repor alguns produtos que se esgotaram", reconhece a este meio Alejandro Cecilia, um dos responsáveis pela loja de Valência. Além disso, explica de forma muito eloquente porque na seção de tecnologia não há portáteis nem nada que se aproxime dos 100 euros: "Afinal de contas, mudas um telemóvel a cada dois ou três anos. Mas um acessório, como um auricular ou uma capa, o compras muitas mais vezes", expressa. Ou seja, a ideia é que tenha tráfico.
Outro Tiger, mas asiático
"AliExpress é uma dessas marcas que se pode permitir fazer certas experiências", conta à Consumidor Global Jacinto Llorca, analista, conselheiro de negócio e autor de livros como O Código Retail. Na sua opinião, a empresa asiática utiliza as lojas físicas como um laboratório de provas para conhecer o que é o que gosta o consumidor espanhol e daí não. "Permite-lhes continuar a aprender", assinala. Llorca aponta, além disso que, na Tiger, que tem uma certa semelhança com o que a AliExpress oferece nas suas lojas, o produto está a mudar, "mas sempre vamos encontrar acessórios de lar, papelaria e brinquedos. E aqui pode que seja igual".
Do ponto de vista deste perit, o facto de que a tecnologia não esteja muito presente na loja também é uma declaração de intenções. "Para a marca, é uma forma de dizer 'não só destaco isto' ou 'sei fazer mais coisas'. É uma tentativa de mostrar que fazem uma loja para que entrem perfis diferentes de pessoas, não é um solucionador barato, é um lugar ao que pode ir toda a família", expressa. Quanto às tarifas, Llorca acha que se os preços não são baratos é porque a subida dos custos do transporte internacional não permite que proliferem tantas pechinchas.
Aposta forte nos produtos do lar
"É fixe, mas também não me surpreendeu muito, não é tão barata", indica Julia Castillo. Segundo esta cliente, há coisas "um pouco naff". Poupa-se a indicar quais, com pudor adolescente, enquanto ri. A verdade é que objetos como uma caixa à prova de água para colocar o telemóvel na parede do chuveiro, um aspirador para tirar o pó do teclado do computador ou uma escova de dentes 3 em 1 destacável que é ao mesmo tempo para os dentes, massagedor anti-rugas e um produto de limpeza facial despertam tanto o fascínio como a dúvida razoável sobre se vão ser utilizados.
Dani Martínez, por sua vez, acredita que existe um certo "hodgepodge" na loja e que os artigos são "aspergidos aqui e ali". Mas onde a AliExpress faz a sua aposta mais firme é no segmento de produtos para o lar e cozinha. Desde decoração (com velas e flores de plástico que rondam os três euros) até utensílios de menaje e frigideiras, numa viragem para a solidez da categoria home que também inclui cafeteiras eléctricas por uns 20 euros, torradeiras Philips por pouco mais de 30, umliquidificador de Cecotec ou várias fritadeiras a ar.
AliExpress apresenta alimentos chineses
Llorca coloca a hipótese de que o desenvolvimento do segmento de lar tem a ver com uma tendência que começou na pandemia, quando as pessoas se deram conta de que investir para tornar mais confortável o espaço no qual vivem era importante; e na atual ascensão do mercado da habitação em Espanha. A teoria enquadra-se no contexto geográfico: na periferia de Madrid, onde há muitas casas novas e famílias jovens que se mudam para lá. Se há mais interesse no lar, há em enchê-lo. Ainda que seja com absurdos.
Outro dos aspectos que mais surpreende nas lojas de AliExpress é o seção de alimentação chinesa: uma importante variedade de snacks, bolachas e outros víveres procedentes do país asiático, ao estilo do conceito que faz a Tiger aos produtos dinamarqueses ou do orgulho com o que Ikea luze os aperitivos e doces suecos. Mas não é uma nota regional anecdótica. As letras estão em chinês, as cores são chamativas e os alimentos não são baratos. Não são um 'levo, já que estou aqui'. Por exemplo, uma embalagem de aros de cebolla custa 3 euros, enquanto um pacote de algas Tao Kae Noi supera os 5. "É preciso interrogar-se se a decisão é reclamar o seu país de uma forma amigável. Talvez seja uma estratégia e a AliExpress não só quer mostrar os seus produtos, mas também a sua cultura", diz Llorca.
Desbloquear para comentar