Sete da manhã, o aroma do café chega até a cama. Com um simples "bom dia", as persianas levantam-se, deixando entrar a luz do sol. No decorrer da caminhada da sala até a cozinha, a temperatura começou a mudar, as luzes que iluminam o percurso acenderam de forma automática e o rádio começou a dar as primeiras notícias do dia. Esta é a rotina numa casa inteligente, onde os eletrodomésticos, o aquecimento e a própria segurança da residência se controlam através da voz e uma aplicação no telemóvel. No entanto, há diferentes níveis de automação, e para quase todas as carteiras.
Ainda que a tecnologia necessária para transformar um lar não seja uma descoberta recente, ainda hoje não é comum encontrar casas deste tipo. É verdade que, até recentemente, a opção de manusear dispositivos da casa desde o telefone ou falar com a parede para abrir janelas ou mudar a cor das luzes era uma mordomia reservada para muito poucas pessoas. Mas, pouco a pouco, estas inovações vão penetrando na sociedade, o seu custo dominui e as possibilidades que oferecem parecem quase infinitas.
As possibilidades de uma casa inteligente
Existem duas vias para propor uma smart house. Pode-se construir desde o zero com a integração de uma fiação específica que ligue os cómodos e objetos da casa com um sistema centralizado --ou introduzi-lo com uma pequena reforma-- e inclusive com um sistema de inteligência artificial tão básico como a Alexa, da Amazon, ou o Google Asistant. "É verdadei que muitas pessoas ainda não o concebem como uma realidade, mas quando se planeia a aquisição ou construção de uma moradia pode-se exigir, sem nenhum tipo de problema, uns mínimos de automação ou de dispositivos domóticos para a casa", explica Francisco Javier Fernández Pastor, doutor em Engenharia Informática e professor de Domótica na Universidade de Alicante. "A tecnologia foi dominada e nem sequer custa demasiado dinheiro", acrescenta.
Entre os trabalhos que Fernández Pastor tem levado a cabo, destaca várias melhorias para a casa que passam por todos os âmbitos que se podem ocupar numa casa. Um dos principais consiste na segurança, seja graças ao controle de câmaras em tempo real desde o telemóvel ou a automação dos movimentos de luzes e janelas para aparentar que os residentes continuam no interior da casa quando na verdade estão de férias. Também pode facilitar a vida a pessoas mais idosas ou com incapacidade, pessoas pouco familiarizadas com a tecnologia, que podem dar ordens através dos comandos de voz. E, claro, ajuda a gestão energética, já que a temperatura exacta da residência, as luzes ou a quantidade de água podem-se regular com dois toques de dedo num ecrã. "Tens a poupança e a sustentabilidade da tua casa no bolso", remarca o professor.
Entre preços acessíveis e desproporcionados
A chave para que a domótica aceda a todas as casas passa pelo seu custo total. As vantagens que oferece, ainda que só seja por pura comodidade, estão fora de toda a dúvida. Agora bem, muitas pessoas não estão dispostas a investir uma soma considerável em pequenas melhorias ou no simples conforto. No entanto, há possibilidades para todos os orçamentos. "Por um estudo de 60 metros quadrados pode-se pagar entre 2.000 e 3.000 euros para converter numa casa inteligente", comenta o arquiteto Daniel Ruiz, que dedicou a sua carreira a criar projetos nos quais funde o planeamento das moradias e a tecnologia centrada no lar. o seu trabalho, diz, consiste em "desmitificar que a domótica seja cara".
No entanto, um sistema integrado na própria casa, com várias assoalhadas e que ligue todas as possibilidades atuais que oferecem os aparelhos domóticos, incluídos eletrodomésticos, pode ascender até os 30.000 euros. Mas Ruiz tem a chave para diminuir os custos: a domótica low cost. "Mediante a conexão de dispositivos inteligentes pode-se criar uma casa inteligente sem fazer nenhuma reforma, facto que diminui o preço", revela. "Posso ligar um dispositivo da Amazon com a Alexa a quase qualquer objeto que ofereça conectividade, criando um meio controlado só pela voz", explica.
Quem precisa de uma 'smart house'?
Todas as promessas que sugere uma casa inteligente soam, no mínimo, interessantes. No entanto, à primeira vista, não parece que nenhuma vá mudar a vida dos seus utilizadores. Acender a luz com a voz pode ser cómodo, mas a alternativa, no final, é carregar num simples interruptor. Ou em lugar de manusear a televisão ou o ar condicionado com o smartphone, pode-se fazer com o comando a distância de cada equipamento. Face às dúvidas sobre a verdadeira utilidade deste tipo de casas, responde Ignacio de Ros, professor e especialista de robótica e domótica. "A evolução tecnológica é suave, mas imparável. Veja o caso dos carros: os sistemas de segurança ou a conexão com o telefone já é algo que damos por certo em quase qualquer veículo. E a tecnologia é praticamente a mesma que a que se pode usar numa casa, mas tem mais ressalvas", ejemplifica.
Outro exemplo que propõe De Ros é uma das instalações domóticas mais antigas das casas: o interfone. "Podes baixar até a entrada e abrir tu mesmo a porta, mas vivemos mais cómodos se nos poupamos esse trâmite, verdade? Pois ocorre o mesmo com as casas inteligentes, mas além do conforto, também nos proporciona um controle de despesas e uma boa segurança", enfatiza o especialista em smart houses. Na verdade, os sucessos de dispositivos com inteligências artificiais nas casas, o aumento da conectividade com a internet das coisas e as grandes vendas de Smart TVs prenunciam uma grande aceitação desta tecnologia por parte do grande público.
Os 'hackers' de casas
Do outro lado da moeda, abrir os meandros de uma casa a um sistema centralizado e digital também permite que esses dados possam ser manipulados ou arquivados, seja por uma grande empresa que utilize a informação para gerar big data ou um agente externo que pretenda aceder a este sistema, o que se conhece habitualmente como um hacker. "Não é tão simples como hackear a casa, já que toda a informação é mantida num servidor externo que está na nuvem, não se comunica diretamente com a casa. Além disso, este servidor está encriptado com uma segurança especial; é como se tentassem roubar a tua conta bancária", destaca José Alberto P., fundador do estúdio Idarqhome, especializado na construção e desenvolvimento de casas inteligentes.
Na verdade, o arquitecto e especialista em domótica salienta que, no caso de que alguém conseguisse aceder, não seria tão preocupante como se entrasse num telemóvel, algo que é inclusive mais simples e acessível que o software que controla a casa. "Os alarmes não poder-se-iam manipular, já que funcionam graças a uma parte física à qual não se pode aceder desde a rede. De reste, qualquer um que seja capaz de romper essa segurança iria antes pelas tuas contas ou informação pessoal que pelo teu frigorífco ou pelo teu ar condicionado", conclui José Alberto.