Na hora de planificar uma viagem, saber que meio de transporte será mais eficiente, económico e rápido, pode ser complicado e dar lugar à indecisão. Além disso, o contexto atual também não ajuda, já que nos dias nos quais os preços dos combustíveis estão tão elevados, a opção de levar o carro para uma viagem de fim de semana pode ficar descartada. Aparecem assim outras alternativas mais económicas e sustentáveis para as escapadas. Com essa ideia nasce a Doco Mobility, a nova aplicação integral de mobilidade da Renfe com a qual a empresa oferecerá diferentes modos combinados de transporte, além do comboio, para um trajecto porta a porta e com um único pagamento a partir da aplicação.
"A ideia é oferecer múltiplas opções de transporte de uma forma simples e breve através de uma plataforma aberta e inclusiva", asseguram fontes da Renfe à Consumidor Global. Doco pretende combinar transporte público urbano e interurbano com serviços privados e partilhados. As viagens poder-se-ão planificar e reservar com base nas preferências da cada utilizador e o pagamento poderá realizar-se dentro da aplicação num único pagamento.
Diferentes opções, um só pagamento
O nome da Doco nasce da união das duas primeiras sílabas das palavras onde? e como? Segundo explica Renfe num comunicado, a app "evoca a ideia de oferecer múltiplas opções a todas as pessoas e a sua essência é fazer chegar a qualquer lugar, seja qual seja, da forma mais simples". Para fazer uso da plataforma, será necessário registar-se e introduzir uma série de preferências. Além disso, "os utilizadores poderão selecionar entre a rota mais rápida, a mais económica ou a mais sustentável", acrescentam da empresa ferroviária a este meio.
A Doco Mobility prevê estar disponível para todos os utilizadores no final de novembro. Enquanto isso, a plataforma encontra-se numa fase inicial de captação de early adopters, que serão as primeiras pessoas a poder utilizá-la, já que lançar-se-á de forma gradual. Todos os interessados pode registar-se no site da Doco (www.docomobility.com) e entrar na lista de espera para participar no programa piloto. Segundo contam da Renfe, os modos de transporte com os quais no início poderão se combinar as viagens são comboio de longa e meia distância, cercanias, táxi, VTC e aluguer de motocicletas e scotters. Mais adiante pretende-se incluir metro, autocarro e bicicleta.
MaaS ou mobilidade como serviço
Esta nova aposta da Renfe pelo transporte sustentável e personalizado pretende seguir o modelo MaaS (Mobiltiy as a Service) ou mobilidade como serviço, um conceito inovador em Espanha e que tem a sua origem na Finlândia. "O MaaS é um conceito que nasce quando explode a bolha de serviços de micro-mobilidade dentro das cidades e os operadores de transporte começam a propor um novo modelo que evite que as pessoas tenham que estar a usar tantas aplicações", explica à Consumidor Global Daniela Arias, pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade Complutense de Madrid, membro do Grupo tGIS (Transporte, Infra-estruturas e Território) e especialista em MaaS.
Essa explosão de serviços refere-se à chegada de numerosas empresas de mobilidade e aluguer de scotters, bicicletas ou motos às principais cidades espanholas no verão de 2018. Segundo a pesquisadora, no âmbito académico estabelecem-se três critérios ou funcionalidades que deve ter qualquer serviço que pretenda funcionar como MaaS: "Tem que tratar-se de uma aplicação suficientemente avançada para agrupar todas as opções de transporte, além do maior número de empresas. O pagamento tem que poder-se fazer de forma única e dentro da própria aplicação, sem sair da mesma".
À procura de opções mais sustentáveis
Segundo a perita, no momento no qual deixa de se oferecer alguma dessas funcionalidades, muitas apps que se comercializam como MaaS caem e passam a ser simples agregadores de informação, dos quais sim existem vários exemplos. Por outro lado, em países onde está mais avançado o conceito como na Finlândia existe uma espécie de assinaturas mensais que incluem um número determinado de minutos em cada uma das modalidades de transporte possível (mobility package). É o caso da aplicação Whim, que está em funcionamento desde 2006 e é a única que, até agora, se pode considerar MaaS em base nos critérios académicos dos quais fala a especialista Daniela Arias.
No caso da Doco Mobility, terá que comprovar se, efectivamente, se cumprem essas características. A pesquisadora valoriza de forma positiva alguns dos avanços da aplicação, como é a possibilidade de personalizar os trajetos. "Uma mulher de 70 anos não se move da mesma forma que um rapaz de 15 e que se possa personalizar a viagem é muito relevante, tal como planificar com a rota mais económica, sustentável ou rápida", aponta Arias. Por outro lado, "o objectivo principal destas aplicações é tratar de substituir as viagens de carro, mas sem que as pessoas tenham que ir apertadas num autocarro. O que se pretende é mostrar de forma atraente diferentes modos de transporte para convidar a deixar o carro particular e que isso represente uma poupança nas despesas de gasolina, parking ou seguro", conclui a especialista.