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A crise dos microchips troca os planos dos DJ's: "Não há mesas de misturas nem controladores

As lojas especializadas em som reconhecem a sua falta de stock pela escassez de semicondutores, ainda que esperem que o problema se resolva cedo

Juan Manuel Del Olmo

Um dos DJs dá uma festa com o seu equipamento Pioneer / UNSPLASH

Nos últimos meses, têm problemas. A crise dos microchips deixou mudos alguns DJ's, que não encontram o material para produzir a sua música. No entanto, estes profissionais definem o pulso de uma festa. Têm algo de sensor e algo de xamã, de maestro de cerimónias que decide quando as batidas devem acalmar e quando devem ficar selvagens. á aqueles que ficaram nos anos 80, há os mais inovadores, cheios de tatuagens e de clichés e também capazes de juntar sons como ingredientes numa coqueteleira para oferecer uma combinação de euforia e bom gosto. Há cos apazes de explodir festivais e também de pôr música enquanto as pessoas jantam num restaurante. Mas agora, no entanto, tornaram-se vítimas de um problema mundial.

Como era aquilo de I got 99 problems…? Isto não significa que este verão não vá ter festas de DJ, mas sim que muitos profissionais vão ter que se conformar com os seus dispositivos velhos. A escassez de semicondutores, que afetou a marcas como deaApple ou a Samsung, está mais uma vez a deixar a sua marca.

Não há controladores Pioneer para os DJ's

Rogelio Fernández é um dos responsáveis pela Based DJ, uma loja de som localizada em Málaga. Esta profissional conta à Consumidor Global que no seu estabelecimento não há controladores da marca Pioneer, uma marca japonesa que é das mais respeitadas no universo da música. Na verdade, lidera o nicho de dispositivos electrónicos para DJ's.

Um DJ profissional num evento / UNSPLASH

"Estamos há 5 ou 6 meses sem os ter. Segundo dizem-nos, no mês que vem pode chegar algum, mas já veremos", afirma Fernández, com verdadeiro cepticismo. O ansiado dispositivo "custa 1.900 euros", detalha o responsável da Based DJ. AEm termos gerais o controlador é esse gadget que, junto com o computador e graças aos seus botões, jog wheels, uns quantos cabos, efeitos como o reverb e outros gadgets, permite misturar a música e criar sons atraentes.

"Falta de tudo"

Héctor Carbonell, dono a loja de Alicante BPro Audio Store, mostra-se mais pessimista. "Falta de tudo", explica a este meio. Carbonell, relata, recebe uns 20 telefonemas por dia e passa o tempo "com explicações constantes aos clientes sobre por que estamos nesta situação". Diz que não há nem RX3 da Pioneer nem Prime 4 da Denon, dois dos dispositivos mais potentes do mercado. E as perspectivas são incertas. "Temos orientações por parte dos fabricantes, que dizem que ao longo do verão de 2022 chegarão algumas unidades, mas não há datas exactas de nada", recalça.

Estas ausências prejudicam aos próprios criadores de música. "Isto afecta todas as pessoas. Se precisas de uma equipa maior para crescer, estás lixado", conta Carbonell. "E se te apercebeste de como vai esta crise, e quiseste comprar uma máquina nova, puseste a velha  na Wallapop e ficaste sobrecarregado porque ta compraram em seguida, também o estás, porque não vais ter nem uma nem outra", expressa Carbonell, com um riso rouco, um pouco de tragicomédia.

Várias pessoas numa festa / PEXELS

Subidas de preço e ascensão do mercado de segunda mão

Salvador Carol é um dos afortunados que conseguiu obter o equipamento que queria, mas também não lhe resultou fácil. "Eu pedi a controladora da Pioneer em julho de 2021, e não me chegou até finais de janeiro de 2022", realça. Primeiro disseram-lhe que a espera seria de umas poucas semanas, mas prolongpu-se, como um desses temas que já se voltam cansativos. Além disso, Carol diz ter ficado chocada por a Pioneer, durante os últimos meses, ter apresentado modelos novos "sabendo que não os podiam vender por causa da crise dos microchips".

Outra dor de cabeça é o preço. Carol lembra que, quatro meses após comprar o seu artigo, o preço do mesmo subiu quase 200 euros. Face a este panorama, segundo revela, produziu-se uma ascensão do mercado de segunda mão, no qual as máquinas de há 4 ou 5 anos vendem-se por mais do que o seu preço original.

Uma mulher 'brinca' num bar de praia / PEXELS

Um ano de atrasos

Encarni, da DJ Manía, reconhece que este problema "é algo generalizado". Se alguém vai ao site desta empresa e procura a RX3 da Pioneer, pode levar um susto ao ler que a entrada estimada em armazém está prevista para o dia 29 de agosto. Esta profissional indica que os fabricantes têm assegurado que chegar-lhes-ão os produtos, "mas não o sabemos". Os clientes ligam-lhes todos os dias com um ponto de interrogação nos seus lábios. "Pessoas a fazer perguntas, que tenta encontrar alternativas, a tentar reservar…", diz.

José Miguel Guevara, da Plastic Shop, uma loja com sede em Barcelona que também vende on-line; acrescenta mais dramatismo à banda sonora das ausências. "É horroroso, nós começamos com problemas deste tipo desde julho de 2021. De facto, já avisamos da subida de preços que no final chegou", comenta. "Devemos máquinas a pessoas que as comprou em setembro, ainda que agora começam a chegar, mas o fazem a conta-gotas", indica.

Um equipamento para misturar música / PEXELS

Também não há chips para reparar

Este profissional também está surpreendido que a falta de disponibilidade se alongue tanto. Parece-lhe compreensível que em 2021, depois da pandemia, houvesse contratempos, mas acha que o de agora é "uma barbaridade". Além disso, segundo descreve, têm "discotecas em espera. Se a eles se lhes estragaram o equipamento e levam-o à reparação técnica, também não o podem consertar, porque não há chips em nenhum lado", argumenta.

A única via é alugar o que há, reservar para um futuro impreciso e aguardar. "Há pessoas que estão desesperadsa, porque agora começam todos os eventos", acrescenta Guevara. Ainda que, para não cair no pesimismo, se pode lembrar o que dizia Swedish House Máfia: Dom't you worry, dom't you worry, child, See heaven's got a plano for you.