Conforama e a sua garantia indescritível que indigna muitos consumidores

A empresa de móveis e acessórios para o lar brinca distraidamente com alguns dos seus compromissos com o cliente, que se queixa de atrasos e desculpas

Cartaz numa loja da Conforama / FLICKR BAJO LICENCIA CC BY-SA 2.0
Cartaz numa loja da Conforama / FLICKR BAJO LICENCIA CC BY-SA 2.0

Um sofá para ver Netflix ou HBO Max e deixar que a vida passe nos domingos, um colchão no qual descansar bem, um escritório sobre o qual trabalhar que transmita robustez… são mais que móveis. São objetos nos quais passamos horas e horas dão vida a um casa. E a Conforama é uma das empresas que mais artigos deste tipo vende na Europa, onde tem mais de 300 lojas. No entanto, nem tudo é conforto nem paz quando se trata desta marca.

Muitos clientes e consumidores queixam-se de que estes móveis se estragam ao fim de dois ou três anos, e declaram que, nesse momento, é impossível contatar com a empresa para usar a garantia. Outros denunciam nulo interesse por parte da empresa em solucionar os problemas ou diferenças de critério entre a loja física e a on-line.

Cinco meses de espera para um pedido da Conforama

Nas redes sociais, as queixas são frequentes. Patricia Alcántara, por exemplo, denúncia que esteve "14 semanas à espera do seu pedido" da Conforama. A empresa, no entanto, não lhe tinha especificado nenhuma data de entrega "por falta de stock". Enquanto isso, outros optam por pedir o livro de reclamações porque "o sofá ficou com as bolas dois meses depois de comprá-lo", como aponta Francisca Guerrero.

Una pareja compra online / PEXELS
Um casal compra on-line / PEXELS

Os tempos de espera podem ser uma dor de cabeça. E Daniel C. relata à Consumidor Global que comprou um sofá na Conforama que, a priori, chegava em três semanas. "Depois, ao olhar no site, aparecia-me que demoraria mais um par de meses", explica. Passado esse período de tempo, o sofá também não chegou. O site voltava a recolher uma demora. "No final decorreram 4 ou 5 meses, e como o sofá não chegava, pedi que me devolvessem o dinheiro. E também nem isso cumpriram no prazo que prometia o site", expressa o afetado.

Falhas no atendimento ao cliente

O pior, sob o ponto de vista de Daniel C., foi o atendimento ao cliente, com uma operadora "que como não sabia que responder, dizia a primeira tolice que se lhe ocorria. Tentou convencer-me de que tinha pago com cartão de crédito e de que o prazo era mais longo. Eu tinha claro que tinha pago com cartão de débito", explica.

No final, este utilizador optou por escrever um tweet no qual expunha a sua situação e foi então quando Conforama sim actuou. "Após a minha publicação correram a devolver-me o dinheiro", conta.

Un sofá de color verde / PEXELS
Um sofá de cor verde / PEXELS

Uma garantia de cinco anos duvidosa

Hernán G. teve uma experiência semelhante. Comprou um sofá na Conforama e contratou a ampliação de garantia até os cinco anos. "Recém cumpridos os três anos, em pleno confinamento, a pele começou a descascar e rachar. Disseram-me que era pelo uso e que isso não estava coberto pela garantia. Depois de apresentar uma reclamação, enviaram-me um perito, que veio 'ver que os danos não tinham sido feitos por um animal', ou algo assim", detalha este afetado.

No entanto, o relatório do perito "expunha que os danos, com atritos indevidos, eram acidentais e não cobertos pela garantia". De modo que teve que manter um sofá em garantia "que continuava a descascar" e em pouco tempo se desfez dele. Já não reclamou mais. "Ia levar-me mais trabalho que o que pudesse obter", afirma.

Peritos que varrem para casa

Fernando Longoria, advogado no despacho Bufete Giraldillo, reconhece que os peritos da empresa muitas vezes "varrem para casa", e que contratar um externo é caro em tempo e dinheiro.

El sofá rasgado de Hernán / CG
O sofá rasgado de Hernán / CG

"Para solucionar estas coisas, às vezes, é preciso ir à versão de um perito externo que exponha a sua postura face ao da empresa, e que um juiz escolha a versão mais credível", detalha.

A Conforama defende-se

Depois de contatar com Conforama e informá-la destas críticas e queixas por parte de alguns dos seus clientes, a empresa argumenta que "trabalha cada dia para oferecer o melhor produto ao melhor preço, bem como um serviço excelente". Além disso, insiste que toda a sua comunicação e propostas de valor "cumprem estritamente com a legalidade".

Por outro lado, apontam que analisam a opinião dos clientes "de forma recorrente" e que fazem parte da Associação Espanhola de Anunciantes. "Como em qualquer companhia, devido ao volume de clientes / operações, pode have uma excepção pontual que deverá se analisar", realçam.

A responsabilidade do comprador

As discordâncias com respeito à garantia, a julgar pelos comentários, deixam os compradores muito irritados. No Twitter, Eduardo Lobo detalha que tentou trocar uma scooter poucos dias após a compra, mas que se negaram a lhe devolver o dinheiro. "Nenhum responsável dignou-se a vê-lo", realça.

Un repartidor entrega unos paquetes / PEXELS
Um entregador entrega uns pacotes / PEXELS

"Têm um nariz em que pisam", escreve também Nacho A. nesta rede social. "Comprei um sofá e há um mês que se rasgando o tecido por nos sentarmos a ver a televisão. E dizem-me os da Conforama que não entra na garantia por mau uso!", protesto. Enquanto, María B aconselha não contratar "nunca" a garantia Conforama plus e Olaia Elgorriaga qualifica o serviço pós-venta de "nefasto".

Os detalhes não estão bem especificados

A Consumidor Global pôs-se em contato com um ex-funcionário da empresa que prefere preservar a sua identidade e usar o pseudónimo Valm. Da sua experiência, este antigo empregado reconhece que as queixas dos utilizadores são justificadas, ainda que lembra que a garantia estendida não é o mesmo que um seguro e que não cobre o desgaste pelo uso.

"Uma extensão de garantia não te cobre nada. É como se o fabricante, em vez dos 3 anos por lei, te dá 5, mas unicamente cobre os defeitos de fábrica. Os desgastes pelo uso nunca estão contemplados", detalha. Sob o seu ponto de vista, muitas vezes o cliente "ou não se inteira, ou o vendedor não lho quer explicar, porque assim atinge um objectivo". Por isso, diz, o importante é que ao consumidor esteja bem especificado o que cada serviço faz e não cobre.

Varias personas revisan un contrato / PEXELS
Várias pessoas revêm um contrato / PEXELS

Informação vaga sobre determinados serviços

Outro entrave da Conforama está nos problemas de stock. Julia S. explica que ela previa se mudar, e foi a uma loja da empresa onde lhe disseram que, a partir de 500 euros de compra, o envio era grátis. "Ainda não nos tínhamos mudado e íamos justos de tempo, de modo que decidimos esperar", afirma. Cinco dias depois regressou, e então disseram-lhe que o envio custava 35 euros.

"Comentei-lhes que me tinham dito que era grátis e me soltam depois que não, que isso era a semana anterior. Não se lhes ocorreu dizer-me que se acabava essa oferta, nem sequer nos disse que era uma promoção temporária", assinala. Além disso, acrescenta, na loja pretendiam cobrar-lhe outros 35 euros pela montagem, que não é opcional. O advogado Longoria acha que, nestes casos, o importante é que a informação apareça de forma clara para que não haja equívocos.

Una mujer monta un mueble / PEXELS
Uma mulher monta um móvel / PEXELS

Promoções falsas

De igual modo, às vezes as promoções podem resultar enganosas. Valm explica que, para fazer folhetos ou mudanças de preços para ofertas, na Conforma lhes diziam "que o preço riscado devia ser o preço máximo que tinha tido o artigo no histórico dos folhetos". Como novo preço, deviam pôr "algum que não fosse muito cantoso". E inclusive às vezes, prossegue, "diziam-nos que simplesmente deixássemos o preço normal como se fosse o da oferta. E o preço riscado, o mais alto que tivesse tido".

Segundo o advogado Longoria, muitas empresas utilizam estas artimanhas. "Isso faz-se e se sanciona", admite. A chave para determinar se é legal ou não, esclarece, reside em se a empresa emprega a palavra promoções ou oferta. Se usa a segunda, a táctica seria legal, pouco ética, mas legal. Pelo contrário, sublinha, as promoções são submetidas a uma regulação específica. "E o que também não se pode fazer é publicidade ou publicidade chamariz. Isto é, anunciar ofertas que depois não estão na loja, mas como o cliente já está ali, fica olhando e igual se leva algo", conclui.

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