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O desespero de vender na Amazon: tudo o que não te contam
Vários vendedores mostram-se desesperados ao ver como o 'marketplace' lhes fecha a conta "sem motivo" e os seus negócios entram em colapso
A Amazon está bem longe de ser o novo sonho americano. Muitos clientes do gigante norte-americano têm sofrido atrasos nas entregas, reembolsos que não chegam, milhares de correios e telefonemas sem resposta, e até mudanças, um problema cada vez mais habitual. Mas há pessoas que sofrem mais que isso: os vendedores. E alguns afirmam estar desesperados. Vender na Amazon não é tão fácil como alguns pensam.
"vendem-te o conto de que vais ficar milionário a vender na Amazon, e não é assim", alerta um internauta num forum de internet. Outros queixam-se no Trustpilot do mesmo. "As taxas lixam-te", queixa-se um utilizador. E no forum criado pelo próprio marketplace para os seus vendedores, muitos afirmam que lhes fecharam a sua conta e de que ninguém lhes sabe dar uma explicação.
Encerramento de contas e cobranças inesperadas
"A Amazon cancelou a nossa conta de Seller e não sabemos o motivo. Contactamos com eles várias vezes, mas não se soluciona", lamenta um vendedor. Na mesma linha, a HP Beauty Products explica que abriu uma conta há meses e que de seguida lhe desativaram as contas europeias, mas na notificação "não aparece o motivo. Estou preso num loop", expõe. "A mim aconteceu-me o mesmo. A minha conta está desactivada por um motivo sem especificar. Estou desesperada", queixa-se uma vendedora no mesmo tópico.
Também há vendedores que afirmam que cancelaram a assinatura e lhes continuam a cobrar a mensalidade. Alguns, sem sequer terem chegado a vender nada no marketplace. "Há algum tempo que estamos a tentar vender na plataforma. Ativaram-nos a conta e depois suspenderam-na sem motivo. Enquanto nisso cobraram-nos a mensalidade", reclama Estrela Vega no forum do gigante norte-americano, onde as denúncias referentes ao encerramento de contas e cobranças inesperadas se sucedem uma atrás da outra até 2022. Alguns particulares também sofreram este problema depois de realizar várias reclamações à companhia por pedidos incompletos ou em mau estado.
Histórias para não dormir
Ainda que possa resultar surpreendente, "têm uma política de cuidar mais do cliente que do vendedor", afirma o diretor do Mestrado de eCommerce de IEBS e CEO da Serendipia Agency, David Morán.
"Há histórias para não dormir", acrescenta à Consumidor Global. Morán explica que a empresa "comete muitas falhas", ainda que no geral se possam solucionar pondo-se em contato com a mesma.
Descadastrar-te em Amazon não é uma prioridade
"Bloquearam-nos a conta porque associam-na a outra, e nós não temos nada que ver com essa outra conta", é uma queixa recorrente entre os vendedores.
O tema das contas que se descadastram sem motivo aparente "costuma ir sócio à automação", aponta a coordenadora do mestrado em Gestão do Customer Service Experience, Retail e E-commerce da Universidade de Barcelona (UB), Michele Girotto, quem expõe uma realidade que se pode fazer extensiva a muitos outros sectores: "cadastrar-te é fácil, mas descadastrar-te é mais complicado. Não é prioritário para eles descadastrar".
As temidas comissões
"Expremem-te como a um limão", "só ganham eles" ou "ficam com o teu dinheiro" são algumas das centenas de comentários dos vendedores na Rankia, Trustpilot e outros foruns sobre as condições que exige a maior montra do mundo.
Em média, as comissões que cobra o marketplace aosseus vendedores estão entre 12% e 15%, mais IVA. Também cobram por gerir os envios, como é lógico, e uma mensalidde de 39 euros mais IVA para ter uma conta profissional. Claro, as devoluções e reembolsos também são a cargo do vendedor. Além disso, "tens que pagar para fazer publicidade no seu site, já que, se não o fazes não te encontra ninguém", enfatiza o consultor especialista em e-commerce, Jordi Ordóñez.
O que aconteceu com a margem do negócio?
Na Amazon "há vendedores que estão a vender grátis", expõe à Consumidor Global a fundadora da DNA Academy e especialista em e-commerce, Anna Adolfo, que afirma que até 50% dos vendedores trabalham com menos de 3% de margem. "Obviamente, têm uma posição de força e colocam as condições", acrescenta.
Abusa o gigante da sua posição dominante? "Assim é", aponta Ordóñez, que dá o seguinte exemplo. Se vendes um produto de 100 euros em electrónica, a comissão que te cobra são 15,45 euros. Pode ser que tenhas gastado 20 euros em publicidade para efetuar essa venda e que o teu produto esteja na sua logística, pelo que cobrar-te-iam (por exemplo) 3,5 euros mais pelo envio. "Muitas pessoas não têm em conta tudo isto por desconhecimento, e quando por esse pedido lhes chegam 61,05 euros por aquele pedido do qual têm que deduzir o valor que pagaram pelo produto e pagar impostos, ficam surpresos", explica o especialista.
O Google dos produtos
Os especialistas explicam que a Amazon não deixa de ser um grande motor de busca que funciona por palavras-chave e um bom posicionamento. "É o Google dos produtos e para que vejam os teus produtos há que investir no seu sistema de publicidade interno", explica Morán.
Quando num artigo diz recomendado "há um custo de publicidade por detrás", aponta Adolfo. Há casos tão exagerados como o que expõe Ordóñez: "Hoje estava a ver a conta de um vendedor que por captar uma venda através da publicidade da Amazon estava a gastar 2000% do que valia o produto".
Vender na Amazon e que saia rentável
Todos os especialistas concordam em que antes de se pôr a vender nesta plataforma é importante conhecer os diferentes planos que oferece o marketplace e os custos que implicam, e fazer um cálculo das margens para ter uma ideia da possibilidade de negócio real.
"Deves ter produtos muito rentáveis e trabalhá-los bem para que tenham visibilidade, se não, o que te cobram por estar na Amazon comer-se-á os teus lucros", alerta Adolfo, que reconhece que o tráfico que oferece é inagualável. Também é valioso fazer testes piloto com os produtos e ter certa flexibilidade de catálogo. "Custa muito para começar e não vamos dizer obter rentabilidade. Além disso, requer investimento e conhecimentos, pelo que a opção mais segura é introduzi-lo com a ajuda de profissionais", diz Morán.
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