Após os sapatos feitos a partir de pele de peixe, de bambu ou inclusive de cactus, chega a vez aos primeiros ténis feitos com uva da mão da jovem companhia maiorquina de calçado Yuccs e que respondem pelo nome de Grape Casual. "Cada vez mais, os fabricantes começam a introduzir outros materiais para a confeção de calçado, tudo relacionado com a reutilização, reciclagem e sustentabilidade. São alternativas às peles naturais, e pouco a pouco são mais comuns no fabrico", aponta Josep Maria Güell, responsável pela Stil&Peu, uma empresa especializada na venda de calçado específico para pessoas com pés delicados.
"Isto só está a começar, mas é verdade que tem aumentado a procura do público deste tipo de materiais de origem vegetal", acrescenta Güell. "Por outro lado, está o tema dos custos, há que ter em conta a que preço podemos vender este tipo de calçado e se o público está disposto a pagar. Existem mais pessoas conscientes da sustentabilidade, ainda que seja mais caro", destaca o sapateiro que assinala que também há que estudar até que ponto são sustentáveis atendendo a sua durabilidade e resistência. Então, estes tenis de 115 euros valem a pena ou são somente um truque?
Como se fabricam
Segundo a empresa, durante o processo de vinificação do vinho, os resíduos de produtos como peles, sementes e caules de uvas são reciclados, tratados e combinados com resinas vegetais para produzir um componente amigo do ambiente para o couro. "Além disso, para este novo material utiliza-se 50% menos de água que os materiais convencionais derivados do petróleo", destacam à Consumidor Global fontes da Yuccs.
É que, a ligação de Espanha ao setor vinícola é inquestionável, pois o país é um dos grandes produtores de vinhos. No ano passado, esta indústria produziu 35,5 milhões de hectolitros de vinho, que geram grande quantidade de resíduos que estão a ser recolhidos pelo setor têxtil. "Este modelo inclui um forro de lã merino e a sola de cana de açúcar foi retida para conforto, presente nas colecções Casual da empresa. A sola proporciona importantes benefícios, que repercutem directamente numa maior durabilidade do calçado, bem como uma total comodidade e segurança ao andar", realça a companhia.
São realmente sustentáveis?
"É um material vegetal que se ia deitar fora e estamos a fabricar um tecido com o qual se substitui materiais sintéticos. De início tudo parece vantagens. Isso sim, os impactos ao meio ambiente devem ser medidos e ser compensados em todas as produções", assinala Claudina Romero, especialista em moda sustentável e economia circular no setor têxtil. "Depende também de como se fabrica, de qual é a sua durabilidade, porque se te dura menos tens que fabricar mais, e talvez não seja tão sustentável", aponta.
A especialista também insiste em que um calçado feito com materiais sustentáveis não significa sempre que venha de um modelo de negócio sustentável. "Há que saber diferenciar isso. Há que ter em conta os lugares onde se fabricam os seus produtos e as condições laborais", destaca. "Cada vez há mais pequenos projectos que apoiam o uso de materiais sustentáveis pelo que se propicia a investigação. Com a investigação saem novos materiais. Mas alguns, às vezes, no seu fabrico gastam muita electricidade ou muita água ou emitem determinados gases", diz Romero.
Os especialistas não encontram vantagens
Apesar de que Yuccs afirma que são "os ténis mais cómodos do mundo" e leves –pesam, aproximadamente, 250 gramas–, que proporcionam "uma alta adaptabilidade à forma do pé, evitando assim a frição", os especialistas não destacam que o material realizado com a pele de uva tenha claras vantagens para o consumidor.
A coleção foi lançada em três cores unisex: White, Full Black e Full Navy. E para o Outono, a linha será expandida com as cores Full Khaki e Full Chocolate.
Já em Madrid e em breve em Barcelona
Por último, convém destacar que a marca maiorquina de ténis enfrenta o outono com as melhores perspectivas. Na sexta-feira 9 de setembro foi inaugurada a sua primeira loja em Madrid, à qual seguirá no final de ano um novo estabelecimento em Barcelona.
"Dever-se-ia de propor outro tipo de consumo que minimize o impacto negativo no meio ambiente", insiste Romero que considera que "pouco a pouco somos mais conscientes do importante que é cuidar do nosso planeta".