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Central Lechera Asturiana e as tampas que precisam de instruções: "É mais fácil ordenhar uma vaca"
A empresa muda o desenho dos seus briks para cumprir com Lei Europeia de Resíduos e muitos consumidores indignam-se
"Girar, abrir, servir e clique". São as quatro palavras-chave que a Central Lechera Asturiana quer que os seus clientes lembrem e gravem a fogo. E nessa ordem. O fabricante de produtos lácteos converteu-se nestes dias no alvo de muitos clientes que não hesitaram em atacar a empresa por "arruinar os pequenos-almoços". Tal como a Coca-Cola, Asturiana mudou o desenho das suas embalagens (fabricadas pela Tetra Pak) para cumprir com um novo regulamento europeu sobre resíduos.
Mas, como todo a mudança, são muitas as pessoas que tiveram problema com estas novas tampas e acabaram por arrancar o plástico ao tentar abrir sem sucesso a embalagem. E isso que o funcionamento, a priori, parece simples: "Basta girar a tampa para a esquerda, no sentido contrário aos ponteiros do relógio, e levantá-lo para poder verter o leite no recipiente. Para fechá-lo, só há que pressionar para que o botão clique", conta a Central Lechera Asturiana.
Indignação entre os utilizadores
Mas estas instruções e até um vídeo explicativo sobre como abrir a embalagem não evitaram o alvoroço que se gerou entre todos os utilizadores que foram ao Twitter para mostrar a sua indignação. O músico James Rhodes foi um dos primeiros a iniciar o debate e chegou a qualificar as novas tampas de "cvergonhoso trabalho de engarrafamento". Para Diego Soto, outro utilizador, "é mais fácil ordenhar uma vaca", e Eloy Segura pensou que era "o único tolo que não os sabia utilizar".
Muitos outros asseguram que mudarão de leite ou que nunca voltarão a comprar Central Lechera Asturiana "até que voltem a utilizar os de sempre". Mas a verdade é que, mais cedo ou mais tarde, "ao consumidor não lhe vai ficar outro remédio que adaptar-se a este sistema", diz Andoni Uriarte, director técnico da plataforma Recircula e ex-presidente da Associação Espanhola de Recicladores de PET.
Isto ye INSUFRIBLE ye impossível ser feliz ye absolutamente impossível pic.twitter.com/wpalvxcjdo
— David (@davidfesoria) October 25, 2022
"Um esforço no início"
É que, segundo a nova lei, em julho de 2024 todas as embalagens terão que ter a tampa selada para reduzir o impacto ambiental dos plásticos. Isto significa que, por muito que os clientes sintam nostalgia das tampas clássicas, terão que se familiarizar mais cedo ou mais tarde com o novo sistema.
Sobre a comoção gerada nas redes sociais pela mudança das tampas, o responsável por Comunicação da Central Lechera Asturiana, Manuel Reinerio, reconhece à Consumidor Global que esta mudança requer "um esforço no início", mas que a recompensa é maior porque "estamos todos a fazer a nossa parte para lutar contra o desperdício". Por sua vez, Marina Sánchez, da Tetra Pak, o fabricante das embalagens, admite que "alguns consumidores estão a ter dificuldades para se acostumar, mas é importante entender o porquê da mudança".
Inovação ou cumprir a lei?
Tanto o fabricante de embalagens como a Central Lechera Asturiana não deixaram de anunciar o seu compromisso com o meio ambiente e a redução de resíduos quando na verdade, e como eles mesmo reconhecem, só cumprem com o regulamento. "Somos os primeiros a inovar e comprometer-nos com a reciclagem, de facto, adiantámos-nos dois anos à lei", acrescenta Reinerio.
Andoni Uriarte, da Recircula, critica que estas grandes empresas aproveitam a situação para fazer greenwashing: "Não é inovação, só cumprem a lei e aproveitam para se mostrar sensíveis com o meio ambiente". Este regulamento é motivado pelo impacto das actividades industriais no meio natural e, mais especificamente, da imensa quantidade de tampas soltas que apareciam nos mares. Por seu lado, Marina Sánchez, da Tetra Pak, conclui que estas novas embalagens requerem um investimento importante em tecnologia e em design e confiam em que "os clientes se adaptem cedo às novas mudanças".
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