A canção de abertura de Oliver e Benji, a mítica série de anime , dizia que as duas estrelas "somente jogam para ganhar, mas sempre com deportividad". Disso estava feito o espírito que forjou muitas paixões futboleras na infância: competitividade desde a ilusão e a diversión mais genuina. Mas correm tempos de pouca deportividad para os aficionados ao futebol. E não só porque em poucos meses se vá jogar um mundial em Qatar, pelos problemas técnicos com DAZN ou pela subida de preço dos abonos, sina por algo mais pequeno e elementar: os cromos. Com as tarifas de sobre-los de LaLiga, Panini tem provocado o cabreo de muitos aficionados.
No ano passado, o preço do sobre era de 0,80 euros, e neste ano tem subido a 1 euro. No entanto, dantes o sobre continha seis cromos, e agora são oito, de modo que, em realidade, resulta mais barato que a campanha passada (de 0,133 euros a 0,125). Mas, se olha-se com mais perspectiva, a ascensão é preocupante: sobre-los de une-a vendidos por Panini têm passado de custar 0,24 € na temporada 2001-02 a um euro na 2022-23, um aumento do 320 %. Assim, muitos pais que desejam inculcar a paixão dos álbuns a seus filhos ficam em fora de jogo.
Entre a tristeza e o cachondeo
Em redes sociais, o cabreo é o sentimento generalizado pela decisão de Panini para a temporada 2022/2023, mas também há quem lho tomam a cachondeo e apontam que a inflação já serve de desculpa para tudo. "Os cromos vêm de Ucrânia", caçoa um utente em Twitter. Aytami Arbelo está na equipa dos que não lho toma a riso. "Neste ano, ao menos em redes sociais, tenho visto um verdadeiro boom de todas as idades quanto aos cromos de futebol, e me entrou o gusanillo interno de reviver os tempos de menino nos que sim me interessava bastante e os coleccionava. Levava anos sem coleccioná-los, quiçá 15", conta a Consumidor Global.
Sua motivação era, sobretudo, nostálgica, mas os preços têm-na cercenado: "Lembrança que, quando de menino meus pais me mandavam a comprar algo à loja, com as sobras me podia permitir um ou duas sobres, já que custavam aproximadamente 30-35 céntimos a cada um, e assim ia completando a colecção". Mas a dia de hoje, acha que o preço é "uma barbaridad". Neste meio acercámos-nos a alguns quioscos para saber que pensam os que levam toda a vida vendendo cromos. Num da madrilena rua Atocha, junto à praça de Antón Martín, o quiosquero conta que agora "todos os cromos coleccionables valem um euro". Não o diz com resignação nem com pena, sina como um facto inamovible.
A falta de Messi e Cristiano afecta a LaLiga
Este quiosquero não tem notado, por enquanto, um descenso nas vendas de cromos, mas admite que pode ter algo menos de interesse, ainda que não seja pelo preço. "LaLiga não é o que era. Dantes todas as crianças queriam o cromo de Cristiano ou de Messi , e agora essas figuras não estão", relata.
Juanjo Larramona começou a coleccionar cromos de futebol em 1981. "Naquela época, um sobre dos de cartón custava cinco pesetas. Os de Panini eram de pegatina e valiam 10 pesetas. Em 40 anos, o preço multiplicou-se por 16. Neste período de tempo, é evidente que os salários não têm subido tanto, nem muitíssimo menos", expõe. Ademais, acha que, ainda que este ano sejam mais baratos com respeito ao ano passado, os da 2020-2021 eram bem mais grandes. "Sim, metem mais dois cromos, mas não é o mesmo pagar 80 céntimos inesperadamente que um euro. Acho que uma vez que se chegou ao euro, não baixar-se-á de ali", arguye.
Dos meninos aos maiores
Pese a tudo, o projecto de Larramona é em longo prazo. "Todos os anos compro os álbuns. Se tenho tempo e disponibilidade, faço a colecção até verdadeiro ponto, mas penso que no dia de manhã, quando esteja aposentado, poder-me-ei dedicar a meus hobbies e conseguir acabar todas as que vou deixando a médias", assinala. Seu caso quiçá reflita uma tendência: um coleccionismo que deixa de ser para os mais pequenos , que, ademais, têm mais estímulos. "Em médio prazo, se não há uma mudança, o cromo mantê-lo-á a gente maior, e não os meninos, porque não poderão lho permitir", raciocina este experiente.
Algo similar opina Jesús Ignacio, um apasionado de Santander que recorda que suas primeiras colecções de LaLiga de Panini "eram lá por 2005-2006, e os sobres tinham um preço entre os 50 e os 60 céntimos". Em Santander, relata, na praça Pombo existe o costume de ir nos domingos a mudar cromos das diferentes colecções que se fazem, e além de trocar se pode comprar "Os especiais, que não saíam nunca nos sobres, eram 10 ou 20 céntimos", indica. Isto é, no mercado secundário, até as rarezas eram asequibles. "Proponho-me fazer o álbum todos os anos porque gostava muito coleccionar dos cromos e quero o retomar, mas vejo que é algo carísimo", conta.
O preço multiplica-se por 5 em 25 anos
A julgamento de Jesús Ignacio, a facilidade de Panini para subir o preço explica-se por sua falta de concorrência. "Se queres fazer cromos de cola de toda a vida, só tens esses, a alternativa são as cartas Adrenalyn que sempre foram mais caras pelo material. Multiplica oito cromos a um euro pelo número de sobres que são necessários para completar a colecção, e lhe soma um 40 % (atirando pelo baixo) de cromos que vão sair repetidos. O dinheiro que custa fazer uma colecção é inaccesible para muitas famílias", denúncia. Neste sentido, Larramona calcula que, para completar o álbum, seria necessário investir uns 200 euros.
Tal e como indicou o pronosticador profissional de futebol Josemmabet em sua conta de Twitter, "Panini tem multiplicado seu preço por mais de 5 em 25 anos. Na temporada 94/95, um sobre de cromos valia 25 pesetas (0,15 euros). Na temporada 19/20, um sobre custava 0.80 euros". Isso expulsa aos participantes. "É algo que tem passado de ser um jogo de menino que não supunha um esforço a uma mordomia. Acho que poucas famílias poderão permitir-se completar o álbum e gastar esse dinheiro, e mais se tem-se em conta que, normalmente, depois teria que comprar o álbum, que supõe outra despesa extra. É uma pena", sublinha Arbelo.