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Cuidado com a Black Friday: o consumo na internet, mais compulsivo que nas lojas físicas

Poucas semanas antes do início da campanha de Natal, especialistas analisam as mudanças de hábitos dos compradores espanhóis

Marta Peiro

Uma pessoa faz uma compra online num e-commerce / PIXABAY

Aproxima-se a Black Friday e muitos consumidores preparam-se para não perder os melhores descontos. Este dia chega a colapsar a venda on-line na última sexta-feira de novembro. No entanto, parece que a compra compulsiva não só está unida a esta data, mas também ao próprio conceito de comércio electrónico. Propícia internet um consumo mais intenso que as lojas físicas?

"Sim, a internet é um importante terreno fértil para a compra compulsiva", afirma Ignacio Hurtado Witailer, diretor geral da Witailer em Espanha. "Nas lojas on-line, como Amazon, o teu cartão está guardado, de forma que com apenas dois cliques compras o produto", explica o director desta agência digital que dá consultoria, tecnologia e soluções de Business Intelligence para o lançamento de marcas na Amazon e outros marketplaces.

Um boom imparable

Ainda que com o tempo muitos negócios tradicionais tenham-se inscrito na Black Friday para fazer o seu agosto, este foi criado para o comércio on-line. Em 2021, "80%" das ofertas vão ser on-line, afirma Jorge González, country manager da Prestashop em Espanha. A verdade é que, independentemente desta data, o comércio electrónico parece ter aberto um espaço definitivo na vida do consumidor.

Um cliente que olha casacos num portal de internet / PIXABAY

Ainda que "a euforia on-line inicial que ocorreu com a pandemia tenha sido revertida, a tendência é ir on-line", afirma Miquel Baixas, fundador da Escola Novos Negócios. Segundo Baixas, trata-se de um setor que "leva 20 anos sem parar, com um crescimento aproximado de 10%". "A compra on-line sofreu um travão importante, as pessoas gostam dos supermercados e das lojas de proximidade, mas há grande fidelização: muitas pessoas ficaram nos e-commerce", declara Hurtado. "O tempo que o utilizador passa no shopping diminuiu porque ele já sabe o que comprar", acrescenta.

Mais informação

De facto, uma das vantagens do comércio digital é a quantidade de informação que o consumidor pode saber sobre os produtos. "Numa loja o utilziador muitas vezes sabe mais que o próprio vendedor, porque procurou referências, comparativas", comenta Baixas. "A capacidade de consultar preços, alternativas e opiniões de uma forma simples e rápida é uma vantagem dos negócios digitais. Está tudo empacotado num único lugar com um clique", afirma Sergio Marcús, especialista em venda e marketing on-line.

Pelo contrário, as lojas de bairro aferram-se ao seu valor acrescentado: o trato pessoal. "Uma loja on-line que seja só um mostruário não tem a mesma força para o consumidor que um negócio local. Precisa que haja pessoas, vídeos, directos… presença e trato humano", sustenta Baixas. "As pessoas têm uma necessidade agora de se sentirem mais vivas, de estarem com pessoas. O que lhe falta no e-commerce é poder tocar os produtos", afirma Marcús.

O crescimento, em dados

Estas vantagens fazem com que os e-commerce estejam a aumentar em Espanha. "Antes da pandemia, havia cerca de 13 milhões de compradores em Espanha. Com o confinamento passaram a ser 14", diz González. Segundo o diretor da Prestashop, o crescimento do setor no ano passado rondou os 36%. "Agora continua a crescer, face a 2020 deve estar em torno dos 10-12%, o que em comparação com o ano anterior represnera um crescimento impressionante", destaca. Ajuda que, tal como indica o especialista, "30% dos consumidores que começaram a consumir on-line com a pandemia continuem on-line; o setor está a vender mais".

Uma pessoa realiza uma compra on-line / FREEPIK
 

"No ano passado, Espanha foi o país europeu que mais cresceu no comércio electrónico", sublinha Hurtado. E neste terreno, a Amazon é a jóia da coroa. "Em 2020, este Marketplace representou 15% do comércio electrónico", assinala. E esta tendência continua a aumentar. "Entre agosto de 2020 e agosto de 2021 há mais pesquisas, as pessoas entraram mais na plataforma e têm procurado mais", afirma o especialista da Amazon. Isto "é muito notório e é um sinal de que a Amazon e os e-commerce vieram para ficar", manifesta.

O consumidor mudou

Para além disto, os hábitos do consumidor têm variado. "Muitas pessoas olham o produto fisicamente, tira o seu telemóvel e compara on-line, o que se conhece como ROUBO ou ROPO em referência a Research On-line Buy/Purchase Off-line", afirma Marcús. "Chegaremos a um ponto de compensação no qual algumas coisas ficarão on-line e outras off-line", acrescenta. "Os consumidores são como anfibios, tanto estão na internet como fosse: vêem o produto e tomam a decisão de compra pela internet , e vão à loja off-line", manifesta Baixas.

Na verdade, o utilizador tornou-se mais requintado na hora de comparar o produto. "As pessoas procuram mais informação em mais lugares, entendem melhor as coisas", considera González. "Acho que passámos de um consumidor que procura em mais lugares mas também se está a fidelizar em lojas muito concretas", conclui. E os comércios sabem-no, razão pela qual todos os anos aumentam a sua aposta para a última sexta-feira de novembro.