As fraudes em portais de compra on-line são um problema na ordem do dia que afecta cada vez mais internautas. Prova disso são a quantidade de denúncias que recebem tanto a Polícia Nacional como a Policia civil sobre este tipo de delitos. Nas últimas semanas, o foco pôs-se na plataforma de pagamentos Bizum, que se converteu num paraíso para cibercriminosos e vigaristas que aproveitam o desconhecimento de alguns utilizadores para enganar e roubar através da opção de solicitação de dinheiro. É por isto que algumas vítimas pensam que a plataforma deveria ser mais clara e melhorar a sua segurança.
Foi no final do passado agosto quando José Carlos García perdeu 300 euros em matéria de segundos e no golpe de um polegar. Este cidadão de Málaga achava que acabava de vender dois cadeirões no Wallapop quando na realidade foi defraudado por um suposto comprador. "Foi tudo através da Bizum e com a opção de solicitar dinheiro, um serviço que me mandou o tipo em vez de realizar a transferência, com o fim de aproveitar-se da minha confiança". García aceitou a solicitação e de forma imediata a sua conta foi cobrada pelo mesmo custo que esperava receber.
A fraude do "Bizum inverso"
Este método de fraude é conhecido como "Bizum inverso" e o seu uso é cada vez mais frequente em plataformas de compra. Os cibercriminosos enviam aos vendedores uma suposta autorização para receber o dinheiro quando na realidade o que aceitam é fazer um pagamento ao fraudador. Trata-se de uma fraude muito eficaz que pode fazer perder grandes quantidades de dinheiro sem necessidade de hackear o telemóvel nem de usar programas maliciosos, só se aproveita a boa fé e a falta de atenção dos utilizadores.
"Este tipo de fraudes devem-se a um verdadeiro desconhecimento no funcionamento das transacções da Bizum, já que para receber um pagamento nunca nos vai a pedir para aceitar a operação", explica á Consumidor Global Diego Alejandro, inspector chefe da Secção de Comércio Electrónico da Unidade Central de Ciberdelincuencia da Polícia Nacional. Sobre esse funcionamento da aplicação, o utilizador José Carlos García pensa que "não é nada claro nem segura, pois não sabes quando estás a receber dinheiro e quando os estás a dar".
A segurança da Bizum
"Com tantos casos de fraude, é evidente que algo falha no sistema de cobranças e pagamentos, o qual é rápido e cómodo, mas é irrevogável e, por isso, inseguro", pensa García após ter sofrido esta fraude. No caso de Daniel Plata, outro utilizador afectado, o cibercriminoso era um vendedor. Este cidadão de Granada interessou-se por uma câmara fotográfica Canon EOS 5D Mark III e após falar por WhatsApp com o fraudador, fez-lhe um primeiro pagamento de 255 euros através da Bizum, depois desapareceu e bloqueou toda a comunicação. "Acho que deveria melhorar a segurança e apoiar as vítimas. No meu caso não fiz o pagamento íntegral, só um adiantamento, espero que não afecte a mais pessoas", denuncia Plata.
Da plataforma asseguram que a segurança da plataforma está garantida. "Na Bizum há uma dupla autenticação na hora de aceitar uma solicitação de pagamento, há que dar a aceitar nas duas ocasiões, pelo que o erro é mais difícil", asseguram fontes deste fornecedor de pagamentos à Consumidor Global. "Há que ter em conta que as transferências são imediatas entre as contas bancárias e não é possível anulá-las, por isso sempre recomendamos pagar com a agenda de contactos do telefone e não digitando os números, o que pode gerar erro", sublinham.
Sem rastro do fraudador?
Muitas vítimas perguntam-se se há possibilidade de dar com os cibercriminosos que utilizam a Bizum ou, pelo contrário, desaparecem sem deixar rastro. "Cada número de telefone tem que estar associadao a um IBAN e as entidades têm os dados da pessoa à qual corresponde essa conta. De forma que é possível identificar quem está por trás de qualquer transacção", dizem da aplicação.
No entanto, dar com os cibercriminosos nem sempre é tarefa simples, já que os números de telefone podem aparecer encriptados. "Muitos fraudadores utilizam a técnica do stuffing, com a qual podem mascarar o telefone real a partir do qual se realiza a operação mediante um software", explica o inspector Diego Alejandro a este meio. "Pode-se pesquisar e rastrear o número, mas em muitas ocasiões são telefones cadastrados com identidades falsas ou de terceiras pessoas que foram defraudadas anteriormente", sublinha Alejandro.
Um delito leve
Segundo conta o inspector chefe, algumas destas investigações demonstram que os servidores utilizados pprovêm do estrangeiro. "Isso implica mobilizar a cooperação internacional e pode atrasar o trabalho judicial e policial", explica. Além disso, como assinala o agente, "se as fraudes pela Bizum são inferiores a 400 euros consideram-se delito leve e mobilizar estes meios segundo o critério de economia processual não costuma ser eficiente, ainda que sempre encorajemos a denunciar", diz.
Para Juan Manuel Corchado, catedrático no área de Ciências da Computação e Inteligência Artificial e professor da Universidade de Salamanca, Bizum é uma aplicação segura e avalada pelas entidades bancárias, desde que use se com contactos conhecidos, "já que os delinquentes fazem campanhas em massa sabendo que há uma percentagem que vai cair se não conhece bem o funcionamento da aplicação".