A OCU e Facua, duas das associações de consumidores mais relevantes de Espanha, mantêm um longo confronto que este verão tem escrito um novo capítulo. Facua tem ganhado uma batalha à OCU para conhecer a procedência dos rendimentos que esta entidade (e uma mercantil sua) têm obtido das empresas nos últimos anos.
O Conselho de Transparência e Bom Governo (um organismo público independente adscrito ao Ministério de Fazenda e encarregado de velar pela transparência das administrações e o acesso dos cidadãos à informação pública) tem emitido uma resolução (189/2022) na que ordena ao Ministério de Consumo entregar a Facua os convênios assinados por OCU (e seu mercantil) com as empresas e depositados em dito departamento. Uma informação que o ministério se tinha negado a entregar a Facua.
Travas do Ministério de Consumo
A princípios deste ano, o secretário geral de Facua, Rubén Sánchez García, solicitou ao Ministério de Consumo "os textos dos convênios de colaboração assinados com empresas por OCU e OCU Edições SA" desde 2017, uns 44, segundo a informação que tinha o solicitante. A entidade invocava a Lei 19/2013, de 9 de dezembro, de transparência, acesso à informação pública e bom governo (LTAIBG).
No entanto, o 14 de março, o ministério recusou sua petição apelando a que esses dados se regem por "um regime jurídico específico de acesso à informação", e lhe instava a dirigir à Direcção Geral de Consumo e marcar uma cita para ir em pessoa a sua sede, na cale Príncipe de Vergara, 54 de Madri, onde consultar essa informação.
Facua vs. Consumo
Disconforme com essa resposta, o dirigente de Facua reclamou ante o Conselho de Transparência e Bom Governo. Sánchez argumentou que a lei de transparência deixa muito claro que essa informação é pública e prevê seu acesso por via electrónica, reservando fórmulas alternativas de acesso a casos que a normativa estabeleça de forma específica. E este não é um deles.
Em mudança, desde Consumo, alegaram que "ao não ter desenvolvimento regulamentar, a Direcção Geral tem optado pelo acesso na sede da DGC, tendo em conta o grande volume de informação depositada por todas as associações inscritas e o carácter indiscriminado das solicitações de acesso à informação que se recebem, tanto quanto à quantidade da informação à que se solicita o acesso como ao tipo de informação".
Dez dias para entregar a informação
Finalmente, numa resolução emitida neste mês de agosto, o Conselho de Transparência e Bom Governo tem estimado a reclamação de Facua.
Por isso, tem ordenado ao Ministério de Consumo que, no prazo máximo de dez dias, remeta à entidade "os textos dos convênios de colaboração assinados com empresas pela Organização de Consumidores e Utentes (OCU) e sua empresa OCU Edições SA, depositados na Aecosan ou a Direcção Geral de Consumo nos últimos 5 anos", bem como "a relação de rendimentos económicos obtidos por OCU ou por OCU Edições SA no marco de ditos convênios".
As suspeitas de Facua
Num comunicado, Facua aponta a Repsol, Cepsa, MásMóvil e Facebook como algumas das empresas que financiam à OCU. "OCU faz parte de um grupo de organizações e sociedades mercantis com sedes em Espanha, Itália, Bélgica, Portugal, Brasil, Países Baixos, Luxemburgo e Hong Kong. Através de uma dessas sociedades vem recebendo dinheiro pela cada cliente captado para assinaturas como Repsol, Cepsa e MásMóvil mediante a contratação de algumas das ofertas que ganham as denominadas 'compras colectivas', celebradas pela entidade desde 2013", assinala a associação com sede em Sevilla.
"OCU não tem publicado o conteúdo de nenhum das dezenas de convênios que mantém com empresas, como também não tem dado a conhecer quanto dinheiro tem recebido delas nos casos em que há contraprestación económica", insiste Facua.