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Assim soa a nova canção dos Beatles, 43 anos após a morte de John Lennon

A peça, escrita e gravada com voz e piano pelo vocalista, tinha ficado num cajón, mas Yoko Ono deu luz verde para que Paul McCartney e Ringo Starr, com George Harrison ainda vivo, pudessem a terminar

Ana Carrasco González

the beatles

Em 1978, John Lennon canta e toca em frente a um grabador de casete uma canção à que tem posto o nome tentativo Now and then. Naquele momento não soube que se lhe meteu um ruído de 60 ciclos na gravação e também não chegou a saber que quinze anos depois os outros três Beatles --com os que nesse ano tinha pouco ou nenhum contacto-- tentaram tirar esse zumbido, o deixando finalmente por impossível.

Em 1994, Paul McCartney chama a Yoko Ono para pedir-lhe permissão para trabalhar com quatro canções inéditas que Lennon tinha deixado maquetadas: Free as a bird, Real love, Grow old with me e aquele Now and then. Esta última resistiu-se à restauração ao estar atravessada pelo molesto ruído. Os Beatles decidiram não publicar o tema, que tivesse completado a então iminente edição de Anthology , volumes 1, 2 e 3.

A canção

Passaram 29 anos para que --para alegria de todos os seguidores da mítica banda– se tenha recuperado e lançado este 2 de novembro aquela Now and then pela via da Inteligência Artificial, usada por Peter Jackson no documentário 'Get back'. Para especificar, o que tem feito a tecnologia, e que não se podia fazer em 1994, é separar com absoluta nitidez as pistas de voz e piano, permitindo eliminar esse sarro sonoro.

 

Ainda que será altamente complicado demonstrar se na "canção final dos Beatles" --como a qualifica o próprio McCartney-- todo o que canta Lennon sai de sua garganta; no comunicado oficial fazem questão de que a tecnologia não se utilizou para criar artificialmente sobre a voz do vocalista, sina "para preservar a clareza e a integridade da interpretação vocal original, separando do piano".

"Era como se John estivesse ali"

Uma vez conseguida esta clareza, chegam os injertos de 2023: McCartney (Liverpool, 81 anos) tem contribuído baixo e piano e Starr (Liverpool, 83 anos) bateria; recuperou-se uma guitarra de Harrison (falecido em 2001) e acrescentaram-se coros. Ademais, McCartney tem gravado uns desenhos de guitarra slide "ao estilo de George" e Giles Martin, filho do produtor e quinto beatle George Martin (falecido em 2016), tem escrito um arranjo de cordas.

"Aí estava a voz de John, clara como o cristal. Foi emocionante. E todos tocamos. É uma gravação genuina dos Beatles em 2023", tem dito McCartney no documentário de 12 minutos sob o nome Now and then onde se conta a origem do tema. Ringo Starr sublinha que "era como se John estivesse ali, no estudo". A canção incluir-se-á, desde o 10 de novembro, na reedición dos álbuns recopilatorios Vermelho e Azul, as guias musicais e sentimentais de muitas gerações. Existem diferentes formatos, mas o pack completo pode superar os 100 euros, e é que, há poucas máquinas de facturar dinheiro tão engrasadas como a dos Beatles.