Se há uma tendência crescente no mundo da moda, é a sustentabilidade. As marcas esforçam-se por parecer menos poluentes e por produzir de forma consciente, ainda que gigantes da fast fashion como Shein exemplifiquem que nem todos os consumidores estão dispostos a dar 70 euros por uns jeans. O que sim pode fazer qualquer um com a sua roupa, sem importar se é de Zara ou de Levi's , é reutilizar e reciclar. E, para os que nunca usaram um dedal na sua vida, as melhores aliadas são as classes de costura. Além da satisfação pessoal que gera não eliminar umas calças assim que se rasgam, estas classes permitem adquirir conhecimentos com os quais, a longo prazo, se pode poupar uns quantos euros.
Ainda que nem tudo é muito fácil para os profissionais que ensinam a costurar e a dar pontos, percebem que cada vez há mais jovens que vão aos seus estabelecimentos. Além disso, alguns deles são homens, que rasgam assim os estereotipos sobre a confecção. Para mostra, um botão.
Classes de costura desde 50 euros ao mês
Isabel Pérez é o nome que está por trás do El Telar de Isa, uma escola localizada em Valência, e conta à Consumidor Global que a costura "é muito popular agora", em especial "após a pandemia". Nos últimos meses, o interesse cresceu. "Tudo o que é reciclar, aproveitar e dar um segundo uso é muito popular. A ideia é não atirar nada ao lixo e dar uma segunda vida às peças", resume Pérez. Aprender a fazê-lo custa, no seu negócio, 50 euros por mês, com uma frequência de duas horas semanais.
A maioria das suas alunas são mulheres, mas também há "2 ou 3 rapazes". A sua aluna mais jovem tem 17 anos, enquanto a mais velha ultrapassa os 80. Pérez também cobre, relata, todos os perfis profissionais, o que demonstra que a costura é um passatempo transversal. "Falta-me um padre", narra entre risos. Na sua opinião, saber fazer uma bainha é uma habilidade muito prática, pelo que as classes são "um hobby que ajuda a tirar algum proveito". E nem todos os hobbies são rentáveis. Este, crê Pérez, ajuda inclusive a nível mental. "Às vezes rimos-nos na aula, porque algumas alunas dizem que em vez de pagar um psicólogo pagam umas aulas de costura", diz.
16 euros por costurar uma bainha no El Corte Inglês
Às vezes, ter umas noções básicas pode significar uma poupança. E, em função da loja à que se levem as peças a 'passar a ITV', de maior ou menor envergadura. No EL Corte Inglês, os serviços de arranjo de roupa sobrevivem nesses habitáculos que se vislumbram ao subir as escadas rolantes, que parecem tirados de um filme dos anos 80. No de Goya, em pleno Bairro de Salamanca de Madris, este serviço é prestado pela empresa Retokes. Desde aqui, uma encarregada explica que costurar a bainha de umas calças custa nada mais e nada menos que 16 euros, enquanto costurar um botão sai por dois euros. Se a camisa tem vários, pode ser um bom rompido.
A uns três quilómetros de ali, no bairro de Lavapiés, localiza-se Felisa Arranjos. Aqui, tal como especifica Pedro José Ruiz, um dos responsáveis, costurar a bainha de umas calças à máquina custa 7,50 euros. Substituir o fecho de correr do mesmo ronda os 7,70, ainda que, como enfatiza Ruiz, o preço pode variar se é um fecho de correr especial que têm que pedir. "Nós levamos 2 ou 27 anos aqui", conta Ruiz, "e desde então notámos que a freguesia mudou, porque o próprio bairro mudou", explica.
"Antes ninguém pedia para costurar os botões de uma camisa"
Novos vizinhos pedem novos ajustes. "Antes ninguém te trazia uma camisa para que lhe costurasses os botões, ia ver a sua mãe e lho fazia ela. Mas agora, os jovens que se acabam de emancipar , em vez de irem ver a sua mãe, vêm aqui", relata Ruiz. Na Arranjos Felisa, "se te acaba de cair um botão e é a primeira vez que vens, eu não te cobro nada", mas, por norma geral, este serviço oscila entre os 5 e os 8 euros.
Na Doña Puntada Cosetodo, um negócio de Valladolid cujo nome faz desnecessária toda a descrição, os preços são mais baixos. 4 euros pela bainha de umas calças, 6,50 pela mudança do fecho de correr de uns jeans e, nas camisas, aproximadamente 50 céntimos por botão (quatro vezes menos que no El Corte Inglês de Goya), ainda que "depende do tipo", indica Carmen Alonso, a dona. Na sua opinião, é um oficio que corre o risco de desaparecer. De facto, Alonso está a procurar uma costureira, mas não encontra. "Demora-se muitos anos a aprender este oficio. Agora há muitos jovens com estudos de alta costura e com títulos, mas depois, na prática, não o dominam", lamenta.
Ensinos práticos para o dia a dia
Do El Telar de Isa, Pérez considera que deveria haver mais formação nas escolas. "Acho que todas as pessoas, tanto as raparigas como os rapazes, deveriam saber tanto costurar um botão como pendurar um quadro ou montar uma ficha. Não falamos de questões machistas nem feministas, mas sim de algo que deveria se ensinar a todos, porque são ensinos práticos para a vida", relata.
Silvia Castelhano é a responsável pela Que Viva la Pepa, uma escola de costura de Madrid à qual também agora vão mais homens "que querem fazer a sua própria roupa", segundo indica. Castelhano percebeu um aumento do interesse nos últimos tempos, e considera-o, entre outros factores, a programas de televisão como Mestres da Costura.
Desde alpargatas até mochilas
No seu negócio pode-se aprender a fazer croché, a confeccionar umas alpargatas, fazer moldes pelo computador ou inclusive confecção para os amantes da roupa vintage. As aulas custam 50 euros mensais (8 horas ao todo). O que mais triunfa, indica Castelhano, são "coisas pequenas, como fraldas para os bebés", enquanto os mais preocupados pela sustentabilidade, na sua opinião, são as pessoas entre 30 e 40 anos.
Victoria López também acha que a sustentabilidade ajudou. Ela fundou há seis anos a sua escola de Patronaje e Confecção em Zaragoza, na qual há uma enorme variedade de opções, desde um curso on-line de introdução à costura por 25 euros até um título próprio de Patronaje Profissional Industrial, onde se aprende confecção, técnicas de corte e elaboração de fichas técnicas. A matrícula de 4 horas semanais custa 90 euros ao mês. Além disso, há oficinas especiais com desenhadores de prestígio, onde se ensina "costura de sobrevivência" ou a costurar uma mochila.
Levar uma peça que fez ele mesmo
López explica que, nos anos 90, o mercado começou a oferecer peças muito baratas, o que provocou uma mudança de mentalidade e também perturbou os hábitos de compra. Nesse momento, expõe, "ninguém queria costurar, e era raro ver entusiasmo nisso". Previamente, nos 80, "não haviam tantas lojas, as peças eram mais caras, e em todas as casas, sim ou sim, tinha pessoas que costuravam". Agora, esta perito acha que "o oficio de costureira está em extinção", mas também que como resultado da pandemia o interesse pela costura se reactivou. O exemplo da sua vitalidade está em que cada vez mais homens passam pela agulha.
Entre os seus alunos, López tem desde crianças a partir de 10 anos até reformados "os que sempre gostaram, mas não o podiam azer porque não tinham tempo". No general, os seus discípulos tomam a costura como um hobbie "e como uma forma de desligar", mas também há um grupo que deseja dedicar-se à indústria de forma exclusiva. Neles prima "a satisfação de levar uma peça que ele mesmo fez".