As novas coordenadas do luxo: que procuram os ricos numa cidade

Para alguns experientes o luxo não tem cuajado tanto em Barcelona, mas em Madri, no entanto, se vive uma espécie de época dourada

lujo copas
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Brancos novísimos, mais elegantes que a cinza do betão. Ribetes dourados, distintos. Espaços diáfanos e armoniosos. Tapetes. Tensão silenciosa entre desejo de privacidade e exibição. Complexos que aúnan hotéis e boutiques nos que uma corbata de seda custa 190 euros. Todo isso, e a cada vez mais. Em 2021, o sector do luxo tem crescido um 20 % mais que em 2020.

Segundo Idealista, as quatro províncias que aglutinam mais moradias de luxo são Málaga, Baleares, Madri e Barcelona. Sobre a última, a consultora imobiliária Laborde Marcet tem constatado um aumento das demandas de aluguer nas zonas comerciais mais exclusivas, mas não são as únicas. Mais especificamente, o turismo vira na capital espanhola para a jet set: abriram-se quatro hotéis de luxo, que se somam a várias remodelagens.

O luxo, por trás da liberdade?

Segundo o geógrafo e urbanista Antonio Giraldo, um experiente que ensina a olhar a cidade com outros olhos, o crescimento do luxo no centro de Madri é palpable, sobretudo, a partir de 2016. Madri, essa cidade castiza na que pervivía um espírito popular, orgulhosamente menos elegante que Paris e mais acolhedora que Londres ou Ámsterdam; está agora baixo a lupa de grandes investidores. Mas, desde o ponto de vista do urbanismo, que procura um rico numa cidade ou um bairro? Giraldo acha que uma forma muito particular de liberdade: "Poder fazer o que queiras sem que te molestem demasiado".

Imagen del nuevo Centro Canalejas, epicentro del lujo en el corazón de Madrid / UNSPLASH
Imagem do novo Centro Canalejas, epicentro do luxo no coração de Madri / UNSPLASH

A corrente Four Seasons inaugurou seu primeiro hotel em Espanha em setembro, em Canalejas. "Dantes, essa não era uma zona orientada ao luxo, tinha vários edifícios públicos, mas não era exclusiva", concede Giraldo. Ademais, o experiente assinala que a transformação de alguns negócios aledaños já está em marcha. Deste modo, cabe esperar que os bares e locais de toda a vida que ainda permanecem, desapareçam. O processo é conhecido e estudado: subida de alugueres, mudança na actividade económica, e postal pronta para a foto de Instagram . Ao menos, os que possam lha permitir. No mesmo complexo de Canalejas instalaram-se as flamantes lojas de Hermès e Cartier. A uns 800 metros de ali, o Mandarin Oriental Ritz reabriu em abril depois de um investimento próximo aos 99 milhões de euros.

Pagar 770 euros a noite

Ademais, está previsto que não bem longe, ao lado do Monasterio das Descalzas, o gigante Marriott International abra outro hotel de luxo que contará com 200 habitações, 33 delas suites. Essa zona é outra das que actualmente não são, em absoluto, para gente VIP. De facto, é uma praça mais bem suja. O Monasterio é do século XVI e, segundo Giraldo, constitui umas das jóias ocultas da capital a nível patrimonial.

Mais ao norte, no bairro de Almagro tem aberto suas portas o Hotel Santo Mauro, onde reservar uma habitação para duas pessoas o terceiro fim de semana de fevereiro (por exemplo), custa 770 euros. "Também não é questão de evitar que vingam estes negócios, claro que tem que ter hotéis de cinco estrelas. O que quiçá dever-se-ia fomentar mais é o equilíbrio", assinala Giraldo.

Vista de la Gran Vía, una calle en la que próximamente abrirán más hoteles de lujo / PEXELS
Vista da Grande Via, uma rua na que proximamente abrirão mais hotéis de luxo / PEXELS

"É um modelo que se quis atrair"

"Chirría que se tenha querido abrir todo na mesma zona: os arredores de Cibeles e a Porta do Sol", expressa Giraldo, quem considera que esta reorientação do turismo pode ser a ponta de lança da elitización do centro. Assim, se erigen dois esquemas dicotómicos: cidades acessíveis para a maioria, que não sejam hostis com o cidadão (o que a arquitecta Izaskun Chinchilla tem chamado A cidade dos cuidados); ou urbes productivistas, mais focadas a ser vistas que a ser habitadas, nas que faltam centros de saúde ou recursos tão singelos como bancos para se sentar.

"É um modelo que se quis atrair, explicitamente, desde a administração. Eles o chamam 'pólo de atração'", relata Giraldo. O mais grave, segundo o urbanista, é que no caso de Canalejas se mudaram as leis de protecção dos edifícios: dantes tinham a mais alta e se rebajó quase à inferior.

Vista de una tienda de Cartier, una firma de relojes y joyería de lujo / UNSPLASH
Vista de uma loja de Cartier, uma assinatura de relógios e joyería de luxo / UNSPLASH

Entre a exposição e a intimidem

A zona espanhola na que o luxo jogou raízes primeiro foi na Costa do Sol, com Marbella como mascarón de proa da exclusividad. Um relatório de Engels&Völkers assinalava no ano passado que nesta região tinha crescido a demanda de moradias com um preço dentre dois e três milhões de euros. Mas há uma diferença com respeito ao que ocorre agora no centro de Madri ou Barcelona: quando Julio Iglesias, Carmen Cervera, actores de Hollywood ou jerarcas saudíes vão a sua residência de Marbella, quase ninguém se inteira de que têm chegado. Seus fincas são ilhas. "Marbella tem sido um destino bastante discreto: há mansões que aparecem de repente, vês fotos e não te achas que estejam ali", aponta Giraldo.

Vista de Málaga, una ciudad en la que crece la compra de viviendas de lujo / PEXELS
Vista de Málaga, uma cidade na que cresce a compra de moradias de luxo / PEXELS

A cidade de Málaga também está a descolar como destino do luxo. Na cidade andaluza vendem-se mais andares de obra nova que em Barcelona. Atraídos pelo clima e pela cercania das praias, cidadãos estrangeiros (britânicos, mas também russos) pagam o metro quadrado a preços nunca vistos ali. Antonio Giraldo explica que a Prefeitura explode a marca Málaga através da cultura. Neste sentido, Málaga joga com a baza de seus museus: o Museu Russo, o Museu Picasso Málaga, o CAC, o Museu Carmen Thyssen e a filial do Pompidou.

"Em Barcelona, o luxo não tem cuajado tanto"

Dizer que agora Madri tem mais projectos que Barcelona se converteu num mantra. Isso não significa que a actividade económica esteja parada, sina que as iniciativas são menos llamativas. Giraldo assinala que, por suposto, segue tendo turistas de alto standing, mas a percepção de cidade global, mais aberta (tanto geograficamente, por sua vinculação histórica com o mar e a cercania a França; como socialmente) se viu mermada.

Segundo o urbanista, a lavagem de cara da capital catalã chegou com os Jogos Olímpicos do 92. "Essa modernização pretendia atrair a um turista de nível adquisitivo mais alto, mas acho que o luxo não tem cuajado tanto em Barcelona", argumenta Giraldo. Segundo ele, nesta cidade as consequências negativas do turismo em massa são mais palpables que em qualquer outra de Espanha. Isso daria pé a pensar que o turismo de luxo é menos daninho, porque qualidade não é sinônimo de quantidade. Não obstante, Giraldo puntualiza que os mais ricos exigem outros serviços: por exemplo, que seu táxi chegue até a mismísima porta do hotel.

 

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