O negócio das lojas 'vintage': roupa de segunda mão a preço de marca

A moda das peças usadas ou vendidas a peso converteu-se numa tendência cada vez mais cara que nada tem a ver com a sua origem focada na poupança ou na reciclagem de vestuário

Ropa y complementos vintage de segunda mano   PIXABAY
Ropa y complementos vintage de segunda mano PIXABAY

A roupa em segunda mão está cada vez mais presente nos armários dos espanhóis. Um conceito que até há pouco tempo era desprezado por estar associado com a falta de recursos, agora é uma alternativa direta à compra em estabelecimentos oficiais. Seja por moda, por economia ou pela ecologia, não é estranho encontrar camisas hawaianas, kimonos ou acessórios de outras épocas em pequenas lojas do centro de qualquer cidade. Ainda que existam locais para todos os gostos e modas, é verdade que uma das palavras mais recorrentes é a de vintage .

Fundéu descreve este conceito como algo "que apesar de não ser novo, está na moda pelo seu design atraente". Pois bem, estes designs enchem de cores e cortes desatualizados cabides e prateleiras de centenas de lojas. A questão é que a exclusividade destes designs bem como o valor que lhe dão colecionistas, nostálgicos ou modernos faz com que os seus preços atinjam valores semelhantes aos que se poderiam  encontrar em qualquer negócio de roupa atual. No caso de marcas exclusivas ou modelos famosos, podem atingir preços superiores aos seus equivalentes no stock convencional.

'Vintage' ainda é roupa de segunda mão?

A diferença entre uma e outra pode parecer simples à primeira vosta, ainda que uma vez dentro da área costuma ser mais complicado encontrar onde começa um e acaba a outro. "Por definição, a roupa vintage são roupas em segunda mão, já que venderam-se há décadas. Ainda que seja verdade que têm que manter umas condições estéticas e materiais que não apresenta toda a roupa em segunda mão", explicam da Humana, uma ONG que recicla e vende roupas em segunda mão doadas. Também afirmam que este vestuário deve ter sido comercializado há, pelo menos, três ou quatro décadas para que se possa considerar vintage, ainda que cada vez mais este limite seja mais difuso.

O preço é um tema controverso. São muitos os fatores que podem afetar ao valor final de um produto destas características: a exclusividade da roupa, o tecido com o qual foi confecionada, o designer que a criou e inclusive o seu aparecimento em algum espetáculo televisivo da época. Na Humana admitem que podem ser preços mais elevado inclusive aos que tinham no seu momento de lançamento, mas como é um valor mais subjetivo que material, o conceito caro ou barato depende da pessoa e o que procure nesta vestimenta.

A bolha das roupas do passado

A origem de toda esta roupa é muito variada. Ainda que uma grande parte provenha dos Estados Unidos, país que desde a década de 50 começou a importar a cultura da roupa como uma forma de expressão através dos jeans, a moda hippie ou o estilo pin-up entre muitos outros. "a Espanha entrou ao jogo do vintage nos anos 90, quando de repente se recuperaram as plataformas e as calças à boca de sino dos anos 70", comenta Pablo Torres Weist, estilista de publicidade e moda residente em Madrid.

Como amante da moda vintage, este especialista admite que lhe é difícil criticar este estilo de roupa e os seus exemplos. Conquanto seja verdade que muitas roupas emsegunda mão atingem custos mais altos que as de grandes marcas atuais, considera-as peças de coleção, pelo que o seu preço corresponde ao valor que receba do seu comprador. É aqui onde muitos clientes brincam à pesca de pechinchas. Peças de grande valor que passam despercebidas pelo grande público mas que fazem parte de coleções seletas.

Barcelona, capital do 'vintage'

Um caso significativo é o de Barcelona, que graças ao turismo e ao seu interesse no campo da moda reúne, junto com Madrid, o maior número de lojas especializadas neste tipo de vestuário em Espanha. Um exemplo encontra-se na mítica rua Tallers, na entrada do Raval. Em apenas um passeio de 30 metros podem-se contar até 6 locais deste tipo e todos pertencentes ao mesmo grupo: Flamingo Vintage. Esta empresa encarrega-se de classificar a roupa que compram em grandes quantidades nos Estados Unidos e a oferecem-na com uma particularidade: não se paga por peça, mas sim por peso.

Esta empresa, fundada em 2014, herança da marca Flamingos Vintage Kilo com sede em Nova Iorque, não deixou de crescer todos estes anos. O volume de vendas das sociedades do grupo em 2019 atingiu os 2,4 milhões de euros com lucro de 260.000 euros. Este é um exemplo de como a cultura vintage penetrou na sociedade independentemente do preço da roupa e gera enormes ganhos. Agora só falta ver se este crescimento chega ao fim quando chega uma nova tendência que o substitua ou torna-se num estilo de vida e de compra estável e permanente ao longo do tempo.

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