Comprimidos na sala, no balcão da cozinha, nas gavetas da casa de banho e inclusive debaixo do sofá. Esta desordem de cápsulas de cores vivas esconde, na verdade, a dor de uma doença. Assim vivem os pacientes crónicos que todos os dias consomem vários medicamentos. Alguns deles, por vontade própria, não cumprem aà risco com os seus tratamentos, enquanto outros, de idade mais avançada, se esquecem das doses que precisam a cada dia.
Estas práticas propiciam que, ano após ano, se produza em Espanha um desperdício de medicamentos. Além disso, a estas condutas soma-se o facto de que as caixas produzidas pelas farmacêuticas não se ajustam às indicações de algumas receitas e vendem-se mais doses das que o paciente precisa.
Um desperdício de fármacos
"O medicamento mais caro é o que não se toma", reconhecem à Consumidor Global o Conselho Geral de Colégios Farmacêuticos. Por isso, o principal motivo do desperdício de medicamentos em Espanha é o pouco comprometimento de alguns pacientes,confessa o organismo.
Mas não é a única razão. "O tamanho das caixas muitas vezes é desproporcional em comparação com as doses que o paciente precisa", aponta Joan Francesc Mir, pesquisador do Colégio de Farmacêuticos de Barcelona. E a febre por algumas terapias altruístas que fogem da medicina tradicional também não ajuda neste sentido, insistem fontes do setor.
A despesa que gera
Cada vez vivemos mais anos e daí que, com uma população mais envelhecida, o orçamento de medicamentos se eleve com o tempo. Segundo os dados do Ministério de Previdência, o consumo de tratamentos com receita subiu 2,63% em 2020. Ao todo, o custo com a medicina no ano passado subiu aos 11.077 milhões de euros. Daí que a despesa farmacêutica por habitante em Espanha passe de 19,49 euros em 2019 a 20,57 no ano seguinte. É importante apontar que este valor não aumentou apesar de ser um ano pandémico. No entanto, cresceu sim o orçamento da saúde em 6% em relação a 2019, já que o Covid não tem um tratamento farmaceutico específico.
No entanto, o Conselho Geral de Farmacêuticos recorda que Espanha se encontra na média européia no que concerne ao consumo de fármacos. Mas aponta a falta de adesão, isto é, o rigor para encerrar os tratamentos e as receitas, como o maior desafio da previdência publica nacional. ''O incumprimento de tratamentos médicos em Espanha gera uma despesa de cerca de 11.250 milhões anuais e 18.400 mortes'', acrescentam fontes da instituição. Da mesma forma, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos países desenvolvidos, mais da metade de pacientes com doenças crónicas não cumprem adequadamente o tratamento prescrito.
Fórmulas mais eficientes
Convém destacar e como se tratou anteriorimente, que outro ponto que influencia este desperdício de medicamentos é o tamanho de algumas caixas de fármacos, que não se ajustam à quantidade de dose que marcam as receitas médicas. No entanto, o Ministério de Previdência no 2013 propôs reduzir algumas das caixas de fármacos e até inclusive fomentar as monodoses, "mas as farmacêuticas desvincularam-se do tema. Não lhes interessava", diz Mir.
Alguns pacientes sim que dispõem em Espanha deste tipo de fórmulas para fomentar uma medicação mais reduzida. Recebe o nome de Sistema Pessoal de Dosificação (SPD) e baseia-se no fornecimento, por parte do farmacêutico de um número concreto de comprimidos que o paciente precisa e que se incluem num pequeno frasco, em vez de um blíster, como se embala a maioria de medicamentos. Este sistema em Espanha, apesar de ter bons resultados, só é adequado para aqueles pacientes com problemas cognitivos, que, no geral são os grupos de idade avançada. E além disso, não é subsidiado. Por isso, muitos profissionais da área farmacológica e da saúde exigem, ante o desperdício e mau uso dos medicamentos, um maior apoio da Administração para perpetuar sistemas como este, mais personalizados e controlados. Desta forma, evitar-se-ia que os armários e cantos de muitos lares espanhóis se encham, como até agora, de medicamentos de todas as cores e tamanhos possíveis.