Elize Lutz e Harry Dekkers, dois reformados holandeses de aspeto adorável, receberam as chaves da sua moradia no passado 30 de abril. Dizem que é calorosa e que ali se sentem felizes. Pagam 850 euros por mês e podem orgulhar-se de serem os primeiros europeus a habitar uma casa impressa em 3D. Ainda que muito em breve deixarão de ser os únicos.
"Já há empresas, como a Be More 3D na Espanha e a WASP em Itália que embarcaram nesta aventura em coordenação com centros de investigação", explica à Consumidor Global Aldo Sollazzo, diretor da empresa tecnológica Noumena e do Mestrado em Robótica do Instituto de Arquitectura Avançada de Cataluña (IACC).
Impressoras gigantes capazes de fazer várias casas em poucos dias
"Em julho vamos construir 22 habitações sociais em 22 dias em Espanha", anuncia a este meio, muito orgulhoso, Vicente Ramírez, CEO e cofundador da Be More 3D, uma startup valenciana que já fabricou quatro casas piloto e agora estrear-se-á no mercado imobiliário pela mão da sua melhor aliada: uma gigante impressora patenteada que promete revolucionar o setor da construção.
Ao contrário do braço robótico utilizado para fabricar a casa do Projecto Milestone (Holanda), que imprime com um bico muito fino e demora 120 horas, esta empresa utiliza um inovador pórtico móvel que se move em duas direções e "permite uma maior rapidez na hora de imprimir a habitação em betão", diz Ramírez.
Uma forte estrutura em 10 horas
Para uma casa deste tipo as máquinas são levadas para o terreno, que se prepara como numa construção clássica, segundo aponta Sollazzo, e se fabrica a estrutura numa única peça.
"É um sistema de construção muito simples. Afinal de contas são muros de betão armado. Imprimir a estrutura de uma casa de 60 metros quadrados leva entre 8 e 10 horas", explica Ramírez. Desta forma, num dia útil é possível elevar a casa com as suas divisórias internas e no dia seguinte colocar o telhado.
Quanto custa uma casa impressa?
Da Be More 3D garantem que, com a sua forma de construir, os custos são reduzidos entre 25% e 35%. Assim, uma casa de 60 metros quadrados tem um preço médio que ronda os 45.000 euros, em função da qualidade dos acabamentos.
Algumas das habitações sociais que esta empresa vai imprimir, por exemplo, custarão menos: uns 25.000 euros. Depois, no caso de um chalet para um particular, como o que têm previsto fazer em Manacor (Mallorca), o preço dependerá do que procurem e exijam os clientes. Mas, seja como for, as possibilidades deste tipo de construção são quase infinitas, até que consiga criar pela primeira vez um edifício de vários pisos sem problemas.
É sustentável esta forma de construir?
"Com a impressão 3D reduzem-se até 85% os resíduos", afirma o CEO da Be More 3D. Além disso, ao construir in situ, também se reduz o consumo de energia associada ao transporte que as impressoras que trabalham em depósitos e depois movomentam os módulos.
No entanto, o betão gera muito CO2 na sua fabricação, ainda que tenha uma vida útil de 150 anos, como destaca Ramírez. "O o IACC de Barcelona está empenhada em imprimir com materiais naturais não contaminantes que provenham da terra, mas isso leva tempo", esclarece Sollazzo. "Tudo evolui, mas na arquitetura continua-se a construir como há 100 anos. É um anacronismo. O setor tem de se modernizar e tecnificar incluindo processos industrializados avançados ou pré-fabricados. Talvez o 3D seja um deles", afirma o arquiteto Josep Vilardaga.