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Amazon, AliExpress e Temu vendem relógios que medem a glucose no sangue com resultados falsos
Os 'smartwatches' evoluíram para oferecer medidas úteis para a saúde e o fitness, mas o dispositivo "não é recomendado" para pessoas com diabetes.
Amazon, AliExpress e Temu vendem um artigo que pode ser equiparável à definição por milagre: um relógio inteligente que mede a glucose no sangue. Esta notícia não seria uma banalidade para aquelas pessoas que sofrem de diabetes se não fosse porque o smartwatch oferece uns resultados nada precisos. Face a esta ameaça, os peritos avançaram a este meio por que este dispositivo "não é recomendável".
Estes relógios inteligentes prometem medir a glucose no sangue de forma não invasiva mediante sensores óticos que através da luz atravessam a pele para tentar recolher dados, um método que tem demonstrado funcionar no caso da medida da frequência cardíaca ou os níveis de oxigénio no sangue. "Não obstante, medir a glucose é mais complexo como a água presente nosso sangue interfere com a medida da glucose através de métodos óticos. Também há outros desafios que impedem um isolamento preciso para detetar o sinal de glucose no sangue com precisão; sto inclui a cor da pele, a luz difusa, o movimento, entre outros", argumenta Sergio Ramos Montoya, especialista em tecnologia e editor do Social Geek.
Amazon, AliExpress e Temu
Apesar das advertências e argumentos dos peritos, plataformas como Amazon, AliExpress e Temu vendem estes relógios inteligentes a uns preços entre 10 e 200 euros. No site da empresa fundada por Jeff Bezos, um utilizador partilha que "este relógio não pode substituir os controlos de glucémia em pessoas com diabetes, ainda que sim ofereça uma medida orientativa que pode ajudar no controle da doença". "Pode funcionar como smartwatch, mas a alegação é a medição da glicose e ele inventa as leituras. Comecei a desconfiar ontem, porque o nível não subiu quando comi e depois subiu como se tivesse comido um jantar normal, tendo comido apenas um iogurte".
No AliExpress os comentários vão na mesma sintonia. Um utilizador diábetico destaca que quando compara o resultado do relógio com o seu dispositivo para medir a glucose, a taxa é completamente incorreta. "Estou decepcionado, porque comprei-o para esta opção de glucose", realça. Na Temu, a história não ia ser diferente. "O único defeito é que os parâmetros detetados não são em absoluto iguais à realidade", avisa uma utilizador na seção de comentários do site.
Como funciona
Sobre a tecnologia subjacente que impulsiona os smartwatches, o web designer e consultor SEO José Peña destaca que desde da clínica desportiva Run Faster and Better têm estudado como estes dispositivos utilizam uma combinação de sensores, algoritmos e técnicas de processamento de dados para recolher e analisar informação relacionada com a saúde. Relativamente à monitorização da glucose, os smartwatches costumam utilizar sensores ópticos ou eléctrodos para avaliar os níveis de glucose no sangue.
"Com sensores ópticos, utilizam um processo chamado fotopletismografia (PPG) para estimar os níveis de glucose", diz Peña. "A PPG consiste em iluminar a superfície da pele e medir a luz reflectida ou transmitida. Isto permite que o dispositivo detecte alterações no volume de sangue e determine as concentrações de glicose através de algoritmos", acrescenta.
O potencial e as limitações
"Ainda que a precisão dos smartwatches na medição da glucose no sangue continue sendo objeto de investigação e desenvolvimento, não se pode negar o seu potencial", reconhece o designer. De facto, convém lembrar que no início deste ano se conheceu que Apple teria conseguido desenvolver um suposto sensor para a monitorização não invasiva da glucose no sangue, mas ainda não está nem sequer em planos incorporar este sensor no Apple Watch uma vez que ainda está em fase inicial de desenvolvimento.
"É crucial ter em conta suas limitações. Os smartwatches não substituem os medidores tradicionais de glucose no sangue e não se deve confiar unicamente neles para tomar decisões médicas. Podem servir como ferramentas úteis para a consciencilização geral e proporcionar indicações dos níveis de glucose, mas ainda é necessário confirmá-lo com medidores tradicionais", alerta Peña.
Não é (ainda) uma realidade
Hoje, para controlar o açúcar, existem os glucómetros clássicos que medem a glicemia capilar numa gota de sangue obtida por picada no dedo e os dispositivos de monitorização contínua da glicose que determinam a glicemia intersticial utilizando uma cânula localizada na derme. No entanto, não é (ainda) uma realidade poder medir a glicose sem contacto com o sangue do doente.
"A precisão destes dispositivos para medir os níveis de glucose ainda não está ao nível dos métodos tradicionais", afirma Peña. "Mas, à medida que a tecnologia continua a evoluir, os smartwatches têm um grande potencial para revolucionar a monitorização da glucose no sangue e melhorar a vida das pessoas com diabetes. Em breve, poderão ser fornecidas medições precisas e fiáveis da glicose, melhorando a gestão da diabetes e o bem-estar geral", conclui.
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