Fecha os olhos, o vento na cara / Estás num iate, água salgada / Se olhares para atrás ainda te persegue o passado / Mas vais a todo o vapor e o campanhe está gelado. Canta-o C. Tangana numa das suas últimas canções. Porque quem não sonhou em navegar o mar num iate, ou mesmo num barquito de casca de noz, e esquecer-se de tudo enquanto desenha uma estrela branca sobre o grande azul? No entanto, com a subida de preços da gasolina, alugar um barco este verão vem com surpresa na fatura.
O aumento dos combustíveis, que empurrou a inflação de maio até 8,7%, prejudica a maioria das empresas de aluguer de embarcações, que reajustaram as suas tarifas para esta temporada. Ainda que não seja em todas será mais caro fazer-se à mar.
Alugar um barco, mais caro por culpa da gasolina
Alberto Calderón, um dos responsáveis pela empresa Náutica Marbella, reconhece à Consumidor Global que teve que aumentar os seus preços, aproximadamente 20%, pelo preço da gasolina. No entanto, Calderón afirma que, depois de dois anos maus pelas restrições da pandemia, "uma coisa compensará a outra", e terá pessoas que suportarão o aumento, graças às vontades que têm de apanhar um barco. Tal como afirma este empresário, na Náutica Marbella têm clientes "de toda a classe, desde famílias até pessoas com muito dinheiro". E, nas segundas, o aumento pesa menos.
Mais ao sul, em Cádiz, a gasolina também preocupa. Admite-o Javier Conesa, de Aperca por el Mar, uma escola náutica que oferece práticas, travesías e aluguer de embarcações. "Agora paga-se o dobro pelos combustíveis", lamenta Conesa. Na sua empresa há dois tipos de alugueres de embarcações: barcos a motor e de vela . Quatro horas num veleiro pode sair por uns 400 euros, descreve, enquanto no caso dos veículos a motor, o combustível não vai incluído, e é o cliente que tem que pagá-lo à parte. Por isso, acha que o aumento do preço repercutirá numa diminuição do número de clientes. Além disso, Conesa não acha que a maré vá baixar a curto prazo. "A expetativa é que uma vez que subam os preços, já não baixem. Não sei se nos darão alguma bonificação ou que seja, mas algo terão que fazer", expressa.
Trajetos mais curtos
"Com estes preços da gasolina, as pessoas pensão masi sobre isso", conta Pol Aldavert, responsável por Palamós Boats, uma empresa de aluguer de embarcações e motos aquáticas localizada num município da Costa Brava. Nesta empresa, o cliente também paga a gasolina á parte. Por isso, conta Aldavert, é um mau momento para as odisseas e há quem opte por trajetos mais curtos. "Ontem mesmo, uns clientes queriam ir às ilhas Medas, mas quando se deram conta de quantos litros precisariam, decidiram ir mais perto", realça.
Outros navegantes menos experientes, os que não sabem que o litro de combustível ronda os 2,20 euros, "levam uma surpresa após a viagem", descreve Aldavert. Este perito indica que na Palamós Boats as tarifas variam em função do barco, desde os 150 euros por quatro horas na embarcação mais económica até 1.000 euros numa mais luxuosa. A solução para que estes preços não façam naufragar umas férias é clássica: alugar um barco com mais pessoas.
A gasolina é mais cara no porto
Clube Cannary é uma empresa turística que oferece serviços tão refrescantes como uma viagem para avistar baleias ou aluguer de iates. Mas, neste caso, as embarcações não pertencem às empresas, mas sim a particulares que colaboram com a mesma para que faça a gestão dos alugueres. Uma funcionária desta empresa revela que a maioria dos seus colaboradores optaram por subir os preços em torno dos 15%.
Jon Lavi, da Garrucha Adventure Sports, em Almeria, mostra-se mais taciturno e conta que o cliente, face a estes custos, "dá um passo atrás". Além disso, lamenta que, após dois anos de escassa actividade, as administrações andaluzas não os ajudaram a resistir. Para piorar as coisas, conta que nessa zona de Almería muitos britânicos costumavam passar o verão, e agora, devido ao Brexit, permanecem menos tempo. "E as gasolinas de porto são mais caras que as de terra. Se eles pagam 2,03, por exemplo, nós pagamos 2,12", indica Lavi. Há alguns clientes que se mostram comprensivos e não protestam porque são conscientes das razões da subida, mas outros "tentam pedinchar".
Algumas empresas evitam subir os preços
Illuka Sailing é uma empresa que aluga veleiros em Valencia, Denia, Ibiza, Formentera, Menorca, Alicante ou Barcelona. Desta empresa, Sandra Santos dá a nota discordante e afirma que não subiu os preços. Não o fizeram porque, conquanto o cliente paga a gasolina á parte, o veleiro não precisa de tanto combustível como outros barcos precisamente pelo impulso que consegue com as velas. Assim, de certa forma, poupa-se diheiro. "Sai mais em conta", ri Santos. Mas um veleiro exige um pouco mais de perícia.
Isabel Pastor, da empresa valenciana Boramar, afirma que "por enquanto" eles também não subiram os preços. O seu perfil de cliente é variado, desde empresas que alugam uma embarcação para celebrar um evento até famílias que querem dar um passeio ou reformados. "É verdade que subiu tudo: a mão de obra, o fornecedor que traz a bebida… O aumento não afecta só à gasolina", argumenta. "Tens que vender muitos bilhetes para que seja rentável", agrega, sem desespero, antes de acrescentar que "sobrevivemos a dois anos maus de pandemia, de modo que também sobreviveremos a isto". E é que, como dizia Yate Tangana, a vida consiste em remar um pouco mais.