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Adeus ao ecrã táctil no carro? Porsche devolve os botões ao interior e marca o caminho

Os especialistas em automobilismo alertam para o facto de os utilizadores preferirem o modelo analógico e de os fabricantes de automóveis estarem já a ponderar um regresso ao mesmo.

Ana Carrasco González

O Porsche Cayenne / Porsche

O carro que o avô possuía antigamente tem poucas semelhanças com os carros que circulam atualmente. Não só pelo desenho exterior, o interior também sofreu uma metamorfose. O botão para sintonizar o rádio, a manivela para subir e descer as janelas ou aquele para tirar a cassete eram alguns dos entretenimentos nas viagens que foram substituídos. No entanto, os actuais "tablets sobre rodas" –como define a Tesla o desenho dos novos automóveis– cedo voltarão ao analógico. Ou pelo menos é o que alguns prevêem.

Durante mais de uma década, os ecrãs táteis espalharam-se como uma erupção nos carros. Uma tendência que remonta a quando a empresa liderada por Elon Musk reduziu tudo a um único ecrã que o controla tudo e propôs o número mínimo possível de botões. "Pretendia-se que tudo fosse superminimalista, mas basicamente isso refere-se a uma redução de custos e de simplicidade", explica Sergi Antolin, perito em mobilidade eléctrica. No entanto, a Porsche desvinculou-se desta tendência e devolve os botões ao interior do Cayenne 2024.

Voltam os botões

Da Porsche explicam à Consumidor Global que a recuperação dos botões no sistema de controle do veículo é "consequência do desenvolvimento do Porsche Driver Experience, um conceito de visualização e controle completamente renovado no novo Cayenne é utilizado pela primeira vez no Porsche Taycan". O dito sistema centra-se no eixo do condutor e optimiza o uso das diferentes funções, tal como informa a marca.

O Porsche Cayenne / Porsche

"Uma característica chave do sistema Porsche Driver Experience é o equilíbrio entre elementos digitais e analógicos", dizem da Porsche a este meio. "Brincam com esta dualidade de tecnologia e de controles físicos porque querem encontrar o equilíbrio. A Porsche tem um grande trunfo a seu favor, é que sempre de ouvir os seus clientes, apesar das tendências atuais", realça Antolin.

Marca tendência

Da mesma forma, a Volkswagen, proprietária da Porsche, reconheceu que esta decisão deve-se, em grande parte, a que os clientes se queixaram de que era impossível usar o ecrã sem tirar a vista do volante, e os executivos sugeriram agregar mais botões aos seus futuros veículos eléctricos. Por outro lado, outros grandes fabricantes como a Nissan avisaram de que "as pessoas se vão cansar destes grandes ecrãs negros" e a Hyundai já expressou o seu compromisso com os botões e mostradores.

"A Porsche escutou os seus cliente, os quais diziam, por exemplo, que encontravam que ao Porsche Taycan da nova geração ou ao Porsche Cayenne de terceira geração lhes faltavam muitos dos botões que antes tinham e já não têm, e isso os distraía ou lhes resultavam incómodos", sublinha o perito em autimobilismo à Consumidor Global.

Os ecrãs tácteis não são apreciados

Uma pesquisa recente da JD Power –uma empresa norte-americana de investigação de dados e análises de consumidores– sobre a fiabilidade do veículo concluiu que "o infoentretenimiento continua a ser um problema importante para os veículos novos".

O interior superminimalista de um carro Tesla / Tesla

Enquanto num artigo publicado recentemente no The New York Times titulado Os ecrãs táctiles nos automóveis resolvem um problema que não tínhamos, Jay Caspian Kang escreveu: "Não posso pensar numa melhor forma de descrever a frustração do consumidor moderno que comprar um automóvel com uma característica que o torna menos seguro, não melhora a sua experiência de condução de jeito nenhum significativa, poupa dinheiro ao fabricante e se vende como um avanço necessário na conectividade".

Os ecrãs são um perigo para a segurança rodoviária?

Da Direcção Geral de Tráfico (DGT) explicam a este meio que, apesar que a maior parte dos acidentes rodoviários que se produzem por distracção é pelo uso do telemóvel ao volante, os despistes por culpa de outras ferramentas tecnológicas também poden implicar acidentes na estrada. "O problema não é a tecnologia que se introduza no veículo, mas sim o uso que faças dela", sublinham.

"Um navegador ou um ecrã táctil devem ser manipulados antes de empreender a viagem ou com o carro totalmente parado, que além disso é o que está estipulado na lei", recomendam da DGT. "A condução é uma tarefa que requer uma atenção completa, por isso, nada de manipular aparelhos quando em circulação, que além disso está proibido. Todos os anos fazemos campanhas de consciencialização para focalizar o problema das distracções ao volante", alertam. A moda volta e tudo aponta para que o carro do futuro seja mais parecido ao do passado.