A roupa que diz proteger da radiação electromagnética "não funciona"

A empresa Radiasa vende vários artigos que, segundo promete, salvaguarda a seus portadores das ondas como uma estratagema para conseguir benefícios através do medo

Antenas de telefonía a las que achacan radiaciones nocivas   PIXABAY
Antenas de telefonía a las que achacan radiaciones nocivas PIXABAY

O medo ao desconhecido é uma grande oportunidade para ganhar dinheiro. Afinal de contas, quem não quer proteger aos seus de um dano terrível? E nestes casos, o desconhecimento científico tem muito que ver, já que não é difícil criar uma imagem de pânico mediante um par de palavras técnicas. Pode-se dizer, por exemplo, que um aparelho de wifi gera ondas electromagnéticas que chocam com nosso corpo. Dito assim, soa como um perigo latente no salão de casa, enquanto não é mais que o funcionamento habitual destes dispositivos.

Pois este filão é o que têm encontrado empresas como Radiasa, especialista na venda de todo o tipo de prendas de roupa que protegem das "perigosas" radiações que espreitam os lares. Para além de t-shirts também dispõem de gorros, pijamas, roupa interior e sudaderas. Toda uma faixa anunciada como a protecção ante umas radiações que, conquanto existem, não se demonstrou que tenham nenhum prejuízo para os humanos ou os seres vivos em general. Ainda que este facto oculta-se na publicidade.

Uma verdade mutable

Apesar de encontrar produtos à venda como os calzoncillos ou as t-shirts Antiwave, que afirmam proteger das radiações de alta frequência, em seu site se cobrem as costas ao plasmar informação contrastada na secção de perguntas. Na própria página explica-se como não há evidências de que as radiações do telefone móvel possam prejudicar à saúde, mas sim se tomam um par de licenças.

Uma delas, sobre como a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem reconhecido a Síndrome de Electrosensibilidad como uma doença real, quando não o fez. Inclusive desde alguns círculos médicos catalogou-se esta sensibilidade a campos magnéticos como um problema psiquiátrico dantes que físico. A outra, explicar que a OMS também tem qualificado as radiações de frequências como o wifi ou as telefónicas como cancerígenas. Em realidade pertencem ao grupo 2B, no que se especifica que a falta de conhecimento podem chegar a provocar desordens autoinmunes, mas em nenhum caso confirmam estes sintomas.

De que deveríamos nos proteger?

"T-shirt de homem, especial para a protecção contra as radiações de alta frequência emitida pelas antenas de telefonia móvel, wifi, etc.". Com esta declaração tão vadia, não fica muito claro o nível de protecção que oferecem estas prendas, ainda que sim que dão uma margem sobre a frequência de onda que podem repeler: dos 200 MHz até os 2,4 GHz. "Isto é sozinho para assustar. Estão a tentar fazer uma jaula de Faraday. Talvez consegues apantallar, segundo o tecido, alguma frequência, mas não de todas nem muito menos de forma total", explica Alberto Nájera, professor universitário em Castilla-A Mancha e vogal do Comité Científico Assessor de Radiofrequência e Saúde (CARS).

O experiente assegura que usar as radiações para infundir temor não é novo. Muita gente não conhece a diferença entre radiação ionizante, como os raios ultravioleta capazes de danificar nosso organismo, e aquela radiação não ionizante, isto é, que não é capaz de atravessar a pele, como os sinais de rádio, telefonia ou televisão entre muitas outras. Ademais, estes mantras contra as ondas não são novos, sina que na década dos 80 já faziam campanha com eles.

Um assunto de moda

No entanto, o problema não só é teórico. Também é prático quanto à composição desta roupa. Segundo comentam na loja, cerca do 97 % é de algodão e um 2-3 % são fibras de prata ou cobre, dispostas em pequenos fios que recobrem a teia."Seria muito pouco prático, prenda-a não transpiraría", indica José Ygnacio, catedrático em Ciência dos Materiais na Universidade Complutense de Madri. Ademais, menciona que a capa metálica teria que ter um pouco de espessura para fazer efeito e estar disposta de maneira eficiente para apantallar as radiações, coisa que com essa pouca percentagem não crê possível.

Por outra parte, o professor remarca o facto de que nestes casos se cai no que se conhece, de forma literal, como publicidade enganosa. "Já não é que te protegem de algo que não é perigoso, sina que ainda no caso de que o fosse, estas prendas não funcionariam", remarca.

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