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A filatelia em Espanha envelhece e seu futuro pende de um fio
Os donos dos estabelecimentos que vendem selos não sabem como atrair ao público jovem para salvar este lazer centenário e se queixam de que Vos corram infravalora o sector
A filatelia tem nos dias contados. Ao procurar a palavra "selo" em Google aparecem milhares de entradas e nenhuma delas faz referência a esta paixão. A torcida de coleccionar e classificar selos, bem como sobres ou outros documentos pertencentes ao envio, adolece de uma velhice que faz sua sobrevivência a cada vez mais difícil.
Aqui em Espanha este negócio começou em 1850 com a icónica emissão dos selos da rainha Isabel II que hoje em dia se consideram como os mais escassos e estão valorizados nuns 20.000 euros a cada um. No entanto, ainda que ainda ficam lojas especializadas neste sector, a falta de um relevo generacional preocupa aos donos actuais.
"Todas as famílias tinham um coleccionista"
"Dantes em todas as casas tinha um coleccionista de selos", assinala Ignasi, um dos clientes que se encontra na loja Filatelia Monge de 1878 situada no alargue barcelonés que regenta Carles Monge. No entanto, isso já não é assim. Por isso, seu proprietário assegura que a loja está aberta, pese a tudo, graças ao sector numismático --disciplina que estuda as moedas e medalhas-- que na actualidade tem mais demanda.
De facto, surpreende que este tipo de estabelecimentos tenha sorteado a crise actual. "A diferença de outros comércios, não temos notado tanto a crise do Covid , mas nem lembrança a última vez que vi uma pessoa jovem entrar pela porta", confessa Ángela Gago, empregada da Filatelia Marín de Barcelona. Segundo Gago, as lojas não fecham por falta de rentabilidade , sina por motivos de aposentação ou fallecimiento do proprietário.
A fraude piramidal maior de Espanha
O grémio tem sofrido o estigma de grandes fraudes piramidales como a do Fórum Filatélico e Afinsa. Nesse sentido, Julio Allepuz, um dos coleccionistas mais importantes de Espanha , faz questão de que a filatelia não é um valor refugio ou seguro e que os que o vêem assim não são coleccionistas, sina investidores. Nessa mesma linha pronuncia-se também Monge. "A nenhum de meus clientes lhes afectou esta fraude, porque o bom coleccionista nem procura estas garantias, nem lhas crê",sublinha.
Não obstante, muitos outros caíram nesta armadilha. O caso de Fórum Filatélico e Afinsa estoirou em 2006 e para perto de 200.000 pessoas perderam parte de suas poupanças. Ambas empresas prometiam a seus clientes uma revalorização de seu investimento baixo a falsa crença de que o preço dos selos ia aumentar ano após ano, mas não foi assim . "Já temos as coisas bastante difíceis como pára que nos misturem nestes assuntos", insiste a trabalhadora Gago. Enquanto, Moge recorda, com amargura, como durante muitos anos a gente quando passava por adiante de sua loja soltava improperios por este motivo, ainda que este comportamento não era justo para o sector.
Subir ao mundo 'on-line'
Poucos comércios, a diferença da filatelia, podem presumir de estar à margem das recessões económicas. Carol Allepuz, filha do coleccionista Julio Allepuz, explica que isso se deve a que as casas de selos têm uns custos muito controlados e não precisam muito pessoal nem recursos técnicos. Ademais, seu produto não passa de moda, nem também não caduca. Outro factor que soma à fortaleza do sector, tal e como assinalava Allepuz, é que desde faz uns anos a filatelia se diversificou e já depende da venda em loja física, sina que parte de sua facturação já é on-line.
A digitalização tem suposto um salvavidas para alguns vendedores, já que têm podido aceder ao mercado internacional. Países como Grã-Bretanha, Alemanha ou França gozam de uma grande apego a esta tradição. Assim, a icónica filatelia Haeffener fechou seu negócio na rua Consell de Cent em Barcelona após três gerações para centrar na venda por internet . Ademais, segundo recorda Haeffener, a decisão de baixar a persiana de sua loja não foi fruto da pandemia, sina que foi uma medida já meditada desde fazia tempo.
O 'boom' do sector
"A forma de coleccionar, como o coleccionista, variam com o tempo. E a filatelia sempre tem tido épocas a mais efervescencia e outras de menos", assegura Haeffener, sobre o boom que sofreu o sector durante a cuarentena de 2020. Os vendedores consultados por Consumidor Global duplicaram as vendas. "A gente encerrou-se em suas casas e recordou que tinha uma colecção de selos", caçoa Haeffener. Mas, para além deste anecdótico repunte, a filatelia precisa de um público jovem para sua continuidade.
"O coleccionista quando começa se equivoca e só com a maturidade obtém a gratificación", enfatiza Allepuz, quem defende que o hábito e os valores filatélicos devem inculcarse desde a juventude.
O magro favor de Correios à filatelia
Os donos de estabelecimentos de filatelia recordam que desde Correios se fizeram várias campanhas para atrair ao público jovem. "Mas não têm tido resultado", assegura Haeffener. E ainda que Correios é a principal instituição interessada na difusão e a promoção da filatelia, suas acções deixam muito que desejar, segundo os profissionais do sector. "Desde faz uns anos a Fábrica de Moeda e Timbre propícia mais a quantidade que a qualidade dos selos", explica Allepuz.
Desta maneira, Correios financia a criação de todo um bazar filatelista que só procura a rentabilidade momentánea. "Em mais de 100 anos, do 1840 ao 1950, produziram-se 1.067 modelos de selos. Enquanto, nos seguintes 50 anos criaram-se outros 1.000. Mas do 2000 ao 2010, em tão só uma década, se emitiram 925 selos novos, o que não favorece nem protege ao sector", aponta Allepuz. Este aumento desproporcionado da produção desvaloriza os selos e afasta-se do conceito real de coleccionismo . Assim, esta falta de apoio institucional e o grande problema do relevo generacional põem à filatelia num brete. Sua folha de rota não fica clara e ao sector não lhe fica outra que esperar um milagre para se manter vivo durante uns anos mais.
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