A cultura viveu uma situação ambivalente (mas também cuadraría paradójica ou esperpéntica) durante a pandemia. O sector se precarizó ainda mais e muita gente perdeu seu emprego. Ao mesmo tempo, os confinamientos propulsaron o consumo de séries e filmes em plataformas de streaming , que desfrutaram de um aumento da despesa e as assinaturas. Igualmente, a leitura revigorou-se. A explicação mais plausible é que sem poder sair de casa, a ficção se converteu numa ferramenta para contrarrestar uma realidade.
Segundo um relatório da plataforma Roams, os lares espanhóis gastam, em media, 250 euros ao ano em plataformas de streaming. Se essa cifra divide-se entre 12, o resultado é que a cada lar investe uns 20 euros mensais em ver Netflix, HBO Max, Disney+ ou Amazon Prime. É muito ou é pouco? É mais do que gastamos em ir ver filmes às salas convencionais? E, que há do teatro ou os livros?
Seis euros ou um filme em todo o ano
Francisco Asensi, experiente em tecnologia e televisão e membro da rede Inovação Audiovisual conta a Consumidor Global que a cifra de 20 euros está na linha dos dados que apontam outros organismos, como o Observatório Audiovisual Europeu.
Para traçar uma comparação, o experiente menciona os números do Relatório Estatística da Cinematografía: Produção, Exibição, Distribuição e Alavancagem, elaborado pelo Ministério de Cultura. Este documento revela que em 2019 os espanhóis gastaram, em media, 5,9 euros em ir ao cinema. Sim, menos de seis euros em todo o ano. "A diferença com respeito às plataformas é bastante grande", reconhece Asensi. "Varia um pouco por territórios e por preço da entrada. Por exemplo, em Madri e Barcelona vai-se mais ao cinema e a entrada é mais cara", expressa. Nestes dois territórios, o dado praticamente duplica-se. Não obstante, há que ter em conta que esses seis euros são por pessoa, não por grupo familiar.
Uma mudança de modelo de consumo?
Em sintonia com estes dados, a Encuesta de Orçamentos Familiares do Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que em 2020 a despesa dos lares destinado a espectáculos (o que engloba cinema e teatro) foi de 495 milhões de euros. Isto é, uns 10 euros por pessoa. Ainda que 2020 foi um ano excepcional com muitas actividades suspendidas. "O cinema declinó ao besta em Espanha", assinala Asensi, onde teve "500 estréias menos".
"Assim que tem tido a possibilidade de voltar ao cinema, a gente tem respondido e tem ido", defende o professor. Põe, como exemplos, o sucesso de arrecadação de blockbusters como Dune ou a nova de Spiderman (Spider-Man: não way home). "Os hábitos de consumo cultural em general têm mudado, mas não tanto pela pandemia, sina pelos novos modelos de streaming . Dantes passavam anos até que os novos filmes chegavam às plataformas, agora há estréias simultâneas ou filmes que se estreiam on-line", explica Asensi.
Um mês de Netflix supõe duas entradas de cinema (ou menos)
José Vicente García Santamaría, professor da Universidade Carlos III de Madri, explica que é difícil estabelecer uma comparativa entre despesa em plataformas e despesa em cinema porque os dados das primeiras são muito opacos. Tal e como indica, uma coisa é o subscritor, a pessoa que paga, e outra diferente todas as pessoas que se beneficiam de dito pagamento. O importante é, segundo ele, o índice RPU, que mede o rendimento médio por abonado.
Isso sim: as diferenças de tarifa são muito palpables. "Com duas vezes que vás ao cinema numa grande cidade como Madri ou Barcelona, já tens o valor de uma assinatura", conta.
A despesa em livros por lar
Em 2020, a despesa em bens e serviços culturais foi de 10.485 milhões de euros. Os livros supuseram o 15,7 % dessa cifra, o que representa um volume de 1.646 milhões de euros. Há que ter em conta que se incluem também os de texto, isto é, os escolares, que podem supor uma despesa notável ao começar a cada curso. Se divide-se essa cifra entre os 47 milhões de espanhóis (o que também não é exacto, porque os bebés, por exemplo, não compram), a cada espanhol teria gastado 35 euros em livros.
É mais claro o dado por lares. Segundo o INE, há 19 milhões em Espanha. Assim, a cada lar teria gastado 86,6 euros em media em livros. É um dado nada despreciable, e as perspectivas são de crescimento: as livrarias espanholas confiam em terminar no ano com um aumento "histórico" nas vendas de um 20 %, segundo tem declarado a Confederação Espanhola de Grémios e Associações de Livreiros (Cegal).
E o teatro?
Tal e como recolhe o INE, em 2020 a despesa dos lares em espectáculos (cinemas, teatros e outros, como dança) foi 495 milhões de euros. Por meio-termo, isso representa 10,6 euros por pessoa. Se as cifras de Cultura especificam que gastamos seis euros em cinema, a despesa em teatros, musicais e espectáculos como o circo ronda, por descarte, os quatro euros por pessoa.
Neste sentido, o Anuário de Estatísticas Culturais de 2019 do Ministério de Cultura e Desporto revela que ir ao teatro é uma das actividades culturais menos praticadas pelos espanhóis, menos ainda que visitar museus ou monumentos.