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Por que Wallapop e Milanuncios se 'livram' dos limites ao pagamento em numerário?
Pode-se abonar qualquer quantidade em metálico nas transacções entre particulares, mas quer-se restringir a 1.000 euros quando se compre num comércio
Pagar em metálico é a forma mais efectiva de evitar ao fisco devido às dificuldades que supõe seu rastreamento. Por esse motivo existem limites nas quantidades que se podem abonar a tocateja e que, a dia de hoje, só permitem que um particular possa pagar, como máximo, 2.500 euros em numerário pela prestação de um serviço, como pode ser o reparo do veículo na oficina, ou pela compra de um produto numa loja, por exemplo, um computador. Se superam-se essas quantidades, a operação deve realizar-se através de um banco, bem com cartão, por transferência ou de qualquer outra forma. A questão é que fique registada. No entanto, o PSOE propõe ir um passo para além. Tem introduzido uma emenda no projecto de lei de luta contra a fraude e propõe rebajar esse topo a 1.000 euros.
No entanto, esta redução da quantidade máxima que um utente pode abonar em metálico a uma empresa ou a um profissional não afectará às operações entre particulares, também não às que se realizam através de plataformas populares de compra de artigos de segunda mão como Milanuncios, Wallapop ou Vibbo, entre outras. "Não existem limites nas transacções em metálico entre particulares nem vão existir", assegura José María Mollinedo, secretário geral do Sindicato de Técnicos de Fazenda (Gestha). Assim, por exemplo, se alguém lhe compra um sofá a outra pessoa --que não é um profissional ou um comércio-- por 3.000 euros e decide o pagar com bilhetes contantes e sonantes, não há nenhum impedimento. Apesar disso, a legislação vigente sim obriga a pagar impostos por estas transacções, ainda que a grande maioria dos negócios que se fecham com um pagamento em mãos não se declaram.
Cuidado se compras um carro ou um inmueble
A pessoa que compra um artigo a outro particular está na obrigação de pagar o imposto de transmissões patrimoniais, de cuja arrecadação se encarregam as comunidades autónomas, explica Mollinedo. Assim, o vendedor deve incluir em sua declaração do Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas (IRPF) o incremento patrimonial que tem suposto para ele a operação se tem obtido algum benefício. Neste caso incluem-se, por exemplo, produtos que disparam seu preço na reventa, como podem ser sapatilhas de edição limitada ou a PlayStation 5, pela que se chegou a pagar mais do duplo de seu preço original em plataformas digitais de segunda mão.
Mas, apesar das obrigações tributárias, controlar o pagamento de impostos destas operações é impossível para Fazenda. Pelo geral, os utentes contactam através das plataformas e efectuam a compra em metálico, sem deixar rastro. "O custo de averiguar uma a uma estas operações não vale a pena. Ainda que a Agência Tributária tivesse uma listagem de todos os anúncios, teria que chamar à cada utente e confiar em que estes dissessem a verdade sobre se se fechou a venda ou não. É impossível controlá-lo", sublinha o secretário geral de Gestha. No entanto, a venda de veículos e de inmuebles sim que está mais controlada em relação ao pagamento de impostos como há que fazer uma transmissão da propriedade, a qual tem que ficar registada. Ainda que uma das argucias típicas na aquisição deste tipo de bens é o pagamento de uma parte do total do custo em metálico, algo que beneficia tanto ao comprador como ao vendedor. Nesse sentido, a redução das quantidades máximas propostas, "longe de ser a panacea", sim que pode conseguir que "a gente lho pense mais" ante de actuar deste modo, assinala Luis do Amo, secretário técnico do Registro de Economistas Assessores Fiscais (REAF).
Pouca preocupação nas plataformas de segunda mão
Sobre esta mudança nos limites dos pagamentos em numerário, Milanuncios assegura que, por enquanto, não pode determinar o impacto real que terá entre seus utentes como ainda se encontra em trâmite parlamentar.
"Em qualquer caso, existem numerosas e variadas alternativas seguras que permitem o pagamento sem necessidade de usar dinheiro em numerário, pelo que não consideramos que vá supor nenhum impedimento", aseveran. Ademais, sublinham seu compromisso de "acompanhar e facilitar aos utentes" o cumprimento das leis.
Sanções que podem danificar o bolso
Segundo as estimativas de Gestha, a economia submergida supõe entre o 22 % e o 25 % do PIB espanhol. Assim, na luta contra a fraude fiscal, Mollinedo assinala que o maior impacto da medida proposta tem que ver com a prestação de determinados serviços habituais entre os utentes, como podem ser, por exemplo, de fontanería, reparos de veículos ou de cerrajería, entre outros. Em muitas ocasiões, quando o profissional fecha o orçamento para o cliente, lhe oferece a possibilidade do clássico com IVA ou sem IVA. "A tentación para o consumidor final é muito alta, mas consideramos que a medida é positiva nesta linha, porque pensar-lho-á duas vezes dantes de actuar assim ante a possibilidade de ser sancionado com até um 25% do custo e perder mais dinheiro do que se pode poupar", considera Mollinedo.
Mas, no caso de que um utente se arrependa de ter aceitado uma operação deste tipo dispõe de três meses desde a realização do pagamento ilegítimo para notificar à Agência Tributária e evitar assim a sanção. "Se uma das partes comunica-o de forma voluntária, entende-se que há boa fé e se multa a quem não o tenha notificado ou o tenha feito mais tarde. Isto é, se as duas partes notificam-no, ainda que seja na mesma manhã e com uma diferença de 10 minutos, sanciona-se ao que o tenha comunicado mais tarde", assegura. Apesar de que a fraude varejista é uma realidade e de que "o 80 % do modelo da Agência Tributária se dedica a pesquisar estes incumprimentos", Mollinedo confessa que, em realidade, lhes interessam mais as fraudes que podem cometer as grandes empresas e não alguns particulares.
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