Os repartidores --riders-- das plataformas digitais como Glovo, Deliveroo, Uber Eats e Stuart deixarão de ser autónomos e converter-se-ão em pessoal trabalhista. Salvo que prove-se o contrário. Assim o lembraram, depois de intensos debates, o Governo, os sindicatos, a CEOE e Cepyme no marco da mesa do diálogo social. No entanto, o impacto desta medida ainda não está claro. "O texto ainda não é definitivo e pode ter mudanças", aseveran a Consumidor Global fontes do sector. Assim mesmo, apontam que ainda é cedo para avançar os possíveis palcos, ainda que recalcan que existe "preocupação" pela nova regulação.
Nesse marco de palcos possíveis, duas opções apanham força. O encarecimiento dos serviços de partilha das plataformas e que estas deixem de operar em algumas pequenas cidades espanholas por uma questão de rentabilidade. Para além disso, fontes cientes dos debates internos destas empresas aseveran que "não existe uma preocupação dramática pela viabilidade do negócio, sina mais bem pela necessidade de realizar ajustes". Isto é, a possibilidade de que alguma destas companhias abandone o país, ao menos no curto prazo, não está sobre a mesa.
Quanto subirá o preço?
Os acordos da mesa do diálogo social ainda não se têm plasmado no Boletim Oficial do Estado (BOE). O documento tem que passar por diferentes trâmites e, ainda que não há uma data definida para a aprovação do texto definitivo no Conselho de Ministros, desde o sector prevêem que esta pode chegar em meados de abril. No momento no que isto se produza, as plataformas digitais disporão de um prazo de três meses para adaptar ao regulamento. Isto é, se confirmam-se as previsões, as empresas teriam até julho para laboralizar os contratos de seus repartidores.
"O que percebo é que estavam a exagerar suas declarações de que iam ter que fechar. Terá alguns lugares nos que não será rentável, mas manterão sua actividade nas grandes cidades", assegura a este médio Bernardo Navazo, um dos autores do relatório As plataformas digitais baixo demanda em Espanha, publicado pela Fundação Alternativas no final de 2020. Por outro lado, estima que o custo por envio nestas plataformas aumentará entre um e dois euros por pedido. "Realmente sua demanda é tão inelástica que por um incremento assim vão perder uma base de clientes grande? Não o creio. E menos quando seus consumidores têm um perfil socioeconómico médio-alto, atirando a alto", reflexiona este experiente. Calcular o impacto percentual desse possível incremento não é tarefa fácil dado que a cada plataforma opera de forma diferente. Assim, por exemplo, Deliveroo e Stuart ajustam esse custo em função da distância entre o local e o utente final. No entanto, a tarifa de Glovo é de 4,9 euros, por tanto, uma subida de um ou dois euros significaria um incremento dentre o 20 e o 40 % de seus envios.
O enfado das plataformas
Após o acordo entre sindicatos, patronales e o Governo, as plataformas digitais publicaram um duro comunicado para queixar-se do mesmo. "As plataformas de delivery seguimos vendo com muita preocupação o futuro do sector e o efeito que a laboralización forçada proposta pelo Governo poderia ter no colectivo de repartidores", afea à CEOE e ao Ministério de Trabalho a Associação de Plataformas de Serviços baixo Demanda, que engloba às principais plataformas de partilha de comida em Espanha --Deliveroo, Stuart, Glovo e Uber Eats--.
Os cálculos do sector apontam que o desaparecimento do serviço em cidades de menos de 100.000 habitantes e a redução dos horários poderia fazer que, dos 30.000 repartidores que operam com estas plataformas, um 76 % --23.000-- "perderia sua fonte de rendimentos". Por outro lado, estimam que "nos 12 meses seguintes a uma transição ao modelo de frotas, perder-se-iam mais de 250 milhões de euros de rendimentos adicionais para os restaurantes".
"Espanha não é Estados Unidos"
Navazo assegura que leva vários anos em contacto com as plataformas de delivery em Espanha e considera que o marco jurídico nacional contemplava opções suficientes para não ter aos riders como autónomos. "Era uma indefensión pela perda de determinados direitos e tinha uma sensação de que estavam fora do sistema", argumenta. Por outro lado, opina que estas empresas têm passado por diferentes debates e estratégias narrativas para justificar suas posturas. Assim, apesar de que num princípio defendiam uma posição libertaria escudándose na liberdade e flexibilidade necessária para ser empreendedores, "agora lhes toca lidiar com a realidade. Seus repartidores são empregues trabalhistas e têm perdido todas as batalhas jurídicas", afirma.
Em sua opinião, que estas plataformas possam deixar de operar em algumas cidades é uma perda de eficiência e o lamenta, mas defende que os riders ganharão em direitos. Como saber que se têm um acidente vão estar cobertos pela Segurança Social, por exemplo. "As plataformas vão ter que aceitar uma coisa que nos tivesse poupado a todos muitas brigas e discussões se faz um par de anos tivessem interiorizado que Espanha não é Estados Unidos e que aqui gostamos que da gente tenha certas coberturas", esgrime Navazo.