Voar para as ilhas Seychelles pode ser para muitos a viagem dos seus sonhos. Mas ir a este paraíso do África Oriental não costuma ser precisamente barato. Por isso, é normal que haja quem decida preparar as suas férias antecipadamente e rastreie a fundo até encontrar ofertas chamativas. Após uma árdua pesquisa aparece um preço muito razoável sem esquecer a exclusividade destas ilhas do Oceano Índico: uns 900 euros por bilhete com a companhia aérea Etihad Airways.
Oito meses antes das férias, em janeiro, um casal decide comprá-los para não perder a oportunidade de visitar este destino paradisiaco. Saída desde Barcelona, escala em Abu Dhabi e aterragem final na ilha Mahé. Todos os alojamentos e planos reservados para viver uma experiência única e irrepetível.
Etihad ou como arruinar uma viagem de sonho
No entanto, estes dois viajantes viram os seus planos interrompidos por culpa de um cancelamento a dois meses de subir ao avião por parte da companhia Etihad. "Estimado cliente. O seu voo foi cancelado devido à mudança de horário. Iremos solicitar um reembolso à companhia aérea. Se o pedido for aceite, processaremos o seu reembolso".
Raiva, impotência e tristeza são três sensações que resumem bem o que pode ser uma reacção a uma mensagem deste tipo. Mytrip, a agência com a qual contrataram a viagem, enviou este email a 9 de junho. "Ainda bem que os alojamentos tinham cancelamento e recuperámos esse dinheiro", conta a afectada.
Bilhetes mais do dobro do preço
Se quiserem ir para as Seychelles nessas datas, têm agora de comprar novos voos a mais de 2.000 euros por bilhete, mais do dobro do que custavam no início do ano. "Não podemos pagar estes preços, vamos acabar por ficar sem as Seychelles", lamenta.
A suspeita deste casal e a de muitos outros afectados é que, efectivamente, a companhia aérea emiratí aproveitou o entusiasmo dos consumidores por essa viagem para, dentro do prazo legal, cancelar o voo e obrigar a comprar bilhetes em temporada alta mais caros.
Como as companhias aéreas "atam" os seus clientes
"As companhias aéreas tratam de prender as pessoas a esse destino que planearam há meses. Protegem-se com o cancelamento dentro do prazo legal e só têm que pagar o reembolso sem indemnização", descreve à Consumidor Global Ekaitz Bacelo, CEO do portal Reclamaciondevuelos.com.
Um autêntico negócio com o que companhias como a Etihad empregam técnicas de engenharia social para jogar com a ilusão do destino sonhado. Tal como assinala Bacelo, esta é uma prática que aumentou após a pandemia, aproveitando o aumento da procura de voos. "As companhias aéreas estão a antecipar os lucros ao bom serviço ao cliente, é algo terrível", diz.
Como reclamar
Bacelo afirma que esta prática não é isolada e se repete em muitas companhias aéreas, "especialmente nas de baixo custo, mas agora estamos a atender muitos casos de empresas de elevado rácio como é a Etihad", acrescenta. Por outro lado, este especialista em reclamações a companhias aéreas lembra que nem tudo está perdido e que há a possibilidade de reclamar por estes truques.
"Quando se dão anulações deste tipo, as companhias devem proporcionar alternativas o mais similares possível ao que se cancelou". É por isso que Bacelo anima a todos os clientes que tenham comprado um dos bilhetes mais caros a reclamar a diferença de preço face ao valor original que se pagou.
Indemnização por prejuízos
"Os consumidores devem saber que têm direito ao pagamento dessa diferença. O primeiro que têm de fazer é reclamar à empresa e, se não procede ou põem travões, então ir a empresas especializadas para reclamar esses danos", diz. Por outro lado, o advogado e colaborador de AMG Legal, Javier Risueño, indica que também se podem reclamar indemnizações pelos "prejuízos causados e a má fé da companhia". Segundo Risueño, esta opção seria inclusive mais benéfica para o cliente que apenas solicitar a diferença de preços.
Este meio tentou contactar de forma reiterada com as equipas nacionais e internacionais de comunicação da Etihad Airways. No entanto, não obteve resposta alguma até ao termo da reportagem.