Se és condutor de um carro diesel da marca Peugeot, Citroën ou Opel fabricado após 2015, provavelmente a palavra Adblue resulte-te muito familiar. É que este sistema desenhado para reduzir emissões continua a somar afectados ao que parece ser um problema sem solução.
O que deveria de ser um mecanismo benéfico para condutores e meio ambiente converteu-se num autêntico quebra-cabeças constante que se traduz em visitas repetidas à oficina, orçamentos elevados que o cliente tem que pagar (uns 1.500 euros) e silêncio por parte dos fabricantes. Estes limitam-se a aplicar pequenos remendos que não acabam com o problema, e só se o carro está na garantia.
Um problema de fábrica
Agustín Fernández é um dos muitos afetados que se deparou com esta falha recentemente. A um mês de finalizar a garantia de dois anos do seu Peugeot e-Rifter, a luz de aviso avisou-lhe que era necessário rever o depósito de Adblue e ir à oficina. "Fui lá, e aproveitei para mudar o óleo", lembra.
Dessa primeira visita em novembro de 2022 estranhou que na factura não lhe especificassem a intervenção sobre o Adblue. "Não me disseram nada do que fizeram, só me aparecia a mudança de óleo que paguei", diz este utilizador à Consumidor Global. A outra factura, explica, ficou com o fabricante ao ser uma intervenção em garantia que corria a cargo da Peugeot.
Três visitas à oficina em cinco meses
Mas a sua odisseia não acabou aí. Aos cinco meses, o carro voltou a sofrer o mesmo problema e de novo acendeu-se a luz de aviso de revisão do depósito de Adblue. Desta vez, ao estar fora da garantia a oficina cobrou-lhe 276 euros por mudar o injetor do líquido de ureia. "Arranjaram-me o mesmo que cinco meses antes, não entendia nada, mas precisava o carro de modo que paguei e o retirei da oficina", conta.
Dizem que não há duas sem três. Não passou nem um mês da última visita quando no início de maio voltou a saltar o mesmo aviso. "Desta vez dizem-me que há é preciso mudar o sistema inteiro, uns 1.670 euros, mas que me aplicam 50% de desconto cortesía da casa", conta o condutor com indignação.
Mais de 1.000 euros
"É uma selvajaria que só com 43.000 quilómetros e com menos de dois anos me toque engolir com tudo isto e Peugeot simplesmente ignore", critica. Este consumidor negou-se a consertar o veículo e fez uma reclamação ao grupo Stellantis (Peugeot, Citroën, Opel) e à oficina oficial.
A resposta do concessionário é que não podem fazer mais desconto. "Em resumo, querem-me cobrar 1.670 euros por uma avaria que em media é de 1.500 euros, menos os 50% que aplica a casa, 835 euros". A isso há que somar os 276 euros que teve que pagar por mudar o injetor na sua segunda visita à oficina. Ao todo, 1.111 euros e "tengo que estar agradecidos pelo desconto, é um disparate", conclui Fernández.
Manutenção e conselhos
Nas redes crescem a cada dia os fóruns e grupos de afectados nos quais se partilham possíveis soluções para prolongar a vida dos veículos danificados e evitar altos custos na oficina. E onde há que pôr especial atenção se um veículo tem Adblue? Tal como explica o mecânico e divulgador Ángel Gaitán, o injetor do depósito é "o elemento que vai ficar mais sujo e causar mais problemas".
É que a maioria de inconvenientes do Adblue vêm pela cristalização do líquido. "Os fabricantes dizem que não requer manutenção, mas é importante limpar o injetor porque, caso contrário, pode-se estragar o catalizador", aponta o perito, que recomenda rever esse elemento com frequência e limpá-lo com um pedaço de metal.
Stellantis desliga-se
Do grupo Stellantis, proprietário da Peugeot, Citroën e Opel, limitaram-se a afirmar a este meio que as suas marcas "garantem absolutamente o cumprimento do regulamento em matéria de consumo e emissões em vigor".
Além disso, acrescentam que a garantia que oferecem aos seus clientes tem "coberturas superiores às legalmente estabelecidas". Uma mera resposta corporativa que de pouco serve para os milhares de condutores que hoje continuam sem uma solução ao problema e vivem com o medo de que nalgum momento se acenda essa temida luz junto ao volante.