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Um casaco da Zara com uma etiqueta da Shein: 'fake' ou descuido da Inditex?

Uma utilizadora do TikTok difundiu um vídeo de uma jaqueta da marca galega que tem no seu interior uma insígnia com o logo do gigante asiático

Núria Messeguer

zarashein

O mundo TikTok não deixa de surpreender, após pôr na moda o lubrificante vaginal como base de maquilhagem, aparece outro vídeo do mais inquietante e relacionado com um dos gigantes da moda: Zara.

No clip de não mais de 50 segundos, uma utilizadora foca na sua jaqueta preta, tipo bomber. A peça tem uma etiqueta da Zara costurada na parte superior central, por trás do que seria o pescoço. Até aqui tudo correcto e normal, no entanto, a rapariga continua a gravar e foca as etiquetas do interior, aquelas onde se explica a composição da roupa, a origem e cuidados de lavagem. É então quando num destes distintivos se vê o nome da Shein, o gigante asiático têxtil, conhecido por vender a roupa a preços baixíssimos e com uma qualidade muito discutida. Será um fake ou um descuido da Inditex ?

Muitas teorias

O vídeo acumula 2,7 milhões de visualizações, tem 20.000 comentários e foi partilhado 65.000 vezes. Anya, a tiktoker que o gravou, acrescenta ao pé de foto "excuse me Zara, I want a refund" --lamento Zara, mas quero um reembolso--.

As teorias que se formulam são várias ainda que se destaquem três: a primeira, e a mais aclamada, é que a Zara e a Shein fabricam na mesma instalação, situada na China, e que por erro se colou a etiqueta da empresa asiática. A segunda, algo mais rebuscada, é a que aponta que Shein está a etiquetar a sua roupa com a insígnia da Zara para captar potenciais clientes. E a terceira, e provavelmente a mais realista, é a que se trata de uma montagem para ganhar popularidade, que a jaqueta originariamente é da Shein e que a tiktoker depois costurou o emblema da empresa matriz da Inditex para o vídeo.

Ganhar 'followers'

"Seja qual seja a teoria correcta, isto afecta a reputação da Zara", considera Neus Soler, professora de Economia e especialista em Marketing da UOC. Na opinião desta analista, a Zara sempre se orgulhou de desenhar as suas próprias colecções e "se partilha fa ábrica com a Shein esta teoria de desenho único desintegras-se".

Soler descarta totalmente a hipótese de que a Shein esteja a etiquetar os seus produtos com o logo da Zara. "Isso representaria um delito, e não acho que se metam neste tipo de aventuras, não lhes interessa", sublinha esta especialista. "Com tudo o que se viu nas redes , não me surpreenderia que a rapariga tenha costurado a etiqueta da Zara numa peça da Shein para fazer o vídeo viral e ganhar seguidores", acrescenta. E esta teoria tem muito sentido, já que todo o bom consumidor da Zara sabe que nas etiquetas da marca estão desenhados uns símbolos --um quadrado, um triângulo ou um círculo--. Estes situam-se ao lado da cada tamanho e servem para determinar a seção da cada artigo na loja. E no vídeo do TikTok a etiqueta da jaqueta não tem nenhum símbolo. Além disso, como tem verificou a equipa da Consumidor Global, o casaco original tem um logo negro, ao contrário do da rede social, que o tem em branco.

A sofisticación da Zara

A Shein foi fundada na China no ano 2008, e apresentou-se ao consumidor como uma solução para evitar as longas filas das lojas físicas e com desenhos adaptados a todo o tipo de corpos. "Todos têm direito a desfrutar da beleza da moda", dizia então o seu eslogan. Treze anos depois, a marca chinesa conseguiu erguer-se como líder na moda low cost mundial, com presença em mais de 200 países, e é uma das companhias que mais cresceu durante este ano.

E, ainda que a Inditex e a companhia sueca H&M continuem a ser os líderes indiscutíveis do fast fashion, a Shein segue-as muito de perto. No entanto, a empresa asiática ainda não consegue tirar a conotação de bugiganga da mente dos consumidores. "Quando o consumidor entra na Zara pensa que compra moda, uma aproximação ao pret-a-porter, ao que se usa agora", explica Soler. Na verdade, este foi o segredo do triunfo da Zara, "democratizar as tendências entre o comum dos mortais". E ainda que, da mesma forma que a Shein, a roupa comercializada pela Zara é fabricada em massa no terceiro mundo, "a percepção de compra do consumidor é totalmente diferente, é mais sofisticada". Por isso, este tipo de vídeos "afetam a reputação da Zara e favorecem a da Shein", segundo a especialista.

O Arremesso da Shein

Os Estados Unidos é actualmente o maior mercado da Shein. Só neste ano conseguiu mais descargas da sua app que a próprio Amazon. Na verdade, a sua aplicação é uma das mais utilizadas em 50 países de todo o planeta. Também é o site de moda e acessórios mais visitado do mundo segundo as analíticas.

Na verdade a Shein ostenta um volume de produção e envios descomunal. Segundo o portal Trendencias, a marca carrega no site 1.000 peças novas por dia, isto é, cerca de 350.000 por ano. Uma actividade que tem suscitado reticencias relativamente à sua sustentabilidade, ainda que isso não tenha afectado a sua popularidade, sobretudo no público feminino mais jovem, a Geração Z, que é o seu principal objectivo. Conseguirá a Shein derrocar a Zara?