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O Governo acusa a Ouigo de vender bilhetes "muito por embaixo do custo" e ameaça com denunciá-la

O ministro de Transportes considera que a operadora francesa terá que subir os preços "indefectiblemente"

Isabel Martínez

avant renfe

O Governo está descontentamento com os bilhetes de comboio baratos que vende Ouigo. O ministro de Transportes e Mobilidade Sustentável, Óscar Ponte, tem reconhecido que está a estudar diferentes fórmulas para fazer frente às práticas "profundamente desleais" da francesa Ouigo nos corredores de alta velocidade onde opera e nos que compete com outros operadores, como Renfe e Iryo.

Ponte, que calibra inclusive ir à Comissão Nacional dos Mercados e a Concorrência (CNMC), tem denunciado que os preços de Ouigo estão "muito por embaixo do custo desde o princípio", e ademais "têm arrastado" a Iryo e a Renfe "a uns resultados muito maus em corredores que eram altamente rentáveis".

Os preços são "insostenibles"

"A liberalização ferroviária tem trazido coisas positivas, evidentemente tem aumentado a oferta, tem reduzido os preços, mas reduziu-os até um nível que é insostenible para as três competidoras. A competição tem que ser em boa lid e tem que permitir que as três empresas obtenham benefícios ou, no mínimo, não tenham perdas", tem argumentado Ponte.

Vários comboios de Renfe na estação Almudena Grandes-Atocha / Jesús Hellín (EP)

Assim, e dadas as perdas próximas aos 40 milhões de euros anuais de Ouigo, Ponte acha que "indefectiblemente" a empresa gala terá que subir os preços. "A não ser que a operadora francesa esteja na ideia de perder dinheiro os dez anos que têm neste momento comprometidos de presença nos corredores de alta velocidade mais rentáveis de Espanha, terá que subir os preços. É que não há outra solução", tem sublinhado o ministro.

Contactos com o governo francês

Perguntado por que medidas tomará para evitar que Ouigo siga cometendo o que tem qualificado de "dumping", Ponte tem assinalado que "o primeiro que tem feito é o fazer público por terra, mar e ar e com toda a intensidade do mundo". O ministro tem afirmado ademais que também tem falado com o Governo francês.

Isto se deve a que à suposta concorrência "desleal" em Espanha com Ouigo se acrescenta o facto de que é "tremendamente complicado" para Renfe entrar no França. "Não há uma equiparación nas condições nas que esta operadora (Ouigo) tem entrado em Espanha com as que nós temos no França", tem declarado.

Um comboio de Ouigo na estação de Atocha em Madri / EP

Proteger a Renfe

"Meu dever como ministro deste país é proteger a Renfe, porque protegendo a Renfe estou a proteger o transporte ferroviário em nosso país. Essa é a razão de que seja necessária uma empresa pública de transporte", tem apontado Ponte.

O ministro tem recordado que Renfe é a empresa que presta serviço nos corredores onde não todo mundo quer entrar. "Fala-se muito do comboio a Extremadura , do comboio a Galiza , aí não verá você a estas companhias entrar, porque isso não é rentável. O que dá serviço nesses corredores é Renfe", tem sublinhado.

Preço dos cánones

Os cánones ferroviários que Adif cobra aos operadores ferroviários chegaram a representar até o 91% do preço dos bilhetes postos à venda por Iryo no primeiro trimestre de 2023 e em torno do 49% no caso de Ouigo.

Assim figura num relatório da Comissão Nacional dos Mercados e a Concorrência (CNMC) publicado no Boletim Oficial do Estado (BOE) com respeito à linha de alta velocidade entre Madri e Barcelona. O regulador conclui que os cánones em Espanha para os serviços de viajantes são os terceiros mais altos de Europa, só por trás dos do França e Reino Unido, ainda que também destaca que a rede espanhola é a mais extensa do continente.

O interior de um comboio Avlo / RENFE

Menos tráfico que outras redes

No entanto, quanto ao uso da rede, Espanha desce até a 18ª posição, tendo quase 4 vezes menos comboios circulando que na rede francesa de alta velocidade e para perto de 6 vezes menos passageiros que no país vizinho.

Em frente a este pouco aproveitamento da rede, a CNMC destaca que a entrada da concorrência tem disparado o número de viajantes. Neste sentido, a inauguração da alta velocidade a Barcelona em 2008 incorporou 1,35 milhões de novos passageiros nessa linha de comboio, em frente aos 1,75 milhões que tem incorporado a entrada de novas companhias em concorrência com Renfe.

Descenso de preciso

O regulador também corrobora o descenso de preços experimentado nos bilhetes de alta velocidade desde a estréia de Ouigo e Iryo, com um preço médio dos AVE de 65,6 euros, em frente aos 32,9 euros de Ouigo e os 33,3 euros de Iryo no Madri-Barcelona.

Um comboio de Iryo, a companhia 'low cost' que compete com Ouigo e Avlo / ROBER SOLSONA - EP

Daí que o peso dos cánones nos AVE seja de só o 32%, mas chegue ao 49% em Ouigo e ao 91% em Iryo. Não obstante, Renfe também aplica preços muito baixos em seus comboios low cost (Avlo), nos que o preço médio é de 39,9 euros, com uma percentagem de cánones de 49%. Para o ministro de Transportes, Óscar Ponte, o problema não são os cánones, sina os preços que os novos operadores estão a oferecer e que têm arrastado a Avlo à mesma situação.