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Vanessa Salamanca (Distroller): "A idade em que as crianças desistem dos brinquedos foi antecipada"

Entrevistamos a embaixadora em Espanha da popular marca de brinquedos para saber como se apresenta a campanha de Natal e quais serão as principais novidades

Vanessa Salamanca, embaixadora da Distroller em Espanha, em frente de um mural da marca mexicana.
Vanessa Salamanca, embaixadora da Distroller em Espanha, em frente de um mural da marca mexicana.

As crianças já não jogam na rua. Rayuela? Que é isso? Cada vez são menos os que brincam ás kitchenettes. As pequenas da casa, para comodidade dos adultos, estão viciados em ecrãs móveis e tablets. E fazem-no numa idade mais precoce. "Antes, as crianças tinham jogos tradicionais e brincavam com bonecos até os 10 ou 11 anos. Agora, essa idade foi reduzida. O target, se queremo-lo esticar, é até os 8 anos", expõe a este meio a embaixadora da empresa mexicana de brinquedos Distroller, Vanessa Salamanca. De facto, mais de 25% das crianças de 10 anos têm telemóvel em Espanha.

 

Os Ksimeritos da Distroller, o seu boneco estrela, calcaram Espanha pela primeira vez em 2018. Desde então, a empresa de brinquedos abriu 22 lojas físicas no El Corte Inglês (17), Toy Planet (4) e Drim (1). Mas também se podem encontrar nalguns estabelecimentos de Carrefour e Juguettos. Como tem conseguido a empresa latino americana converter-se num referência do sector do entretenimento infantil em Espanha na era digital? Que têm de especial os seus brinquedos? A máxima autoridade da marca na península conta-no-lo.

--Como se integrou Distroller entre as meninas e meninos espanhóis?

--Quando a marca chegou a Espanha, muitos meninos já conheciam a Ksimerito. Tinha muitas vendas encobertas de pessoas que viajavam para o México e os traziam para aqui. No natal de 2018 produz-se um boom e muitos consumidores foram atrás deles. Chegamos com um reconhecimento de marca importantíssima. E, a partir daí, não deixámos de crescer.

--22 lojas em quatro anos são muitas lojas…

--O nosso grande partner, El Corte Inglês, propôs-nos duplicar o número de lojas depois do sucesso de vendas desses Natais. E isso fizemos. As nossas lojas são uma experiência imersiva na qual, quando a criança chega, tentamos que se sinta dentro do mundo Distroller. Depois, atravessamos o período de pandemia, com o encerramento de comércios incluído, e inclusive então, El Corte Inglês propôs-nos criar novos espaços. Neste ano abrimos em Marbella e está em caminho uma nova loja em Madrid.

--As crianças querem ver e tocar o brinquedo antes de comprá-lo?

--O que nos diferencia da nossa concorrência é a experiência. Temos uma personagem, a nossa enfermeira Tania, que está no ponto de venda e é a que gera esse vínculo com o público. No final, as crianças querem ir no ponto de venda e tocar, ver, cheirar e que a enfermeira brinque com eles. É uma personagem que os leva a um mundo de fantasía, e lhes activa a criatividade e a imaginação.

Una tienda de la marca mexicana en El Corte Inglés de Valencia
Uma loja da marca mexicana no El Corte Inglês de Valência

--Ainda não estão presentes em muitas cidades, pelo que haverá crianças que não possam ir à loja física…

--A pandemia criou mais suportes digitais e as crianças afastaram-se das lojas. Sabemos que é complicado ir aos nossos 22 pontos de venda e estamos a trabalhar numa experiência de digitalização do processo de compra. Queremos criar uma experiência virtual dentro do metaverso. Assim poderemos chegar a estas crianças que não podem ir aos nossos pontos de venda físicos.

--A Distroller estará no metaverso?

--O metaverso ainda é algo muito incipiente, mas as crianças estão no mundo digital. E, ainda que não estejamos em todas as cidades, a venda on-line dos nossos produtos sim chegam a todas partes. Por isso queremos fazer crescer este canal de venda. A experiência com a enfermeira Tania faz parte do produto e queremos aproximá-la a todos através do mundo virtual do metaverso. Em 2023 lançaremos o modelo virtual da enfermeira Tania para favorecer a omnicanalidade.

--Qual é vossa percentagem de vendas on-line?

--O canal on-line teve muito peso durante a pandemia, mas, hoje, não representa mais de 10%.

--Quais são os vossos brinquedos mais vendidos?

--Dentro das nossas principais categorias (Neonatos, Chamoy Amiguis e parte de licenças), a mais vendida é Neonatos, e, mais especificamente, os Ksimeritos, que se compõem de diferentes famílias. Temos os básicos, que são o número um em vendas. Todos os anos lançamos edições especiais, com uma temática especial, e esgotam-se. Mas, ao final, sempre voltamos ao back to basics.

Vanessa Salamanca besa a un Sorpresito, uno de los muñecos de la marca mexicana
Vanessa Salamanca beija um Sorpresito, um dos bonecos da marca mexicana

--Por que triunfam os Ksimeritos?

--São as personagens mais reconhecidas. São uns recém-nascidos, que vêm numa nave, e caem no planeta Terra e a enfermeira Tânia encontra-oa. Como são muitíssimos, precisam de pais adoptivos para que ajudem Tânia a cuidar de todos. Este storytelling é o que gera o vínculo com os pequenos.

--Como afetou a inflação o setor do brinquedo? Subiram preços?

--Nós apostamos por manter preços. Os Ksimeritos clássicos, por exemplo, não vão ter subida de preço. De facto, custavam 38-40 euros em 2018, e este Natal, para ajustar às necessidades do mercado, estarão a 32 euros. As edições especiais saem por cerca de 35-38 euros, e o produto mais caro, que é uma edição limitada de 1500 unidades, o novo Ksimerito volador, custará uns 59 euros. O Ksimerito clássico manteve-se, mas outros produtos sim subiram um pouco, entre 3 e 4%, tal como têm feito o resto de marcas.

Algunos de los nuevos muñecos de la empresa mexicana de juguetería / CEDIDA
Alguns dos novos bonecos da empresa mexicana de brinquedos

--Preveem-se novidades nos próximos meses?

--Temos mais de 15 desenvolvimentos por ano e lançamos novidades a cada três meses. Na campanha de Natal faremos três lançamentos: teremos nossos clássicos, e, além disso, lançaremos um recem-nascido especial que, por causa de uma explosão, ficou encalhado na montanha. As crianças terão que fazer um pouco de espeleología. Deverá romper uma capa, a rocha, e daí sai o bebé. Ao mesmo tempo, lançaremos outro boneco que destaca a importância das abelhas no mundo.

--Que expectativas têm face à campanha de Natal?

--A campanha de Natal representa 70% de nosso volume de negócio, mas este vai ser um ano muito difícil quanto a vendas. A carteira do consumidor não passa pelo seu melhor momento devido à subida de preços generalizada. Se antes o talão médio estava em cerca de 200-250 euros no Natal, neste ano não acho que supere os 150 euros. Se antes compravas-lhe quatro brinquedos ao teu filho, agora comprar-lhe-ás um e que não seja o mais caro. Vamos para uma recessão importante.

--Também vos afecta a dura concorrência de telemóveis e tablets?

--A pandemia levou os mais pequenos a ambientes digitais. Nós tentamos que voltem ao jogo tradicional e afastar dos aparelhos electrónicos. A pandemia trouxe problemas no desenvolvimento social e cognitivo, e nós tentamos voltar a socializá-los. Que desenvolvam a criatividade, a motivação e a psicomotricidade. Não só procuramos desenvolver um boneco, trabalhamos com os sentidos. Damos-lhes textura, para que a criança sinta. Damos-lhes cheiros, que ativam a imaginação. E cores. No final, um videojogo é um ecrã que carece desta experiência física. Não é o mesmo um ecrã que trabalhar esses valores e sentidos que te aproximam ao mundo real. A vida não é um videojogo. A vida são coisas reais com as quais te relacionas.

--Até que idade brincam os meninos com brinquedos? Reduziu-se?

--Sim. Sem dúvida. Reduziu-se. Antes, os mais pequenos tinham jogos tradicionais e brincavam com bonecos até os 10 ou 11 anos. Agora, o nosso target, se o queremos esticar, chega até os 8 anos. E isso que nossos bonecos são tão atraentes que geram modas e há quase adolescentes que os têm e brincam com eles com as suas irmãs pequenas.

--Os vossos bonecos são mais para meninas?

--Os fãs da Distroller são meninas praticamente na sua totalidade, mas também temos muitos pais adotivos. Atrever-me-ia a dizer que entre 10 e 15% dos nossos pais adotivos são rapazes. Somos uma marca inclusiva e desenvolvemos brinquedos para os mais pequenos independentemente do sexo.

--Como definiria numa frase a filosofia da Distroller?

--Uma marca de desenho e entretenimento infantil, 102% mexicana e inclusiva, na qual destaca a experiência, a cor e a história que há por trás da cada brinquedo.

--Onde fabricam os seus brinquedos?

--Nós sempre fabricámos na China, mas, atualmente, com todas as circunstâncias que nos rodeiam --problemas com matérias-primas, dificuldades logísticas, subida de custos do transporte, etc--, estamos a procurar novas zonas de produção, como Espanha. A parte de acessórios, como berços e têxteis, é fabricada no México.

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