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Tesa Díaz-Faes (Pescanova): "Não vamos deixar de comer polvo por causa dos ativistas dos animais"

A diretora de relações institucionais da multinacional galega fala sobre as novas massas feitas de peixe, as tendências de consumo e as polémicas quintas de polvos

Teo Camino

Tesa Díaz-Faes, diretora de comunicação da Pescanova, com macarrão de bacalhau na feira de frutos do mar em Barcelona/CG

O Grupo Nova Pescanova lidera confortavelmente a venda de produtos do mar em Espanha, e pretende manter o primeiro posto com os seus produtos estrela --camarão e pescada--, com sua nova gama Massas do mar e com a abertura em 2022 da primeira quinta de polvo do mundo na Gran Canaria, uma produção industrial de aquacultura que levantou as sobrancelhas entre animalistas e cientistas.

Um cozinheiro da Pescanova com os produtos da massa do mar / PESCANOVA

É ético criar polvos? Vários estudos científicos concluem que "os polvos são seres sencientes" e que "sua reprodução com alto bem-estar é impossível". Por isso, no âmbito da feira Seafood Expo Global 2022 de Barcelona, perguntamos à directora de comunicação e relações institucionais do Grupo Nova Pescanova, Tesa Díaz-Faes, por este e outros temas relacionados com os hábitos de consumo dos espanhóis.

--Que novidades tem a Pescanova este ano?

--"A grande novidade são o macarrão de bacalhau (2,40 euros) e os de salmão (2,40 euros), que ganharam o prémio de Melhor produto de venda a retalho na Seafood 2022. Ambos fazem parte da gama Massas do mar, formada por produtos refrigerados tão inovadores como saudáveis criados em conjunto com o chef Ángel León".

--Os espanhóis já não querem cozinhar?

--"Com Massas do mar a ideia é fazer o peixe acessível ao consumidor e que o possa comer sem cozinhar --preparam-se num minuto no microondas ou na frigideira--. Neste sentido, é disruptivo porque é uma forma muito diferente de comer peixe. Além disso, é um alimento sem glúten e rico em proteínas. Com o ritmo de vida atual, os espanhóis procuram produtos já preparados que sejam saudáveis".

--Quem come massa feita de pescada, salmão ou bacalhau?

--"São produtos mais focados no público jovem, ainda que também têm boa acolhida entre a gente mais velha. Os meus pais continuarão a cozinhar, mas aos jovens custa-lhes mais fazer um peixe no forno".

--Qual é vosso produto mais vendido?

--"O produto estrela de sempre é o camarão, os famosos Rodolfos, e também vendemos muita pescada".

Uma caixa de camarões Rodolfos crus da Pescanova / ELCORTEINGLÉS

--Como foram as vendas da Pescanova em 2021? A faturação do grupo em 2020 caiu 14%, até aos 905 milhões de euros, depois do encerramento da hotelaria

--"O resultado líquido foi positivo, graças a um aumento considerável das vendas em comparação tanto a 2020 como a 2019".

--Subiram os preços dos vossos produtos?

--"O que temos feito tem sido adaptar às tendências do consumidor. Criámos novos formatos nos quais muitos produtos estão a 1 euro: menos quantidade, menos preço. As Massas do mar vendem-se com 20% mais de produto. Por agora, não subimos preços, mas é verdade que a economia atual nos afecta a todos".

Vários produtos típicos da Pescanova / CG

--Vegangrejo, PlanTuna, Vuna… Cada vez há mais alternativas vegans ao peixe, como vos afecta?

--"Até agora não o notámos. É uma tendência, mas eu acho que as pessoas querem comer saudável, por isso os produtos com proteína do mar, com Omega 3 e baixos em gorduras, sempre serão tendência".

--Pretendem lançar algum produto vegano?

--"Somos especialistas em produtos do mar. É nosso know-how. A princípio não os consideramos. No nosso DNA está o capturar os melhores produtos do mar".

--Capturá-los ou criá-los…

--"Se a população humana cresce e só comemos mariscos e peixes do mar, esgotaremos os mares. A aquicultura é necessária. Segundo a FAO, metade dos produtos do mar que se consomem hoje provêm da aquicultura".

--Em plena polémica pelas macroquntas de porcos em Espanha, é um bom momento para abrir a primeira quinta de polvos do mundo?

--"Os animalistas são contra, mas o consumo do polvo é a cada vez maior. É um superalimento e não deixará de se consumir porque os animalistas levantam a voz. Agora mesmo, quase todo o polvo que se consome em Espanha é importado da Mauritania e Marrocos. Na costa galega quase não há polvos. Nós pesquisamos e pensamos no bem-estar animal, e as quintas de polvos são necessárias".

Um polvo de aquicultura / NUEVAPESCANOVA

--Produzireis milhares de toneladas de pulpo ao ano?

--"Na quinta das Canárias estamos à espera das permissões apropriadas. Somos os primeiros interessados em que os polvos cresçam bem. Ninguém até agora soube reproduzir o ciclo de vida do polvo. Fomos os primeiros a conseguí-lo através da aquicultura. Antes, as larvas morriam. Levámos 60 anos nisto e há muitos centros de investigação por trás".

--Será uma quinta de aquicultura intensiva?

--"De aquicultura industrial. Tal como com o pregado e o salmão. Ainda não começámos a operar a fábrica. Quando estiver construída e conhecermos as melhores condições de vida do animal, começaremos pouco a pouco. Abri-la-emos por fases. A ideia é atingir a velocidade de cruzeiro em 2 ou 3 anos, quando atinjamos as 3.000 toneladas de polvo por ano".

Fotograma do filme 'Meu mestre o polvo' da Netflix

--É ético criar polvo?

--Que base científica há por detrás do vencedor do Oscar Meu mestre o polvo da Netflix ? Agora já não é um documentário, é um filme. Nós pesquisamos para medir o stress do polvo com biomarcadores. Nas nossas piscinas, sem predadores, os polvos não estão estressados. Os animalistas dizem que são canibais entre eles, mas os nossos estão totalmente tranquilos. Gostaria de convidar-te a ver a quinta".