"O luxo e a elegância, o adorno e as jóias que a senhora põe entre si e os demais, têm o propósito de esconder o seu ser íntimo, de o fazer mais misterioso, remoto e inacessível", escreveu o filósofo José Ortega e Gasset. Hoje em dia, o da senhora está obsoleto --eles também levam jóias--, mas o objetivo é o mesmo: aparentar. Desde a chegada do vírus, em tempos de crises, quando as desigualdades crescem, "venderam-se mais relógios de luxo", assegura à Consumidor Global o CEO internacional da Maurice Lacroix, Stéphane Waser, que enfatiza que, hoje, estes exclusivos contadores do tempo "são mais acessíveis".
Qual é o modelo mais vendido da prestigiosa marca suíça Maurice Lacroix? Quanto custam os seus cronómetros e quem os compra? Waser, que afirma que "desde que temos relógios de 1.000 euros, os millennials podem comprar um", fala-nos sobre estes e outros temas relacionados com a alta relojería.
--Durante a pandemia venderam-se mais relógios de luxo?
--"Sim. Para nós a pandemia tem sido um desafio, mas temos feito bem porque somos uma empresa moderna. Por um lado, potenciámos muito o e-commerce, que já representa 30% das vendas totais, enquanto antes da pandemia era 20%. Por outro lado, os turistas internacionais compravam muitos de nossos relógios antes do Covid, pelo que, em Espanha, que é um dos nossos mercados históricos, temos trabalhado com as comunidades locais e temos potenciado a venda ao público local".
--Qual é vosso público alvo?
--"É mais jovem desde que lançamos o Aikon para seduzir os millennials (entre 25 e 40 anos). Desde que muitos de nossos relógios custam cerca de 1.000 euros, os millennials podem enfrentar a compra de um Maurice Lacroix. Pelo contrário, se falamos de modelos mais caros, sobe a idade dos nossos clientes".
--A geração Z não gosta tanto de usar relógios de luxo?
--"O target de clientes que mais cresce é o dos millennials, mas, ao mesmo tempo, jovens de 16 a 18 anos da geração Z também estão interessados em comprar relógios suíços. Os nossos clientes da geração Z representam cerca de 5-10% das vendas, mas é um valor que crescerá muito no futuro porque é um público emergente. A colecção Aikon Tide, que aposta na sustentabilidade, funciona muito bem com este público mais jovem".
--Os Aikon Tide são feitos de plástico reciclado do oceano combinado com fibra de vidro, luxo e sustentabilidade podem ir de mão dada?
--"Claro que sim. Temos recebido muitíssimos correios electrónicos de millennials e membros da geração Z sobre este tema, sobre a sustentabilidade do packaging, sobre se nossos relógios são veganos... É algo que há 5 anos nunca tinhamos imaginado, e que agora tem muita importância para os consumidores. Trabalhamos para contribuir de forma positiva para o planeta. Não dizemos que vamos mudar o mundo, mas se se podem fazer relógios preciosos, como os Aikon Tide, com plásticos reciclados, e conseguir um produto mais forte, resistente e duradouro".
--Ao ver um Masterpiece de 10.000 euros, ou inclusive um Aikon Chronograph de 7.000, custa pensar que o Aikon Tide Benzilla de colorines (760 euros) seja um Maurice Lacroix…
"Pode ser. Mas o importante é que foram desenhados, desenvolvidos, fabricados e provados pela mesma equipa. No final, não fazemos nenhuma diferença entre um modelo e outro. O segredo de nossa marca é como desenvolver relógios de luxo por menos de 1.000 euros nos que pomos a mesma paixão e técnica que nos de 10.000. O know-how e a experiência também estão presentes no Aikon Tide Benzilla".
--Com o Aikon revolucionaram os preços e a imagem da Maurice Lacroix, era renovar ou morrer?
--"Era uma questão de sobrevivência. Há uns anos, nem todas as pessoas tinham uma imagem criada da marca. Tínhamos os Masterpiece, que eram os modelos que as pessoas conheciam e associavam à Maurice Lacroix, mas são relógios muito caros e o público não sabia que também tínhamos modelos de 800 e 1.000 euros. Por este motivo lançamos o Aikon, para oferecer um relógio comercial nesta gama de preços mais acessível".
--Graças a vocês, estes objetos de luxo são hoje mais acessíveis?
--"Sem dúvida. É nosso objectivo desde 1975. Essa era e é a ambição da Maurice Lacroix: a máxima qualidade da relojería suíça a um preço acessível. Pelo contrário, se observas a concorrência, alguns partem de modelos de 10.000 euros".
--Que percentagem das vendas representa a gama Aikon?
--"Hoje representa mais de 75% das nossas vendas".
--E qual é o vosso modelo mais vendido?
--"O modelo mais vendido da Maurice Lacroix é o Aikon Automatic com a esfera azul (1.860 euros), do qual vendem-se 10 unidades por dia".
--Que procura o cliente espanhol num relógio de luxo?
--"No sul da Europa o clima é mais solarengo, há mais luz, e os consumidores gostam dos relógios mais brilhantes, coloridos, dourados, com diamantes. Os alemães ou os nórdicos são pessoas mais sobrias, e escolhem cores mais neutras, menos brilhantes, com correias da mesma cor que a moldura".
--Em 2020 ganharam quota de mercado… Também em Espanha?
--"É isso mesmo. Em Espanha ganhamos quota de mercado a cada ano desde 2019. Está relacionado com o lançamento da colecção Aikon em 2016, mas sobretudo com a chegada do Aikon automático em 2018. Parece que o preço dos relógios da Maurice Lacroix, além da qualidade, tem convencido os consumidores espanhóis".