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Santiago Peralta (Pacari): "O chocolate suíço é aborrecido e o melhor é o japonês"
O cofundador da marca chocolateira Pacari explica como tem que ser um boa tablete e a realidade da indústria
De camponês a empresário e dono de uma marca de chocolate com presença em mais de 40 países do mundo, entre eles Espanha. Esta é a história do equatoriano Santiago Peralta, que há 20 anos fundou junto com a sua esposa, Carla Barbató, a marca Pacari. Desde então, faz um chocolate biológico, reconhecido a nível mundial, fabricado no Equador.
Peralta está comprometido a reforçar a sua presença na península e a abrir uma loja física, estilo pop-up. Pacari conta com mais de 330 prêmios e, em várias ocasiões, foi reconhecido como o melhor chocolate do mundo. Ainda que para Peralta, a sua marca representa mais que reconhecimentos. Segundo ele, a empresa chocolateira democratiza a indústria deste doce universal e também põe Equador no mapa.
– O vosso slogan é pôr Equador no mapa através do chocolate. Conseguiram-no?
"No mundo chocolateiro quem não conhece Pacari ignora algo grande. Temos feito ruído, até os mestros chocolateiros do Japão reconheram a qualidade do nosso chocolate."
–No Japão?
"As pessoas pensam que o melhor chocolate do mundo é suíço, mas, na verdade, é aborrecido. O melhor é o japonês. Há vários mestres no país nopónico, os mais conhecidos são Susumo Koyama e Hironobu Tsujiguchi. Na verdade, Tsujiguchi veio ao Equador para lhe mostrar o setor. Existem mil escolas de chocolate, mas para ser um bom mestro há que conhecer desde a origem, ver de uma forma holística…"
– Martín Berasategui provou também os seus chocolates… o que pensou?
"Ainda lembro a sua cara. Ficou muito surpreso e disse-me: 'Como posso descobrir o chocolate neste momento da vida?'. Também, o chef Paco Peréz me disse algo parecido. Para mim, são palavras grandes e de pessoas que respeito muito."
– E os consumidores? Como valorizam os seus chocolates?
"Para mim que a Pacari esteja em tantos países do mundo representa uma revolução, pois com nossa marca o consumidor saboreia um chocolate autêntico. O de origem, puro e autêntico. O que se produz no mesmo país de onde se extraiu o grão de cacau."
– Poucos chocolates no supermercado cumprem este requisito… E, às vezes, o consumidor nem propõe-se de onde procede o cacau. Como isso faz você se sentir?
"Imagina que as uvas do Penedès foram levadas para a Suíça e fizessem o vinho ali. Parecer-te-ia normal? O mesmo acontece com o café, que também é latino e muitos americanos acham que provem de Itália".
— Falta cultura do cacau?
"Há que entender que este problema está no poder das marcas e dos meios. Estamos no século XXI, não no XIX, e há que olhar para além. Na Pacari queremos ser o doce das novas gerações, onde os atavismos dos outros tempos não se permitam. O consumidor de hoje está mais informado e pode que ainda falte algo mais de cultura chocolateira, mas vamos no bom caminho"
– Como é a hoje indústria do chocolate?
"85 % do cacau do mundo vem da África ou Indonésia. E estes países e as suas empresas monopolizam o cacau e enriquecem-se com o esclavismo. Muitos chocolates que há no supermercado são cultivados por pessoas que não chegam a cobrar 25 dólares por mês. O consumidor quer preços justos, mas também baratos, e tudo não pode ser. Há que dignificar o trabalho de campo, porque hoje estamos a matar os que nos dão de comer. E se este é o padrão, eu sou um extremista."
– E os seus trabalhadores? Como vivem?
"Têm salários coerentes e dignos. Sou padrinho dos seus filhos, as suas mulheres deram-me de comer sempre que precisei. São meus amigos, sinto que os conheço, a maioria desde que começamos. Sinto minha empresa como uma grande família."
– Na Europa e em Espanha temos o chocolate errado?
"O problema é que nem o comem. Saboream uma guloseima com leite e algo de cacau. Mas não chocolate. A receita do autêntico é cacau, água e pimenta ou chilis como o dizem vocês. E agora é açúcar, muita gordura, leite e em quarto ou quinto lugar está o cacau. Terrível."
– Temos um problema com o açúcar?
"Todo mundo o tem e na Europa também, e pode ser uma das mais. Há um par de multinacionais, com contactos em Bruxelas, que são intocáveis. Fazem o que querem. Mas como diz Manu Chao, tudo é mentira neste mundo, toda a mentira é verdade."
– Agora está muito na moda sem açúcar. Como o valoriza?
"A receita atual contém açúcar e isso é assim. O açúcar dá sabor ao chocolate. Não se devem comer chocolates de açúcar, mas sim comer chocolates com algo de açúcar. Um boa tablete, com a sua correcta receita, também não incorpora tanto na verdade. O que se passa é que passamos de um extremo para o outro: de chocolates súper açucarados a com adoçantes. E não pode ser. O consumidor deve entender que se pode comer chocolate com açúcar, mas sempre de uma forma controlada".
– De vossos produtos, quais são os que têm mais sucesso?
"Depende. Mas o com sal é um dos mais consumidos, da mesma forma que o de maracujá . E o de rosas, por exemplo, é o favorito das senhoras mais velhas".
– Na sua opinião, qual é o melhor do chocolate?
"O chocolate é prazer. É um sem fim de emoções no paladar e o melhor antidepresivo do mundo. Traz um sorriso a qualquer".
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