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Norberto Mateos (Intel): "Para nada em Espanha compram-se os dispositivos mais baratos"
Uma normalização e total absorção da demanda de chips não chegará até o 2023-2024, segundo o director da assinatura estadounidense
Norberto Mateos é o director geral de Intel em Espanha e Portugal desde 2010. Conhece a empresa estadounidense como a palma de sua mão, já que faz parte da mesma desde faz muito tempo.
Sente-se "afortunado" porque os chips da última tecnologia é o primeiro que se prioriza e recorda que há um "dispositivo para a cada pessoa". Ademais, envia uma mensagem tranquilizador ao consumidor: "Vamos ser capazes de satisfazer a demanda, ainda que pontualmente possa ter alguma complexidade na corrente de fornecimento. Mesmo assim, em Espanha, não acho que vamos ter problemas".
--Que passa com os chips?
--Por um lado estamos numa dinâmica na que a cada vez usamos mais dispositivos digitais em nossa vida pessoal e profissional. Isto é, há uma demanda mais acelerada. E, por outro lado, a fabricação dos chips tem passado de ser algo balançado entre as diferentes geografias a estar enormemente concentrada no sudeste asiático. De facto, o 80% dos chips fabricam-se ali. Geopolíticamente, a situação em Taiwán é complexa com certas tensões políticas. Se a isso se lhe soma um bloqueio do Canal de Suez, o passo de transporte de grande parte dos componentes, e um Covid que para as fábricas… A oferta se volta, por vários condicionantes importantes e incontrolables, dispersa e difícil de manejar. Por isso, se produziu um bloqueio que tem afectado a todos os aspectos de nossa vida como, por exemplo, às fábricas de carros. Têm sido, por tanto, dois anos de complicações no sector.
--Como se prevê este 2022?
--Uma normalização e total absorção da demanda de chips não vai chegar até o 2023-2024. Ainda nos vamos mover num meio de umas verdadeiras restrições em determinados produtos.
--A companhia tem anunciado a abertura de novas fábricas em Europa…
-- Qualquer tipo de fábrica de chips de última geração que se ponha nova, vai levar entre três e cinco anos para que esteja em funcionamento. De modo que estas medidas não se vão notar em curto prazo, sina a meio-longo prazo. A situação não será muito diferente durante este 2022 e no ano que vem quase seguro que também não. O meio inflacionista, ademais, não vai facilitar a resolução de tudo isto. Enquanto, nós seguimos aumentando mais de um 10 % a capacidade de fabricação de nossos produtos.
--Dos produtos que usamos a diário, quais se podem ver mais afectados por esta crise?
--Os chips servem para muitas coisas, desde os microcontroladores que se usam nas placas de energia dos calentadores, até os mais inteligentes que vão nos electrodomésticos ou os de última tecnologia que podem ir em telefones , televisores ou centros de dados. Nós seguimos investindo nas últimas tecnologias, mas não em fazer mais fábricas de microcontroladores.
--Que planos tem Intel para melhorar a situação actual?
--Precisamos estabelecer mais resiliência na fabricação em Europa. O problema do continente europeu é que competitivamente é mais caro que o sudeste asiático --tanto em relação com o custo do trabalho, como com as ajudas do Governo--. A União Europa, por isso, pôs em marcha Chips Act, um projecto que estabelece os princípios para que empresas como Intel invistam mais em Europa. Actualmente, por exemplo, os chips supõem um 4 % dos elementos de um carro e a futuro será um 20 %, porque vão ser autónomos e eléctricos. Quando usas bem mais chips tens que desenhar com as últimas tecnologias disponíveis e para isso se precisam fábricas e centros de I+D, o que vai gerar um meio completo diferente. Estamos um momento no que temos que capear o temporal e optimizar as correntes de fornecimento e enquanto esperar a que as medidas que pomos em marcha vão melhorando e a meio-longo prazo ver resultados. Não podemos depender dos demais somente.
--Qual é a aposta da companhia estadounidense por Espanha?
--Intel olha a Europa e não a um país concreto em seu plano de investimento. Alemanha tem sido a cara mais visível porque vamos abrir duas fábricas ali (na localidade de Magdeburgo), mas também se chegou a acordos com outros países como Holanda ou Bélgica. A parte mais importante que envolve a Espanha é a de propriedade intelectual européia relacionada com a supercomputación, mais especificamente junto com o Barcelona Supercomputing Center. E do que se trata é de desenvolver em Europa os próprios chips que se vão usar na União Européia e em isso este centro barcelonés é muito bom.
--Grandes companhias como Apple já têm apostado por seus próprios processadores: há pastel para todos?
--Uma empresa tão forte como Apple pode tomar uma decisão deste tipo desde um ponto de vista de optimização de toda sua proposta integrada. Mas Intel tem a arquitectura, os produtos e as fábricas. Não há ninguém mais no mercado que tenha essas três coisas. Apple, sim, é verdade, desenhou-se seu próprio processador, mas não o fabrica. Ademais, Intel tem decidido abrir sua capacidade de fabricação para terceiros porque opinamos que terá quem esteja interessado em usar nossas fábricas e tecnologia. Temos chegado já a acordos com Qualcomm e Amazon Site Services.
--Que procura agora o consumidor espanhol? Pesa ainda muito o preço?
--É difícil generalizar, mas desde um ponto de vista de consumidor da pé, em Espanha sempre temos sido consumidores que temos valorizado o rendimento acima do preço e, independentemente de nossa capacidade de compra, Espanha para nada tem sido um país no que se compraram os dispositivos mais baratos. Sim temos visto, por outro lado, uma mudança importante de tendência do número de dispositivos no lar e em isso tem tido muito que ver a educação, onde se deu um salto importante na o utilização da tecnologia.
--E daí há dos 'gamers'?
--Cada vez há mais gamers e pode ser que não tenhamos uma oferta capaz de satisfazer toda a demanda. No caso de consola-las e os PCs de gaming vemos um aumento considerável de gente que quer os dispositivos que lhe oferecem a melhor experiência de jogo. Sacamos chips específicos para os gamers e são os primeiros que voam.
--Muito fala-se do metaverso… Que opina Intel desta tecnologia?
--O metaverso ainda tem que madurar. O conceito ideal temo-lo claro, mas a infra-estrutura que o suporta não está. Existem agora diferentes concepções, mas não há um regular do metaverso. E depois está a experiência… Como vai funcionar? Ainda fica tempo para isso. Para nós, isso sim, é uma magnífica oportunidade e o apoiamos, o habilitamos, o empurramos e faremos todo o possível para que essa experiência se materialize.
--Quanto vamos ter que pagar mais pelos dispositivos que neste ano?
--É uma pergunta complicada. A inflação cresce e é muito difícil de calcular. Ao final, se os componentes sobem de preço, a mão de obra também e o transporte se encarece… todo vai subir. Os dispositivos subirão como consequência de tudo isto. Se há demanda, os fabricantes poderiam aumentar os preços. Tudo depende de como evolua a situação.
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