Em fevereiro celebra-se no Dia dos Apaixonados, volta a Champions, a flor de algumas árvores antecipa a primavera e IFEMA se caldea. Entre o 19 e o 21 de fevereiro, 40.000 hosteleros dar-se-ão cita aqui para que HIP (Hospitality Innovation Planet) volte a converter Madri "em capital mundial da inovação Horeca", um evento "onde desenhar-se-á a folha de rota da nova hotelaria mais eficiente, experiencial, tecnológica e sustentável".
A feira será ao mesmo tempo um repto e uma festa, isto é, um teste para comprovar o entusiasmo e as primeiras reacções que geram as novas propostas do sector e uma forma de sacar músculo. Trajes, maletines, congressos, networking, folletos, bocados aqui e lá e muitos apretones de mão darão forma ao que será, em palavras do director da feira, Manel Bom, um "Davos" do sector hospitality. Falamos com ele.
–Você tem afirmado que esta vai ser a melhor edição de HIP. Por que o crê?
–As cifras que apresentamos o avalan. Somos um evento que, desde sua criação no ano 2017, tem ido crescendo a ritmos do 30 e o 40% em número de visitantes e de expositores. Não é uma feira de produto ao uso, sina um grande encontro profissional no que tudo gira sobre três patas: a parte de conteúdo , que é a mais importante (de facto, HIP tem o congresso mundial mais relevante em inovação para o sector horeca), uma zona expositiva que já ocupa quatro pavilhões em IFEMA (estamos a falar a mais de 60.000 metros quadrados) e uma terceira parte que é a de networking , onde se geram muitos encontros entre profissionais entre futuros partners.
O sector hostelero espanhol está num momento de crescimento , e o sector hoteleiro ainda mais. Somos o país onde mais se investe de toda Europa, e isso se acaba transladando a um sector que tem muitas oportunidades, ainda que também algumas ameaças, como a inflação.
–Neste sentido, queria perguntar pelo aumento do ticket médio, um assunto que abordar-se-á numa conferência específica. Poderia dizer-nos a quanto tem ascendido e em que zonas tem subido mais?
–Há diferentes estudos de diferentes entidades. Um deles assinala que, em 2023, o ticket médio tem subido um 8,7 % em estabelecimentos de restauração, acima do IPC. No sector hoteleiro, o incremento tem sido de um 17-18 %, estamos a falar já de dois dígitos. Ao final, o sector hoteleiro tem uma elasticidade diferente à da restauração à hora de poder incrementar preços pelo serviço global que oferece ao cliente.
A nível espanhol, Sevilla é a província onde o incremento da restauração tem sido maior, do 11,5 %. Depois dela figuram Valencia (+8,8 %), Barcelona (+7,7 %), depois tem ido Madri (+7,3 %) e finalmente, Vizcaya, As Palmas e Baleares. Nas zonas mais turísticas, o aumento do ticket médio às vezes vem ponderado pela actividade do cliente estrangeiro, que tem um poder adquisitivo diferente, e, de alguma maneira, em momentos de férias pode e decide gastar mais que o consumidor local.
–E o consumidor espanhol, como acha que enfrentará o aumento geral do ticket médio?
–Sempre há incertezas. Há algo remarcable por ver, e é que às vezes, a inflação afecta à capacidade de despesa em lazer de um consumidor, mas o que vemos a dia de hoje é que muita gente prefere não se comprar um traje ou uma camisola, sina o investir em lazer. E aí está a hotelaria.
Estamos em era-a da experience economy: as novas gerações, sobretudo, preferem viver experiências, como se ir a cenar ou se ir de viagem um fim de semana e desfrutar da vida e não se comprar algo material. Somos uma sociedade e uma cultura à que gosta de sair e socializar. Ademais, se a isso lhe acrescentas o facto de que Espanha é um grande destino turístico (de lazer e de negócio), o resultado é que nosso país se erige como uma sorte de laboratório de conceitos hosteleros no que muita gente quer investir.
–Em 2024 fala-se da consolidação do delivery. Que valoração faz ao respeito?
–Já é um mercado maduro. À gente gosta de consumir a domicílio, também com o modelo take away ou grab and go: a ideia de "apanhamos algo e no-lo levamos a casa". Se fixas-te, inclusive a grande distribuição tem conceitos de pronto para levar, como Mercadona ou Carrefour. Faz tempo que falamos disso, e a cada vez se vai consolidar mais uma fusão entre o sector retail e o sector hostelero, e do consumo no lar e fora do lar.
Ademais, os conceitos vão crescer a cada vez mais. De facto, a restauração de marca em nosso país está a subir de forma imparable, e as novas gerações procuram conceitos aos quais se associar. Um grande exemplo é Vício: relacionado com o mundo da hamburguesa, que já era um mercado híper maduro, mas dentro dele criam o formato smash, que tem sido uma revolução. Se a isso acrescentas um marketing que te diz coisas como 'te dou o teu' e liga muito bem com seus clientes, tens uma companhia virtual exitosa que decide começar a abrir locais físicos em grandes cidades. É um crescimento parecido ao que teve em seu dia Goiko, mas Vício o está a fazer bem mais rápido.
–Fale do impacto da tecnologia de automação e da inteligência artificial.
–Aqui há diferentes variantes. A automação ir-se-á aplicando à parte de produção, de cozinha, não nos imaginando robôs fazendo o trabalho de pessoas, sina mais bem maquinaria de última tecnologia.
Quanto à IA, é uma ferramenta que pode actuar em muitas áreas dos negócios. Em primeiro lugar, à hora de tratar com um cliente: se registas-te numa companhia na que fazes compras de forma habitual e esta conhece teus hábitos de consumo, de alguma maneira te pode oferecer e propor que coisas gostas, de promoções… Em definitiva, pode criar um perfil teu para te oferecer propostas personalizadas. Tudo isto o podemos transladar à parte de gestão , para criar modelos (turnos de pessoal, gestão de compras, por exemplo)...
–E acha que os hosteleros mostram-se receptivos a estas inovações tecnológicas, ou são mais bem reticentes?
–A cada vez mais, o hostelero está a investir em tecnologia. Os sistemas tecnológicos têm-se democratizado, de modo que o profissional pode aceder a eles para fazer seu negócio mais competitivo. Todas as novas gerações de hosteleros trabalham com soluções digitais para, por exemplo, gerar comunidade. E isto enlaça com o tema dos influencers gastronómicos: tem tido um boom de criadores de conteúdo que faziam reviews em restaurantes (Cenando com Pablo, A Cozinha do Pirata, Joe Burgerchallenge…), e têm decidido criar conceitos de hotelaria baixo sua marca pessoal, aplicando todo o conhecimento que tinham. Utilizam toda sua comunidade para captar clientes, de modo que, de algum modo, lhe demos a volta à tortilla: os influencers metidos a empresários hosteleros, e hosteleros, como poderiam ser os responsáveis por Arahy ou o próprio Dabiz Muñoz, mostrando em suas redes sociais seu produto e acercando assim ao consumidor.
–É evidente que esta proliferación de reviews gastronómicas pode ser positiva para os negócios, mas, não acha que também há uma parte menos positiva, enquanto o consumidor jovem pode acabar guiando pelos perfis que mais popularidade têm, não os melhores?
–Para mim é uma oportunidade. Antigamente, o crítico gastronómico profissional (vinculado à alta gastronomia) era o que podia encumbrarte ou te afundar. Isto, agora, se tem democratizado: qualquer pessoa desconhecida, se cria contido de valor e contribui frescura, pode gerar opinião. Tem seus riscos, como tudo, mas se, como empresário hostelero fazes as coisas bem, é uma maneira do mostrar. Não há intermediários.
–Diga-me, a nível profissional ou sectorial, um desejo e um temor para este 2024.
–Um desejo seria que o sector segua crescendo, mas ao mesmo tempo, que seja sustentável no futuro, e que pense que deve seguir investindo, aprendendo e melhorando a cada dia. Somos uma eslabão importantíssima da corrente turística, contribuímos muito valor e experiências positivas, de maneira que, quando o fazes, pode ser um hándicap. Precisamos um sector hostelero forte preparado para qualquer crise. Neste sentido, a pandemia ensinou-nos muitíssimo, como que a sustentabilidade não só vai do planeta, sina de que o negócio perdure no tempo.
Um temor? Há que ter respeito pelas coisas, mas temor a nada, e o sector o demonstrou sobradamente: a inflação é algo que está aí e contra o que devemos lutar. Também a parte política pode ajudar com os regulamentos e as regulações, com o objectivo de que um sector tão importante para a felicidade de nossos cidadãos e dos turistas que vêm siga forte