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Luis Martín (LUDA): "A escassez nas farmácias não vai melhorar a curto e médio prazo"
Entrevistamos um dos fundadores da rede digital que liga mais 2.500 farmácias para falar sobre a escassez de abastecimento de medicamentos e o papel da digitalização como solução do problema
Foi em 2017 quando Luis Martín e Daniel Carvajal, fundadores da LUDA Partners, receberam a proposta de criar e oferecer uma solução digital a um problema que afetava o setor das farmácias. A falta de abastecimento de alguns medicamentos começava a ser preocupante e isso motivou a busca de ferramentas para optimizar e facilitar a comunicação entre farmácias e assim localizar os fármacos mais escassos.
A Consumidor Global falou com Luis Martín, um dos criadores da LUDA Partners, para conhecer mais a respeito de um projecto que já liga 2.500 farmácias e quais são os desafios de um setor que luta contra a escassez de abastecimento de produtos tão delicados como são os medicamentos.
--Em que consiste a LUDA Partners?
--A LUDA É uma rede digital de farmácias. Nós interligamos os computadores de todas as farmácias graças à digitalização. Isso tem muitas vantagens. Por exemplo, quando alguém não encontra o seu medicamento num estabelecimento, o farmacêutico pode localizar a farmácia mais próxima que sim conta com ele nas suas prateleiras e encaminhá-lo para lá.
--Por que é importante a digitalização do setor?
--A farmácia é sempre culpada por não ser digitalizada, mas na realidade é digitalizada e tem muitas ferramentas. O que passa é que estão desligadas entre si. Estão muito atualizados em relação a este tipo de coisas, mas são ilhas. Nós o que fizémos é interligá-las para dar solução a esse problema de escassez que nos foi proposto pela associação patronal de farmácias de Madrid.
--Como a LUDA l igaas farmácias?
--Todas as farmácias têm o seu stock digitalizado e carregado para um programa comum. Nós temos uma camada sobrepostaa esse programa de gestão que nos autoriza a consultar qual é a farmácia mais próxima que tem um produto concreto.
--O que é que o futuro reserva para o sector farmacêutico?
--A situação da escassez de abastecimento não vai melhorar a curto e médio prazo. Mas não é algo só de Espanha, mas sim que afecta a nível global. Da Europa fala-se constantemente da escassez de abastecimento. A única forma que vejo de solucionar este problema é através de questões de logísticos e de produção ou com uma tecnologia como a nossa. O que fazemos é optimizar os recursos que a farmácia já possui sem ter que modificar questões de produção que exigem uma abordagem a mais longo prazo.
--Quais são as causas dessa escassez de abastecimento?
--Há muitas teorias e versões. A que é 100% segura é que há um problema global por questões de conflitos bélicos, relações comerciais e de posicionamento dos países. Há um problema de matérias-primas que além disso são complexas e são produzidas em lugares muito distantes à União Europeia. Por outro lado, há alguns farmacêuticos que falam de que, como o preço do medicamento está baixo em Espanha, os laboratórios preferem vender a outros países como Inglaterra antes que a Espanha quando têm o mesmo problema de produção.
--Quão preocupante é este problema de abastecimento?
--Nós sempre dizemos que esta ferramenta surge para que as pessoas e os próprios farmacêuticos evitem o excesso de stock e não armazenarem o máximo possível de um medicamento porque acham que vai acabar. Para o consumidor final não deve ser um tema preocupante. É um assunto que, através das ferramentas digitais, pode ser aliviado.
--Qual é o papel da LUDA Partners para lutar contra a escassez de abastecimento?
--Dou-te um exemplo. Um paciente que entra numa farmácia e pede um clássico que falta muito, Trankimazin, mas não o tem. Isto stressa muitíssimo o farmacêutico porque quer dar uma solução ao problema médico que tem essa pessoa, mas sabe que não lho vai poder dar porque o seu fornecedor tem um problema de abastecimento ou porque o laboratório não o pôde fabricar, ou pela razão que seja. Mas, se utiliza a LUDA, vai poder direcioná-lo à farmácia mais próxima que o tem para que não tenha de ir de uma farmácia para outra porque há uma à sua espera com o produto.
--É uma ideia solidária, então.
--Obviamente, as farmácias são uma rede colaborativa. Fazem-no maioritariamente por solidariedade, mas também por egoísmo. O grande valor de uma farmácia é a assistência profissional. Um paciente está agradecido à pessoa que teve o trabalho de procurar onde está o produto e e para onde voltará. Nunca tivemos uma farmácia cancelada porque um doente fugiu de uma farmácia e não regressou.
--Quais são os medicamentos que mais problemas de fornecimento estão a ter?
--Por exemplo, o Ozempic. É uma coisa nova porque fundamentalmente utilizava-se para tratar a diabetes e agora se usa para emagrecer. Imagina as pessoas que têm problemas sérios com a diabetes. Também está muito falado a amoxicilina infantil, um antibiótico para crianças. A mais procurada no nosso motor de busca é Fluidasa, um xarope para a tosse em crianças. O quarto, para que vejas a gravidade do que se está a procurar, é Depakine, um tratamento para a epilepsia; e o quinto Rivotril, um ansiolítico. Estas não são piadas do que se procura.
--Que significa LUDA para os cidadãos e qual impacto que tem?
--Procurar medicamentos é um tema bastante complexo. Por isso, preferimos criar uma ferramenta exclusiva para os farmacêuticos porque a pesquisa destes produtos é complicada. O paciente beneficia directamente desta ferramenta porque a farmácia, para a qual é grátis contar com o servidor, tem uma ferramenta para dar uma solução direta ao consumidor.
--Recentemente anunciaram uma colaboração com a Uber Eats para a distribuição de parafarmacia. Que representa este lançamento?
--Agora temos quase 70% da quota de mercado. Tanto este acordo como com a Glovo têm uma vantagem enorme. É muito interessante que uma loja com todos os seus produtos não medicinais apareça na avenida principal da Internet. De facto, com o acordo da Uber temos um problema, há uma fila de farmácias que pediram se instalar e estamos a tentar racionalizar por zonas porque não cabem todas.
--Que dados usam?
--Nós agora estamos em 2.500 farmácias. É algo que acontece muito nas startups, o rácio de crescimento é grande. No mês passado somámos 210 e achamos que em janeiro passaremos de 300. Em pedidos através da Glovo e Uber estamos em 24.000 por mês.
--Que objectivos e expectativas têm para 2023?
--O objectivo fundamental é que adiram mais farmácias. Há um objectivo realista de atingir as 5.000. Há um objectivo meu pessoal de que se atinjam as 7.000 em 2023. Estamos a ser solicitados a fazer o mesmo programa na Irlanda, onde chegámos a um acordo com a maior associação de farmácias de lá. O mais importante é acrescentar laboratórios para levar tráfico para as farmácias. Em vez de comprar nos seus marketplaces on-line, com o nosso motor poder-se-ão adquirir directamente nas farmácias físicas.
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