Virginia Woolf fundou a sua própria editoria com o seu marido para imprimir as suas obras; Federico Moccia decidiu-se pela autopublicação da sua primeira novela; Margaret Atwood publicou a sua primeira obra, um coleção de poemas titulada Double Persephone, fez 220 cópias e desenhou a sua própria capa. Não obstante, a grande meta no mundo da autopublicação deu-se com o Kindle Direct Publishing de Amazon. A Espanha chegou há mais de 10 anos com autores como Lorena Franco (Barcelona, 1983), que tem conseguido seduzir mais de 250.000 leitores de todo mundo desde que iniciou a sua jornada na Amazon.
A antiga actriz e apresentadora começou pelos seus próprios meios, publicando na plataforma. Chegou a ser finalista em 2016 do Concurso Indie organizado pela Amazon e, em Sant Jordi de 2018, uma das suas novelas foi a quinta mais vendida no formato digital em todo mundo, segundo o ranking do Amazon Kindle. ÉÉ uma das escritoras mais bem cotadas graças a La viajera del tiempo (2016), um fenómeno de vendas sem precedentes em Espanha, nos Estados Unidos e no México. Desde então, os seus outros títulos alcançaram o primeiro lugar nas vendas digitais a nível internacional. Lorena Franco fala ao Consumidor Global sobre as vantagens e os desafios da autopublicação na Amazon.
--O que o levou a iniciar-se no mundo da escrita e como foi a experiência de autopublicar o seu primeiro livro no Amazon KDP?
--Dedicava-me à atuação, fazia muita publicidade, filmes, etc. Mas a escrita sempre me chamou a atenção. A primeira novela que escrevi foi em 2008, mas não me animei a publicar até finais de 2015. Em 2016 comecei, sem ter nem ideia do mundo editorial. As pessoas normalmente escrevem uma novela e apresenta a sua novela às editorias, mas também pode ser uma opção apresentar o teu manuscrito a um agente literário, que o apresenta à editoria. É tudo muito complicado, é um mundo mais fechado.Eu vi a possibilidade do KDP, uma plataforma super intuitiva. Quando tens a novela preparada, com um par de cliques, em 24 horas, já a tens disponível em todo mundo. Este método tão rápido e tão eficaz chamou-me a atenção e a partir daí comecei a publicar na Amazon directamente sem procurar nenhuma editorial.
--Depois publicou outras obras em editorias como Planeta e Penguin.
--Foi finalista em 2016 no Concurso Indie organizado pela Amazon com A viajante do tempo e era algo que não esperava. Aproveitei as oportunidades com as editorias que tive. Mas depois voltei à Amazon e continuo a prerferí-la, apesar de ter publicado com a Planeta, com a Penguin, etc. A liberdade, de que os direitos das obras sejam teus e que chegue a todo mundo é o que mais me atrai na plataforma.
--Que vantagens e desafios encontrou ao autopublicar com Aa mazon face a outras opções editoriais?
--A vantagem é que o teu livro sempre vai estar aí, sempre vai ser teu porque não cedes os direitos a nenhuma editoria por x anos. A liberdade que te oferece, isto é, numa editoria normalmente publicas um livro por ano, mas eu sou uma autora muito prolífica e não posso estar quieta. Com o qual eu sou capaz de publicar dois, três novelas por ano, que é algo bastante insólito no mundo editorial. Ao publicar com a editoria, não podem assumir este ritmo. Com a Amazon, de facto, quantas mais novelas tens, mais visibilidade consegues na plataforma. E não só se publica no digital, também em papel. Depois está a possibilidade das traduções, ainda que por tua conta. Publicando na Amazon estás sozinho.
--O desafio para si é gerir tudo isto.
--Sim, claro. O que acontece é que eu tenho uma equipa por trás que me corrige, que me maqueta, que me faz a capa. Mas, io que sso significa? Que o dinheiro não vem da editora, vem de mim. Por outras palavras, pago a uma equipa para que o produto que é depois apresentado na Amazon seja perfeito e não tenha nada a invejar a um produto editorial. No final, sou o mesmo a publicar na Amazon e a publicar numa editora, as histórias serão as mesmas. Os meus leitores não olham para o facto de eu ter publicado na Planeta ou na Amazon. Fazemos um nome para nós próprios e o que vende é o nome.
--Qualquer autor, ainda que seja principiante e não nunca tenha publicado nada, pode autopublicar na Amazon ou fazem falta uns requisitos e condições para isso?
--Para bem ou para o mal, qualquer um pode publicar na Amazon e, de facto, sair-se melhor que numa editoria. Mas isto tem uma desvantagem, pois nem todas as novelas que se publicam na plataforma estão 100% polidas, porque não há uma revisão editorial. Tudo isto implica que a Amazon se converta numa selva na qual tenha de tudo. Por isso é tão importante que os que publicamos na Amazon ofereçamos um produto ao leitor bem acabado e bem corrigido, com uma boa capa dentro das possibilidades de um autor autopublicado. Eu animo muito as pessoas que começam a publicar na Amazon.
--Tem uma equipa para editar, maquetar, desenhar a capa… Se não se dispõe dessa equipa, a Amazon oferece-te alguma ferramenta ou recurso?
--Não, a Amazon o que te
ferece são modelos de capas, mas são um pouco maus. Há alguns autores que escrevem, revêem e desenham os seus próprios romances digitais, em papel, as suas próprias capas, e fazem-no fenomenalmente bem. Seria ótimo saber como fazer tudo isso. De facto, no início, eu fazia tudo sozinha, mas se tivermos uma equipa por trás que saiba fazer isso, é muito melhor. Os meus romances publicados em 2016 não são os mesmos que publico agora em 2023. Vê-se que a qualidade é melhor.
--Tem muitos seguidores, os seus livros chegam a todo mundo… Como conseguiu vender tanto? Como conseguiu chegar a tantas pessoas?
--A verdade é que não nem eu sei, p
porque comecei a publicar como um hobby e combinei-o com a minha carreira de atriz. Agora parei porque gostava mais de escrever, mas foi tudo por causa de La viajera del tiempo. Teve aquele boom e ganhei muita visibilidade, não só na plataforma mas também nas redes, depois a nível editorial, porque a Penguin interessou-se nessa altura e da Penguin fui para a Planeta passados alguns anos. Mas não basta publicar um título, é preciso ser constante. Tenho títulos que tiveram um êxito espantoso nos Estados Unidos, como La vida que no elegí (A vida que não escolhi). Aqui em Espanha, outros triunfaram. Ter uma variedade tão grande de géneros... Comecei com o romance e agora faço mais romances policiais.
--Mudou muito de género literário. É mais fácil ser variável quando se publica por conta própria?
--
Mas muito. No início, comecei com vários géneros para chegar a todos os tipos de leitores, mas também é aconselhável concentrarmo-nos num género para criar uma espécie de marca. Agora é verdade que me sinto mais à vontade nos thrillers. É também porque sou um grande leitor de thrillers e decidi passar para o lado negro. É um género de que gosto muito. A Amazon dá-me a liberdade de saltar de um género para outro e de correr riscos com novas histórias. Se continuasse na Planeta ou noutra editora, não conseguiria sair tão facilmente do género em que me querem enquadrar.
--Que estratégia segue para chegar a mais leitores e fidelizá-los?
--
Vou publicar a melhor história que conseguir escrever. Não vou publicar qualquer coisa, vou publicar uma história com a qual me sinta confortável e que me envolva do princípio ao fim. Essa é a primeira coisa, publicar histórias que considero de qualidade para que os meus leitores continuem a ler-me, para que novos leitores venham ter comigo e depois com as redes sociais. No fim de contas, trata-se de fazer bem as coisas e de correr riscos, de não contar sempre a mesma história. Por exemplo, o romance 600 Nights Later: Crime, Mystery and Romance in New York é uma narrativa na segunda pessoa, algo muito diferente do que escrevi em novelas anteriores.
--Tem 19,2 mil seguidores em Instagram. Que estratégias segue nas redes sociais?
--A verdade é que sou um pouco desastrada no que diz respeito às redes sociais, por vezes abandono-as muito, mas é preciso ser constante com elas para manter os leitores informados. Recebo muitas mensagens e tento responder a todas, embora por vezes não consiga. Estar próximo ajuda os leitores a estarem sempre presentes. Os leitores são quem manda. Escrevemos para eles e por eles, por isso temos de lhes dar o melhor.
--Voltaria a publicar com uma editoria num futuro?
--Não estou a dizer que não, mas neste momento valorizo muito a liberdade que tenho depois de dois anos numa editora. De momento, não mudo porque se publicamos numa editora é para vender nas livrarias, mas depois a vida de um livro nas livrarias, com a enorme quantidade que é publicada, só ficam os bestsellers do costume. As mesas enchem-se de novos lançamentos, enquanto o seu romance desaparece. Então, qual é o objetivo? Se eu posso controlar tudo e com o sistema da Amazon posso ver as vendas num segundo e as páginas lidas num segundo. A Amazon dá-lhe mais estabilidade do que o mundo editorial.
--E é mais rentável.
--Para mim, sim. Há quem ganhe mais visibilidade com uma editora porque tem a imprensa por trás, tem mais marketing, sabe como funciona, etc. Para mim, é mais rentável publicar na Amazon. No papel, por exemplo, com uma editora não chegava aos Estados Unidos ou ao México. Ao publicar na Amazon, o livro chega em formato de papel. Além disso, é o autor que fixa o preço. Para tornar os meus livros digitais acessíveis, tento mantê-los abaixo dos 4 ou 5 euros. As editoras colocam os livros em formato digital a 10 euros, e acho um abuso que um livro em formato digital valha o mesmo que um livro de bolso.