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Juan Manuel Borrás (Culmia): "Uma casa saudável é mais cara, mas os clientes pedem-na"
Entrevistamos ao director de operações da promotora imobiliária para conhecer as tendências que marcarão o futuro da moradia em Espanha
Como viveremos em 2030? Os andares serão maiores ou viveremos em cubículos? Entrará a inteligência artificial nos lares espanhóis? E a predictiva? Que será de Alexa e do assistente pessoal de Google ? O coliving tem chegado para ficar? Mudarão os materiais à hora de construir um edifício? Que é uma casa saudável?
A promotora imobiliária Culmia, da mão da consultora A Piece of Pé, tem apresentado recentemente o relatório Macrotendencias em torno da moradia 2023-2030, um estudo que recolhe e analisa as características que marcarão nossos lares. Entrevistamos a seu director, Juan Manuel Borrás, para conhecer como serão as casas do futuro.
--Como serão os lares em 2030?
--As macrotendencias são claras. Em primeiro lugar, em Europa a população é envelhecida e diversa: há um montão de modelos de família diferentes. Também manda a fugacidad, a inmediatez, o queremos todo pára já. O individualismo em comunidade é outra tendência: quero estar só em casa mas ao mesmo tempo ter espaços comuns que me relacionem com os outros. Muito na linha do coworking: a moradia reduz-se a sala de estar, habitação e banho, e tens uma grande cozinha, espaços desportivos e outras zonas compartilhadas.
--Serão mais inteligentes?
--Sem dúvida. A inteligência artificial entrará em nossos lares, e Alexa e Google fá-se-ão em massa. Incrementarão a domótica e a inteligência predictiva: sem dar a ordem, terás um trajecto, um percurso preestablecido em casa.
--E mais sustentáveis?
--A sustentabilidade, em Europa, já é algo obrigatório; enquanto em Espanha será uma sustentabilidade forçada. Em 2030, todos os edifícios novos terão que ser neutros em carbono. Esse é o grande repto. O planeta é finito, os recursos são agotables, e no sector da construção temos que começar a desenhar edifícios que em 50 anos se convertam em bancos de materiais, canteras, para os novos edifícios. Por outro lado, a saúde também se incrementou no lar com gadgets e consultas médicas desde casa.
--Será mais curta a vida dos edifícios?
--Não, durarão mais de 50 anos. Mas, conceitualmente, se em 100 anos derrubam um edifício, a ideia é que se possam reutilizar as ruínas, enquanto hoje em dia vai tudo a um desaguadouro. Isto se acabou. Agora se estão a introduzir materiais mais sustentáveis com o objectivo de reutilizar o edifício ao máximo.
--Que é um lar saudável?
--Todos os lares são saudáveis, mas se trata de fazer moradias mais ventiladas e mais eficientes termicamente ao mesmo tempo: procurar um maior confort energético com um bom sistema de ventilación. Esse equilíbrio é a chave. Ao mesmo tempo, se queremos aumentar a saúde, temos que voltar aos materiais naturais: madeiras, cerâmicas de gres…
--Mas a gente quer pavimentos laminados…
--Assim é. Os pavimentos laminados, que têm um componente plástico, é o que demanda a gente porque oferecem uma faixa mais ampla de cores e uma durabilidade muito superior à da madeira. Mas, se queres saúde premium, esquece-te do laminado. Agora se recuperam barros e cañizos com escayolas e yesos. Ainda que a indústria não tem capacidade para o fazer assim em todas as moradias.
--Suponho que os materiais naturais são mais caros que os sintéticos e plastificados…
--São mais caros, ainda que não todos. O gres, que é uma arcilla, não é mais caro que um laminado. Depende do fabricante, da forma, do tamanho, da cor… A madeira sim é mais cara que um laminado.
--Falar de lares saudáveis, mais caros que os convencionais, quando os espanhóis não podem aceder à moradia…
--Se queres fazer um edifício mais sustentável, custa mais dinheiro, mas é uma aposta. A sustentabilidade de uma moradia pode-te custar entre um 3 e um mais 5%. Estamos a fazer moradias acessíveis para a Comunidade de Madri e vamos conseguir a qualificação mais alta em sustentabilidade (certificado Breeam). Será uma meta.
--Os jovens espanhóis se emancipan, em media, aos 30 anos… Os lares não teriam que ser também mais acessíveis, além de saudáveis?
--Já, mas aqui, e me desculpa, te equivocas de interlocutor. Meu cliente demanda-me moradias sustentáveis e saudáveis. O problema tem-o que resolver a Administração. Há gente que não pode aceder a uma moradia? Sim, mas nós não somos os que temos que resolver isso, ainda que estamos a fazer mais de 3.000 moradias asequibles também em Corunha . Fazemo-lo porque ganhamos dinheiro? Não, te esquece. Fazemo-lo porque é necessário e fazem falta muitíssimas mais.
--Os andares cada vez são mais pequenos… Que tamanho terão em 2030?
--Manter-se-ão como os conhecemos agora. Não chegaremos a essas diminutas moradias japonesas porque a regulação marca o tamanho meio das moradias, que estipula uma superfície edificable máxima e a densidade. Mas sim acho que a gente vai reclamar moradias bem mais flexíveis. Estarás no salão e quererás ter uns muebles que se possam deslocar facilmente para transformar esse espaço. Os clientes demandam espaços diáfanos com tabiques móveis que permitam flexibilizar um mesmo espaço para diferentes funções... Por que o salão tem que ser maior que o dormitório?
--Viveremos em cubículos?
--Não, não viveremos em cubículos em Europa. Salvo que no próximo estudo…
--Estamos abocados ao coliving?
--O senior living é uma tendência e conceitualmente vejo-lhe muito sentido. Eu preferiria viver num senior living que numa residência. Com meu apartamentito e os serviços compartilhados. Terá sucesso? Depende dos investidores. Eu acho que sim apostarão por isso. Funcionará para toda a população? O coliving é para gente que gosta de compartilhar cozinha, comedor e lavadora. É algo muito pessoal. De nicho.
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