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JOYclub: "Nossa app de poliamor custa o mesmo que Netflix e sem o algoritmo perverso de Tinder"
A socióloga Cecilia Bizzotto desmonta alguns mitos sobre as relações não monógamas e critica as limitações da maioria de aplicativos para unir
A maioria dos espanhóis têm sido educados no amor romântico, acompanhado de certas crenças religiosas. Relações monógamas --às vezes com um forte sentimento de posse--, nas que a cada vez mais pessoas não se sentem cómodas. Porque existem tantas formas de amar como pessoas há no mundo. Porque muitos crêem, como dizia o poeta Antonio Machado, "foge do triste amor, amor pacato / sem perigo, sem venda nem aventura / que espera do amor prenda segura / porque em amor loucura é o sensato".
Sim, falamos de poliamor , de relacionar-se emocionalmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, uma opção relacional a cada vez mais estendida na sociedade espanhola, e fazemo-lo com Cecilia Bizzotto, socióloga e porta-voz de JOYclub , uma comunidade baseada na sexualidad liberal que conta com aplicativo e plataforma próprias para ampliar o círculo de relações.
--Um da cada quatro jovens dentre 18 e 30 anos crê nas relações amorosas com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, segundo um estudo da Universidade de Palermo…
--O poliamor está em auge. Bom, as não monogamias em general. A cada vez há mais pessoas que têm relações abertas. Em JOYclub fizemos uma encuesta e um 60 % das pessoas entrevistadas disseram que estariam de acordo em ter uma relação aberta. No entanto, muitas não o faziam por determinadas circunstâncias: medo, fitas-cola, inseguranças, reacção do meio, etcétera. Estão-se normalizando outras orientações relacionales, para além da monogamia, e isso é positivo.
--Quais são os mitos mais comuns em torno do poliamor?
--Que as pessoas poliamorosas não são pessoas comprometidas ou que não procurariam nunca ter uma criação é um mito porque há muitas pessoas que crían a seus filhos desde o poliamor ou desde diferentes tipos de não monogamias. Que não tenha compromisso é uma falacia porque, quando te vinculas com mais gente, te estás a comprometer. Precisas ter uma responsabilidade afectiva e gerir uns cuidados com essas pessoas que entram em tua vida sexual e afectiva.
--Algum outro mito…
--Outro mito é que ao poliamor se vai a follar: achar que por ter muitos vínculos vais ter relações sexuais com muita gente. Tens que investir uma energia, um tempo e uns cuidados no outro, e não necessariamente vão ser em follar. Muitas pessoas poliamorosas dizem-te: 'eu follo menos desde que me fiz poliamorosa'. A orientação relacional poliamorosa não é esse consumo de corpos que se imaginam algumas pessoas monógamas. Se estás a procurar só sexo, não estás a procurar poliamor. Podes estar a procurar outras opções, como uma relação aberta ou swinger, que também é válida, mas não é poliamor.
--O poliamoroso nasce ou faz-se?
--Originalmente, achava que o poliamoroso faz-se. Qualquer pessoa, se deconstruye, lê, informa-se, aprende, conhece a grupos interessados na mesma questão... Mas, com o tempo, dei-me conta de que não é só essa aprendizagem. O poliamoroso deve ter também esse 'se nasce': uma necessidade, um desejo, algo que te impeça ou dificulte viver em monogamia e encontres a solução no poliamor. No entanto, também há gente, que tem sido educada no amor romântico, na posse do outro, nas fitas-cola, em crenças religiosas, que o tenta, o força, o procura e muitas vezes não podem ser poliamorosos, sentem dor e têm que ir a terapia 17 vezes por semana... Se tens que ir a terapia 17 vezes por semana para poder viver em poliamor, há algo que não funciona. Pode ser que gostes muito da ideia de poliamar e que não seja para ti neste momento.
--Que vantagens tem este tipo de relação?
--Agora se pôs de moda, mas o poliamor não é a solução a tudo. Há que ter em conta nosso marco cultural para ver se nos sentimos cómodas e preparadas para isso. Se pode-lo viver, o poliamor pode-te trazer muitíssimos benefícios. Não ter um sozinho casal sexual e ter encontros com muitos casais sexuais é algo que muitas pessoas desejam.
--E não tem por que ser um tema tabu…
--Ter uma rede de afectos para além de uma única pessoa também é algo maravilhoso. Aprender a mais relações, viver muitos amores e experimentar não tem por que ser um tema tabu. Não está mau sentir desejo ou apaixonar de uma pessoa que não seja teu casal. Não é algo proibido nem negativo pelo que te tenhas que sentir culpado. Ademais, o poliamor fá-te-á transitar para uma deconstrucción das relações e de tua própria identidade. Afinal de contas, temos um marco cultural, no que todas nos criámos, que consiste em amar desde as fitas-cola, tu és minha, não posso viver sem ti…
--O amor romântico, chamam-no…
Todas estas ideias do amor romântico necessariamente se vão a deconstruir no poliamor, e isto pode ser positivo e nos pode ajudar a viver melhor e desfrutar mais da sexualidad. O poliamor obriga-te a uma introspección constante.
--Que dificuldades se encontram os casais deste tipo hoje em dia?
--Em primeiro termo, as dificuldades próprias internas. O marco cultural do que falávamos. Se pensas no amor em termos de posse e exclusividad, passá-lo-ás mau. Precisas deconstruir tuas ideias sobre o amor e a sexualidad. Às vezes é mais fácil deconstruir tuas ideias sobre sexualidad que sobre o amor. Saber que teu casal, à que amas, com a que convives, vai ter uma cita esta noite com outra pessoa, pode ser difícil e requer um trabalho pessoal. Tens que estar preparada e ser condescendiente contigo mesma. É normal que vás sentir fitas-cola, mas não está mau. Permite-te sentí-lo e trabalha-o. Outra dificuldade pode ser o meio: é possível que se te julgue e que não queiras sair do armário e dizer que és poliamorosa. E, em terceiro termo, a dificuldade de aceder a vínculos, pessoas, casais, com as que te relacionar em poliamor. A muita gente gostaria de introduzir-se e conhecer gente nova, mas onde conheço a gente que queira viver o mesmo que eu?
--Em internet?
--Para encontros sexuais normativos e relações monógamas tens infinidad de redes sociais, mas, se procuras outra coisa, tens JOYclub. Aqui podes encontrar gente poliamorosa, fetichistas, gente à que gosta o BDSM, de casais abertos… JOYclub é uma rede social para encontrar experiências para além da normalidade e gente que está na disidencia. Outra recomendação é procurar em tua cidade grupos e associações de poliamorosas.
--Como funciona JOYclub?
--Quando te registas em JOYclub, que é uma rede social centrada na sexualidad, te fazem um questionário sobre tuas preferências sexuais. Do 1 ao 5, quanto gostas do sexo em grupo, ou te fazer fotos eróticas, ou que te façam sexo oral? Por que? Para o autoconocimiento e para poder filtrar pessoas em função das práticas sexuais que gostas. Que gostas do sexo anal, pois filtras perfis em função do gosto pelo sexo anal. Podes afinar muito tua busca e nos perfis podes ver que praticas gosta e de quais não.
--Quantos utentes há em Espanha?
--Agora mesmo, em JOYclub Espanha há 800.000 pessoas (principalmente em Madri e Barcelona), e a média de idade está entre 25 e 45 anos.
--Qual é o público objectivo de JOYclub?
--É gente que está fora do normativo. Pessoas de todo o tipo de identidades e orientações de género. Muita gente bisexual, casais abertos, muitos perfis de casal, gente com preferências sexuais como fetichismo, BDSM ou que procuram sexo em grupo. É um cajón de sastre dos não convencionais.
--"Todos os interesses sexuais são bem-vindos", disse você numa entrevista. Onde está o limite?
--No consentimento. Afinal de contas, qualquer prática que não seja ou não possa ser consentida, não tem cabida em JOYclub e é ilegal, porque todo o que não tenha consentimento é abuso sexual. A zoofilia, como o animal não consente, é ilegal e é abuso. A pedofilia também é abuso sexual e é ilegal. Os limites estão no consentimento.
--"A app está bem, mas há que pagar por tudo. A mensualidad de 15 euros não ta tira ninguém", critica um utente de Joyce, o aplicativo de JOYclub…
--É um tema complexo. A realidade é que em JOYclub tens a membresía básica gratuita, e com ela podes aceder a toda a secção pública --foros, grupos, revista de sexualidad…--. Agora, se queres contactar com outros utentes e fazer matches, ou ver fotos a mais de 18 anos, deves ter um perfil verificado --maior de 18 anos--, se te dá um check e acedes ao perfil Prémium ou Plus. As mulheres e os casais, só por se verificar, já têm o perfil Plus e podem contactar com gente.
--E os homens?
-- Os perfis de homem só têm que pagar. Muitas pessoas queixam-se porque não verificam seu perfil ou porque só utilizam a app. O foro, os grupos e a revista não estão disponíveis na app, só estão disponíveis na versão de navegador porque Play Store e Apple Store censuran todo o que tenha que ver com a sexualidad. Qualquer pessoa que não queira pagar, que se verifique e utilize a versão de navegador.
--Em que vos diferenciais da plataforma Poliamoris?
--Não a vou criticar porque tenho estado ali. Está bem, mas não tem nada que ver. JOYclub é uma rede social tão grande que te podes cansar da explorar. Há pessoas que se exibem ao vivo 24 horas. Há foros, grupos e a revista que em Poliamoris não existem. Ainda que não procures gente à que conhecer, em JOYclub podes te informar sobre sexualidad e relações: não é só rede social, é comunidade.
--E do aplicativo para solteros e casais Feeld Citas?
--Redes sociais e aplicativos de relações swingers há um montão. Também há redes sociais BDSM (Fetlife). Nós nos diferenciamos de todas elas porque aunamos a toda a gente fetichista, pessoas trans, pessoas de todo o tipo de identidades, há casais abertos e gente que não procura swingers, há gente que procura sexo rápido e gente que não, todos têm cabida. E também a visão pedagógica que temos. Fomentamos a aprendizagem da sexualidad positiva desde um ponto de vista feminista, desde a sexualidad não como um tabu, sina como o faz realidade tuas fantasías, te conhece, explora teu corpo, desfruta. Somos a normalização da sexualidad.
--Poliamoris, Feeld Citas e JOYclub são de pagamento… Pára poliamar há que pagar?
--Jaja. Em JOYclub podes fazer muitas coisas sem pagar --através de grupos, de forma pública, podes contactar com gente--. É como um Facebook da sexualidad. Pára poliamar há que pagar? É um debate interessante.
--Tinder é 'grátis'…
--Instagram, por exemplo, ou Tinder, são grátis, mas estas redes sociais que fazem com nossos dados? Como jogam com eles? Como é o algoritmo? O algoritmo de Tinder é um reprodutor de mordomias e desigualdades brutal. É um algoritmo que, se és homem branco e hetero, te vai tratar de uma maneira, e, se és um homem negro bisexual, te vai tratar de outra. E mete-te publicidade. E vendem teus dados. Estas redes sociais são grátis porque beneficiam-se de ti. Em JOYclub pagas o mesmo que Netflix (14,99 euros) e não jogam contigo como em Tinder nem tem seu algoritmo perverso. Nós não vendemos dados de nossos utentes.
--Gigantes como OkCupid e Tinder também querem ser plurais e têm incorporado novas funções dirigidas aos que não praticam a monogamia…
--Temos concorrência por todos lados. Mas, tu vais a Tinder, e a maioria de mulheres lesbianas ou bisexuales que estão em Tinder se queixam sempre de que há um montão de casais que se registam como abertas, mas se registam como mulher, porque a app não te permite ter perfil de casal. E aparecem-te casais que estão em perfis de mulher constantemente. Se eu procuro mulheres, porque me aparecem casais? Tinder não te permite esta realidade. Por isso não nos pode fazer dano. Levamos mais de 20 anos funcionando e nossa oferta pedagógica não a encontras em nenhum lugar. Se procuras aprender, JOYclub ganha-te.
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