As previsões turísticas para a temporada de Verão prevêem um regresso à normalidade com a recuperação dos números de visitantes de 2019. No entanto, as frotas das empresas de aluguer de carros, como Sixt, que em 2020 se desprenderam de boa parte dos seus automóveis, ainda não se recuperaram. "Dos 20.000 veículos habituais, este verão há 30% menos", reconhece Estanislao de Mata, o vice-presidente da companhia em Espanha.
A crise de semiconductores e a subida de preços provoca que só os mais clarividentes desfrutem da brisa tropical ao volante. "Pela situação da frota, pedimos aos clientes que reservem com um pouco de antecipação por se tivesse um problema em algum pico de procura", afirma Mata. No entanto, retira, em mais de uma ocasião, que a Sixt tem uma ampla frota de carros para este verão em todas as regiões do país.
--Como afectou a pandemia às companhias que vivem do aluguer de veículos?
Durante a pandemia tivemos que recolher toda a frota. Tinha clientes que tinham o carro alugado na sua casa e não sabiam o que podiam fazer. Dizíamos-lhes que os guardassem e no-los devolvessem ao sair do confinamento. Foi um impacto muito negativo para todo o sector no general. Mas, ainda assim, a companhia conseguiu superar 2021 em positivo, com 2 milhões de euros de lucro a nível de grupo. Conseguimos fechar no ano 2021 sem perdas, que isso já foi um grande sucesso. Neste ano achávamos que íamos sair desta, mas veio outro palco novo.
--E a escassez de microchips?
Além disso, o tema da escassez de microchips afectou em não poder dispor da frota desejada ou a que tivéssemos gostado para a campanha de verão. Pensávamos que, face a julho, agosto e setembro, haveria uma normalização e parece ser que não é assim. Isto é, os fabricantes baixaram as suas produções. Estávamos preocupados que que não pudéssemos fazer frente a essa grande procura.
--Qual é a procura atual?
A procura por enquanto tem subido. As expectativas do turismo este ano são tremendamente altas, ainda que há que ter em conta o espiral de preços no general, que pode provocar uma diminuição de clientes interessados em alugar. Mas, a expectativa é que vamos ter um verão com uma procura bastante alta e assim tem sido. Em maio notámos uma grande afluência de turistas, em junho também, ainda que um pouco baixa. Agora em julho está a recuperar. Eu espero que em agosto cheguemos a essa ansiada procura que parece que vai chegar.
--Como vos repercute a inflação atual?
O espiral de preços não somente afecta na hora de adquirir a frota (que subiu), mas também o combustível, os seguros, os acessórios do veículo, mandar reparar um veículo, isto é, os custos no general dispararam também para as empresas de aluguer de veículos. Isso não significa que o vamos epercutir para o cliente. Mas há uma oferta e uma procura que marca o mercado. Se há muita procura e pouca oferta, o preço sobe.
--Que conselhos darias a um consumidor para que o preço do aluguer do carro não dispare?
O quanto antes o possa fazer, sempre apanharás as melhores ofertas também no nosso sector. Nesta companhia, o quanto antes o faças, sempre poderás beneficiar das melhores ofertas. Mas como conselho, aparte do agilizar e assegurar já dessa reserva, há que olhar as condições que se oferecem. Isto é, tem que saber da letra da À a Z, exactamente tudo o que verdadeiramente lhe vai custar o veículo. Isto para mim seria o conselho que daria aos possíveis visitantes que vão alugar um veículo.
--Os consumidores alugam os carros antecipadamente ou esperam até ao último minuto neste ano? Dificulta isto à disponibilidade?
O aluguer de veículo é a último escalão dentro da estrutura de quando um vai de férias. Primeiro olho o destino onde quero ir, logo o hotel e depois a forma de chegar ali. E se depois para mover-me preciso um carro, deixa-se para o final. Comunicou-se por activa e por passiva que, pela situação da frota, que se reserve antecipadamente porque se tivesse um problema em algum pico de procura. Quero transmitir que há frota. Por enquanto não há nenhum mercado no qual se esteja a falar de uma paragem de vendas ou que não tenha carros. Só, há que tentar que os clientes antecipem um pouco mais a sua decisão de alugar um veículo, mas também não dramatizar, porque a situação não chega a tal extremo.
--Então, não há destinos onde penduraram o cartaz de "sem carros disponíveis" este verão?
Nós temos frota. Hoje espero que possamos cumprir e atender a todos os nossos clientes. Além disso, nós também temos uma frota muito animada que vem de todos os lugares e podemos mover e destinar onde faz falta, pois tentamos compensar movendo frotas de um lugar para outro. No ano passado também cumprimos e nenhum cliente que quis reservar com Sixt ficou sem nenhum tipo de veículo.
--Que disponibilidade há para aqueles que viajem para as Baleares ou Canárias em agosto?
É muito difícil dizê-lo. Nós agora mesmo estamos com frota em todas as regiões. Logicamente as áreas de férias ou pontos quentes como podem ser em Baleares ou Andaluzia, onde recebemos muitos turistas, pois há mais frota para poder atender essa procura. Não se trata de se temos mais ou menos, mas trata-se da procura e do complemento aéreo. Se um aeroporto não tem uma afluência de companhias aéreas para voar no verão, pois logicamente a procura não vai crescer. E então, bom, vai em função também da frota.
--Para o seguinte fim de semana (22-24 de julho) Sixt já não tem disponibilidade em Booking no aeroporto de Palma de Mallorca
Bom, é que a Booking é uma intermediária, um canal de reservas. Mas nós não trabalhamos directamente com a Booking. Alguma vez nutrimos-nos de alguma entrada de reservas. Mas temos a grande sorte de que 70% ou 80% das nossas reservas vêm directamente dos nossos clientes. Na Booking terão, suponho, muitos contratos de muitíssimas empresas de aluguer de veículo, mas não se pode dizer que as empresas não tenham carros.
..Quais são as semanas mais críticas para alugar um carro nas zonas de verão?
Pela minha experiência há mais de 30 anos neste sector, as semanas críticas são sempre desde a última de julho até o 15 de agosto, onde se situa o pico pela grande afluência de visitantes. Mallorca é um destino muito, muito popular a nível internacional, com a chegada dos alemães, ingleses, franceses, etc. Então, bom, sempre, toda a vida têm tido picos.
--Qual é o modelo de carro que mais se aluga? É o mais barato?
Nós não somos uma companhia generalista. Somos uma companhia premium. Trabalhamos há mais de 110 anos no mercado e sempre muito especializados no sector premium. Isso significa que temos mais de 60% de nossa frota no segmento médio alto. Não significa que seja por isso mais caro. Ao ter bem mais volume, também podemos ter preços muito acessíveis para alugar um veículo de gama alta ou um veículo económico, isto é, um veículo mais pequeno com as melhores ofertas ou preços do mercado. Nós estamos muito focados nesse segmento. Qualidade-serviço é um dos pilares da companhia.
--Mas, há uma tendência a escolher um determinado modelo de carro?
Como somos uma companhia premium temos clientes de todo o tipo. Os clientes com um alto poder de compra preferem veículos específicos. Temos também um target de clientes que procuram um preço muito acessível que não se dispare com o mercado no general, mas ao mesmo tempo há que ter garantia. Enfim, não queremos que venhas de férias e que o aluguer do veículo seja uma experiência negativa. Queremos tratar o cliente o melhor possível para que volte a repetir.
--Quantos carros tinham em 2019 e quantos têm este verão?
Em Espanha tínhamos em 2019 cerca de 20.000 veículos no pico. Agora estaremos aproximadamente 30 % abaixo disso.
--Em 2021 a marca teve resultados financeiros históricos. Qual é o prognóstico para 2022?
No ano passado foi o nosso grande encerramento histórico, tanto a nível de grupo como também a companhia que eu represento em Espanha. Neste ano, gostaríamos de voltar a esses números, mas ainda é muito cedo para o saber. O que sim podemos dizer é que o primeiro trimestre do 2022, o grupo registou mais de 93,5 milhões de euros em comparação a 2019, que seria um pouco o referencial. Por enquanto vamos bem, vamos ver se nos acompanha essa procura que é tão esperada, ainda que há muita incerteza. A situação global que estamos a viver hoje em dia é má. Antes fazíamos um business plan ao ano e já sabias a senda que tinhas que seguir, hoje em dia fazemos o business plan todos os dias.