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Vicente Pizcueta (Espanha de Noite): "Há mais locais que estão a baixar preços que os subindo"

Entrevistamos ao porta-voz da Federação Nacional de Empresários de Lazer e Espectáculos para analisar as novas tendências de um sector a cada vez mais diurno

Alberto Rosa

pizcueta 1

Vicente Pizcueta é provavelmente uma das pessoas que mais sabe de lazer nocturno em Espanha. Foi responsável por históricas discotecas como Chocolate, em Valencia, e um dos motores da conhecida Rota do Bakalao. Na actualidade, segue vinculado ao sector como porta-voz de Espanha de Noite, a Federação Nacional de Empresários de Lazer e Espectáculos.

Apesar do contexto inflacionista que vive o país, este empresário valenciano assegura na entrevista a Consumidor Global que são mais os locais que estão a baixar preços que os subindo, e que existe uma ampla diversidade dentro do sector. Um sector que, em parte, lhe deve muito à pandemia. Um exemplo disso é o assentamento de novas formas de lazer que chegaram para ficar como é o fenómeno do tardeo.

--Que momento vive o lazer nocturno em Espanha?

--A nível reputacional e de percepção social tem tido um dantes e um depois com a pandemia. Estamos a viver um momento sem precedentes. Muito positivo. A gente tem ter# saudades a este sector e por fim reivindica-se a importância que dá a nossa imagem de marca e como produto turístico. Não obstante, seguimos sendo um sector hiperregulado ou mau regulado. Não esqueçamos que se trata de um sector com muitos flecos a nível competencial que depende das comunidades autónomas e seguimos precisando uma mudança de regulamento para impulsionar questões como a segurança, cálculos de aforo ou a protecção ambiental.

Um local de lazer nocturno durante a pandemia / EP

--Tem mudado a forma de sair de festa em Espanha nos últimos anos? Quais são as novas tendências?

--Totalmente. Por um lado, deram-se uns bandazos importantes em torno da média de idade porque, ainda que num primeiro momento o regresso à normalidade protagonizaram-no os mais jovens, o fenómeno do tardeo é o que tem repetido toda a geração de uma faixa de idade dentre 40 e 60 anos que saía muito pouco e, no entanto, têm multiplicado por três sua frequência de saída. Também se diversificaram os horários de actividade dos locais de lazer. Sempre digo que agora a noite é a cada vez mais diurna. A gente sai mais pelo dia, ainda que segue sendo complementar com a noite, que é a faixa favorita do jovem.

--Então, as discotecas, o lazer… Já não são sozinho para jovens.

--Em absoluto. O público maioritário está na faixa de 40 a 60 anos por esse fenómeno do tardeo. Há que recordar que a geração dos 80, a que nasceu entre os 60 e os 70, tem sido a mais golfa deste país. O subidón pela saída do Covid e que por idade já não queres estar até as 3 da manhã faz que se proponham outros planos, como a possibilidade de ficar a comer e sair e te meter numa discoteca. É algo que já ocorre em muitas cidades. Não falamos do gintonic da sobremesa, falamos de se ir de marcha pela tarde. Isso tem feito que a média de idade esteja acima dos 30 anos.

--O consumo de drogas sempre se vinculou à imagem do lazer nocturno. Que situação se vive agora?

--Esses tópicos evoluem de forma natural. Há muitos clichés sobre os jovens e o consumo de drogas, mas também há mais estudos sobre jovens abstemios. O que está claro é que essa geração dos 80, que foi muito golfa, não é a geração actual nem muitíssimo menos. Agora mesmo, todo o que tem que ver com drogas ilegais tem um peso menor que o que teve em 80. Felizmente, a gente consome álcool de forma moderada, ainda que sempre terá jovens que saiam e percam os papéis. Em conclusão, podemos dizer que temos uma noite bastante sã.

Uma discoteca cheia de gente / PEXELS

--Vivemos num contexto de inflação constante. Sair de festa converteu-se num luxo?

--Com este tipo de coisas sempre pomos o foco no local de moda, mas há muitos bares de copas de diferentes perfis em todas as cidades. As discotecas luxuosas, as da copa cara, são poucas e não podemos generalizar. Ao final, cervejas a 3 euros pode-las tomar em todas as zonas de marcha de Espanha, mas também podes as tomar por 12 euros. Agora mesmo há uma dispersão em termos de política de preços muito grande.

--Há algum aspecto concreto no que se tenha notado mais a subida de preços?

--Diria que sim que se produziu um incremento de preços desde o refresco até as bebidas espirituosas, mas sempre por embaixo dos níveis de inflação, porque toda a corrente de valor do lazer sabe que é vulnerável. Quando a gente tem que se recortar, ainda que seguramente siga saindo de festa, sua frequência será menor. Pode que estejamos num momento disruptivo, de facto, agora mesmo dizer-te-ia que há mais locais que estão a baixar os preços que os subindo.

--A imagem de Espanha sempre tem estado muito vinculada ao lazer nocturno. Tem mudado essa percepção nos últimos anos?

--Acabamos de publicar um ranking das cidades com a melhor vida nocturna do mundo e Madri volta a ser a primeira opção para os profissionais estrangeiros do marketing turístico. Ademais, a muitos pontos de distância de Londres, que é a segunda. Não há nenhum país que tenha duas cidades no top 5 e aqui temos Madri e Barcelona, que ocupa o quinto lugar. Confirma-se que a percepção que têm os estrangeiros do lazer nocturno de Espanha é muito positiva, não esqueçamos que seguimos sendo um país muito barato para os turistas. Ademais, temos umas infra-estruturas de transporte público e uma segurança que são valores importantes.

--Já que menciona o tema da segurança, ultimamente denunciaram-se muitos roubos em discotecas e salas. Voltou-se um tema preocupante?

--O uso da guardarropía é a cada vez mais necessário porque igual dantes deixávamos as jaquetas em qualquer lugar, ou as bolsas, e podem-nos roubar. De todas formas, o que há que fazer é aplicar medidas de autoprotección, e isso é o que estamos a fazer tanto com a Polícia Nacional como com a Municipal. A gente tem que saber onde está e ter esse mínimo controle, fazer um movimento de 360 graus para saber onde estamos e daí há a nosso arredor. Porque sim, está claro que há hurtos e roubos e que pode ter até situações problemáticas, que as há, mas o importante é que quem saia de festa a lhe o passar bem tenha em conta a mensagem da autoprotección porque isso livrar-lhe-á de muitos problemas. Saber se tenho ou não iluminação, em que rua me meto ou se estou a pedir o táxi e me recolhem, ou não, na porta do local. Toda essa informação é muito valiosa para evitar problemas.

--Também preocupa o machismo e as condutas de assédio contra as mulheres em salas e discotecas. Como o enfrenta o sector?

--Nós fomos o primeiro sector que assinou um convênio de colaboração com o Ministério de Igualdade, mas não é porque tenhamos um problema maior que outros sectores. Já sabemos que, por desgraça, o tema da violência sexual está presente, em primeiro lugar, nos lares; depois, no trabalho; e em terceiro lugar nos espaços públicos. Nos locais há um sistema de controle e parece-nos muito conveniente dar exemplo. Que como patronal sejamos o primeiro sector que tem assinado esse convênio com Igualdade para avançar na definição desses protocolos é algo do que estamos muito orgulhosos. Ao mesmo tempo, também reivindicamos a segurança de nossos estabelecimentos nos que não se produzem agressões sexuais. Há muitos mecanismos de controle dentro de um local. O mais importante é detectar as situações menos problemáticas para poder evitar que vão a mais.

Ambiente numa discoteca / UNSPLASH

--Movida Madrilena, Rota do Bakalao… Voltaremos a ter um movimento de lazer nocturno?

--Já o estamos a viver. Essa projecção internacional que te comentava de Madri e Barcelona é importante, o que não tem posto ninguém ainda é o nome, mas está claro que a noite madrilena, sem movida, está de moda, e que Barcelona segue sendo uma das capitais turísticas do mundo. Ibiza deve de ser a marca de lazer nocturno mais importante do mundo junto com As Vegas. Temos marcas importantes como Marbella e a potência da imagem da vida nocturna espanhola está em muito bom momento. Não temos nome nem etiqueta, mas também não a precisamos.