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Eduard Sanfeliu (Confraria da Cava): "É complicado encontrar um bom por menos de 5 euros"
O gerente das Adegas Girou Ribot fala do estado de um setor que procura reconhecimento e beneficiou da escassez de Moët e outros champanhes
Cava é a denominação de origem espanhola que mais exporta --175 milhões de garrafas--. 71% do que se produz vende-se no estrangeiro. Produz-se no Vale do Bierzo (Aragón), em Rioja, em Almendralejo (Badajoz), em Requena (Valência) e em Sant Sadurní d'Anoia, conhecida como a capital da cava, que faz parte de Comtats de Barcelona, onde se concentra mais de 95% da produção desta bebida espirituosa.
"Sempre foi muito vendida, agora é hora de lhe dar mais prestígio", expõe o presidente da Confraria da Cava Sant Sadurní e gerente da adega familiar Girou Ribot, Eduard Sanfeliu, que explica que a escassez do champanhe francês em Espanha beneficiou a cava e fez com que se produzam e se vendam mais garrafas prémium.
--A cava soube vender-se muito melhor internacionalmente que o vinho catalão?
--"Desde há muitos anos, graças a empresas tão potentes como Codorniu e Freixenet, que exportavam e faziam marca cava, deu-se a conhecer o produto ao cliente final. Antes, as denominações pequenas de aqui ficavam a nível nacional. Agora tentam exportar para fora, mas ainda existe um travão".
Qual é o travão?
--"O travão é que ainda falta que se reconheça o valor da cava. É das bebidas mais vendidas a nível mundial, mas falta dar-lhe o reconhecimento que se merece. Temos de ir todos juntos e fazer força para sair fora de Espanha e que conheçam a excelência dos nossos produtos".
--Como se consegue o prestígio?
--"Com conhecimento. As pessoas conhece a cava jovem que está a preços económicos, mas falta provar os bons para valer. Agora se faz muito finca-pé nos de guarda superior. A cava quer-se fazer mais prémium".
--A cava quer ser champanhe?
--"Temos um produto que não tem nada que invejar ao champanhe francês. A produção é a mesma. Falta que as pessoas os conheça e saibam que existe uma alternativa de qualidade".
--Isso implica garrafas mais caras…
--"Em 2022, todas as adegas tiveram que aumentar preços (entre 5 e 10%) porque vínhamos de 2021 com um grande aumento de custos em plástico e cartão. Neste ano os auemntos de custos ainda são maiores: o vidro subiu até 50% e o cartão mais de 20%. O transporte também aumentou muito e as adegas voltarão a subir os preços. Ainda que o setor também não admita subidas muito fortes de preço".
--Tem tido escassez?
--"Não falta, todo o contrário. Há saturação de cava devido ao Covid. Em 2020 parámos a produção, mas também se vendeu muito menos. Agora todas as adegas temos stock de sobra. Pode ter um pouco de atraso pelo fornecimento de rótulos ou alguns materiais, mas não haverá problemas de abastecimento".
--O que sim tem faltado e falta é Moët e Dom Pérignon…
--"No final de 2021 teve uma escassez importante de todos os champanhes. Para a cava foi bom, sobretudo para as gamas mais prémium que poderam ganhar esse vazio. As pessoas puderam provar garrafas que são melhores que alguns champanhes. Especialmente em qualidade-preço . E por isso, em parte, estamos a potenciar os reservas e grandes reservas".
--Quanto vale uma boa garrafa?
--"É complicado encontrar uma boa cava por menos de 5 euros. No final, a elaboração da cava costuma demorar dois anos; a garrafa de cava é mais cara que a do vinho porque tem de suportar a pressão; todo o processo... Para mim uma boa cava pode estar entre os 6 e os 8 euros. Se vais-te a acrescentes concretas, adegas muito conhecidas e grandes reservas, entre 15 e 20 euros, no geral".
--Podem-se encontrar nos supermercados?
--"Hoje em dia os supermercados melhoraram muito a sua oferta de vinhos e cavas. Antes tinhas que ir a uma loja especializada. Agora podes ir fazer a compra e levar uma boa garrafa".
--Onde compra a cava o presidente da Confraria do Cava?
"Normalmente, levo da adega, mas também desfruto do que me trazem os amigos, que me serve para conhecer o que faz a concorrência. E também, quando vou fazer a compra, levo alguma garrafa. Eu costumo ir a Caprabo, que aposta no produto local, mas Alcampo, Carrefour e Mercadona, por exemplo, também ampliaram a sua oferta e têm dado um maior protagonismo à cava nos seus lineares. Inclusive podes encontrá-los por zonas de origem".
--Que lojas especializadas recomendaria?
--"Em Madrid, Lavinia, que tem um grande sortido e cuida muito o produto. O El Corte Inglês também tem uma zona gourmet muito interessante. Lafuente é outra loja de referência. E Vins i Licors Grau, em Gerona, que é um monstro e vende on-line para todo o lado".
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