Sidney Beekhuis (Zeeman Espanha): "Gostamos de pôr as nossas lojas perto de um Mercadona"

Zeeman é uma empesa familiar holandesa que foi fundada em 1967 e que, hoje, aspira a fechar 2022 com 170 lojas em Espanha.

Sidney Beekhuis, o seu director de vendas no mercado espanhol, falou com a Consumidor Global para detalhar quais são os planos de expansão da rede, as empresas que considera grandes rivais no mundo dos básicos --onde Zeeman quer ser a rainha-- e como os afecta, também, o contexto inflacionista atual.

-- Zeeman tem mais de meio século de história, mas quando chegou a Espanha?

--"Começamos em 2015. Mais especificamente, arrancamos primeiro na Catalunha. É importante para uma empresa como a Zeeman ter volumes e enessa altura estávamos a expandir-nos para outros países. Primeiro na Bélgica e Alemanha, depois chegamos a França... E o seguinte passo lógico era Espanha. Em 2015 começamos com três lojas. Agora, sete anos depois, temos 143 lojas em Espanha com 50 novas aberturas previstas para este ano. Ainda nos fica abrir 30 mais. Assim, no final de 2022 esperamos terminar com 170 lojas ao todo".

--Que é o mais difícil de arrancar noutro mercado como o espanhol?

--"Mais especificamente, em casos como o de Espanha, o que nos encontrámos é que, com frequência, falamos com proprietários privados para alugar certos espaços e abrir lojas. E isso pode dificultar fechar um negócio. De facto, aconteceu perdermos um espaço por não poder esperar tanto a que os donos tomem uma decisão. Além disso, cada zona de Espanha é diferente e às vezes é difícil conseguir uma posição porque cada área tem uns regulamentos próprios. Em Soria e em Burgos, por exemplo, não podemos vender comida e bebida nas nossas lojas. Precisamos uma licença separada para isso. Mas em Barcelona ou Valencia não temos esse desafio ou problema. Estas coisas ainda são um pouco confusas para nós.".

--Qual é o tipo de loja que funciona melhor em Espanha?

--"Em Espanha, no general, funciona melhor estar perto dos bairros e dos supermercados. Sobretudo gostamos de pôr lojas ao lado de um Mercadona. Vendemos básicos e a proximidade com este tipo de estabelecimentos ajuda-nos".

-- Quais são os produtos mais vendidos da rede?

-- "Temos nove grupos de produtos e dois são os melhores quanto a vendas: a roupa interior e a roupa de bebé e infantil. Além disso, o cliente mais importante para nós é a mãe porque, muitas ocasiões, compra para toda a família".

Que torna a Zeeman diferente?

--"Somos os reis dos básicos. O utilizador encontra nas nossas lojas tudo o que precisa para o seu dia a dia, desde roupa interior, a meias, t-shirts, etc. Temos algo de moda, sim, mas não é nosso foco nem prioridade".

--Como são os preços nas vossas lojas? Subiram devido à inflação?

--"A estratégia da Zeeman é oferecer os preços mais baixos nos produtos básicos. No entanto, devido à inflação tivémos que subir alguns preços. Assim, em determinados produtos aumentaram entre 3 e 5%".

--Como afecta esta subida os consumidores?

--"Com o contexto actual, vemos que os consumidores consomem menos. Todo o mundo gasta um pouco menos".

--Qual é o talão médio na Zeeman?

--"Normalmente, temos um talão ou uma despesa média de 12 euros. Há clientes que saem da loja com um produto".

--Com que frequência um cliente volta à loja?

--"Quando estás para perto das pessoas e dos bairros, tens que ser amável com os clientes e ganhar a sua confiança. A cada semana oferecemos novos produtos e ofertas e temos muitos clientes que vêm todas as semanas".

--Acha que a Zeeman é a Primark holandesa?

--"O modelo da Primark baseia-se mais no fast fashion e nós não somos isso. Tentamos que nos conheçam como os reis dos básicos. Para isso, revemos todos os dias os preços dos nossos concorrentes e o nosso objectivo é oferecer qualidade a um custo baixo".

--Em Espanha, com empresas como a Inditex, como vê a concorrência? É muito feroz?

--"Dentro do grupo Inditex só há um competidor real para nós e é a marca Lefties. Neste sentido, a estratégia do grupo espanhol passa agora por fechar algumas lojas e focar-se mais no negócio on-line. Por isso, estamos a ver que muitos Lefties desaparecem e isso é bom para nós. No entanto, há outros competidores que sim optam por se expandir como, por exemplo, Pepco. Esta grande empresa conta com um catálogo e preços semelhantes aos nossos. Já têm mais de 2.000 estabelecimentos e estão-se a expandir por Espanha".

--Quão forte são as vendas on-line da Zeeman?

--"Acabamos de abrir a loja on-line da companhia e está a impulsionar, ajudando, o negócio das lojas físicas. A ideia é que, se não podes encontrar um tamanho no estabelecimento, possas pedir on-line e vice-versa. Isto é, poder recolher pedidos digitais na loja. Mas isso é um futuro que já virá".

--A quanto ascendem as vendas da empesa em Espanha?

--"Não partilhamos detalhes das vendas por países ou mercados. Como um grupo estamos com uma facturação em torno dos 670-700 milhões. Neste ano, claro, deve de ser mais porque as vendas subiram. Tivemos bons anos apesar da chegada do Covid. Vendemos muitos básicos. E, agora, esperamos que as novas lojas também dêem os seus frutos. Se temos o mesmo sucesso e acolhimento no resto de Espanha que na Catalunha, não irá bem. Por enquanto, o resto de zonas crescem, mas é preciso tempo para se estabelecer e oara que as pessoas te conheçam. Às vezes demoram-se dois anos a conseguí-lo".

--Qual é a aposta da empresa em Portugal?

--"Neste ano aterraremos no mercado luso com quatro lojas. Achamos que é um muito bom começo. Serão as primeiras da marca ali. Todas no Porto ".

--Que importa mais ao cliente espanhol?

--"O consumidor espanhol centra-se no preço, mas também na qualidade, e é um tipo de cliente bastante crítico. Por isso, tentamos usar ingredientes e materiais mais ecológicos".

--A moda rápida tem nos dias contados?

--"Soa contraditório oferecer uma boa moda, sustentável e eficiente, a preços baixos. No entanto, a Zeeman tenta que os seus empregados conduzam, na medida do possível, carros eléctricos e opta pelo algodão biologico para as peças que vendemos. Temos departamentos inteiros trabalhando nisso. Além disso, a empresa é transparente e partilha no seu site toda a informação sobre como se obtêm os produtos, onde se fabrica e com que matérias-primas. Podes encontrar todas as fábricas e o seu funcionamento. Tratamos de ser muito abertos a respeito. As vendas são importantes, mas esta informação também o é para o consumidor. Quanto a se a moda rápida ou fast fashion vai desaparecer, ou não, a verdade é que não sei. Se, por exemplo, focamos-nos na Primark, grande parte dos seus clientes são jovens que querem se ver bem todos os fins de semana e com a Primark podem comprar coisas novas a um bom preço. E, seguramente, a este tipo de cliente não lhe preocupa tanto o impacto ambiental desse tipo de consumo. Todo o mundo quer algo barato e bonito. Mas talvez no futuro este tipo de moda desapareça. Talvez".