Os vegetais com aspecto de carne invadem os lineares dos supermercados. Next Level Meat e Vemondo (Lidl), Carrefour Veggie, e Tívall e Hacendado (Mercadona) são algumas das marcas brancas que produzem hamburguesas e salchichas veganas. Heura, Beyond Meat e NeWind Foods repartem-se o resto do pastel, mas seus preços não são para todos os bolsos. São saudáveis estas alternativas veganas à carne? Está justificado seu elevado preço? São produtos respeitosos com o medioambiente?
Para esclarecer estes e outros temas relacionados com a mau chamada carne vegetal, entrevistamos ao catedrático de biotecnología da Universidade Politécnica de Valencia José Miguel Mulet, autor dos livros Ecologismo real, Comer sem medo e Que é comer são?: As dúvidas, mitos e enganos mais estendidos sobre a alimentação, todos eles publicados por Edições Destino.
--As denominadas carnes 'plant-based' de Heura e Beyond Meat têm tomado os lineares dos supermercados…
--Em primeiro lugar, é equívoco chamar carne, entendendo que a carne é qualquer derivado de um animal, a estes produtos. Os alternativas vegetais à carne são um preparado a partir de matérias primas vegetais às que se pretende dar aspecto ou sabor de carne. Mas, desde um ponto de vista biológico, não são carne.
--Estão justificados os altos preços de Heura ou Beyond Meat, que vendem seus hamburguesas a 4,99 e 5,95 euros os pacotes de 220 gramas?
--Está justificado porque para fazer que a farinha de garbanzos pareça carne tens que lhe meter uma barbaridad de ingredientes mediante um processo agressivo e complexo, e isso se paga. Se queres proteína vegetal de qualidade, faz-te uma salada com soja ou um plato de garbanzos. Quando queres o aspecto e a textura do que não é, toca pagar, e neste processo se perde o benefício ambiental que possa ter comer vegetais.
--Contamina mais um bistec de ternera ou uma hamburguesa vegana?
--Sempre se diz que a produção cárnica tem mais impacto meio ambiental que o cultivo de vegetais, e é verdadeiro, mas, quando fazes carne vegetal, isso já não é um produto vegetal, isso é um ultraprocesado que requer de um tratamento agressivo para que pareça o que não é. Em resumo: o benefício ambiental destes produtos é nenhum.
--Mas se há empresários, como os fundadores de Heura, que se consideram, também, activistas…
--O que dizer-lhe-ia à gente que consome produtos de Heura, ou outras marcas similares, é que olhem a quanto lhes sai o quilo de soja, ou o de proteína vegetal, comparado com o que custa o quilo de soja sem processar ou sem forma de nuggets de frango. Compram soja a preço de chuletón.
--São um produto elitista?
--Sim. No fundo, é um dos principais problemas que temos com todos estes produtos. Têm que o fazer mais caro e impedem o acesso a gente com menos recursos. Passou algo parecido quando quiseram pôr uma dieta ecológica nas escolas --uma dieta que custava mais dois euros ao dia--, e claro, às famílias lhes supõe um problema. E sucede o mesmo com estes produtos de Heura, Beyond Meat e outras marcas.
--Que mitos existem sobre os alternativas vegetais à carne?
--Podes pensar que são um produto parecido à carne, quando não é assim. Podes pensar que têm uma qualidade e uma proporção de proteínas similar, quando não é assim. Ademais, a diferença da carne, estes vegetais carecem de vitamina B12.
--O etiquetado, às vezes, pode levar a confusão…
--São muito equívocos no etiquetaje. Heura, em ocasiões, utiliza o mesmo etiquetado para produtos vegetarianos e veganos, mas alguns deles levam proteína de ovo. Ademais, se consume-los porque apostas pelo bem-estar animal, não deveriam dizer algo sobre as condições nas que têm criado às gallinas? Se teu mercado é a gente que tem problemas éticos com o bem-estar animal, deverias facilitar esta informação. Se esconde-la…
--As gorduras poder-se-iam regular e fazer produtos realmente saudáveis, mas vários nutricionistas asseguram que, pelo geral, as hamburguesas de Heura e Beyond Meat têm muitos ingredientes, gorduras e também almidón, pelo que são um produto de consumo esporádico…
--O mais saudável, se a hamburguesa de Heura é de farinha de garbanzos, seria comer-te esses garbanzos de forma natural. Estes produtos ultraprocesados não têm nada de saudável. O importante, a base de qualquer dieta equilibrada, são as frutas e as verduras. A carne pode aparecer, ainda que tenha-lha demonizado de forma injustificada, porque tem uma proteína de alto valor. A dia de hoje, a maioria das alternativas à carne não são válidas.
--Em 2050 atingiremos os 10.000 milhões de habitantes no mundo, que comeremos então?
--Comeremos diferente porque a comida sempre evolui, mas, dado que em 10.000 anos não tem mudado muito a alimentação, a base seguirão sendo as raízes e as sementes. Nossos antepassados comiam trigo, batatas e milho, e, hoje em dia, seguem sendo a base da alimentação.