Carla Vidal é a directora de márketing da seção Plant Based da Danone Iberia. Quiçá a jóia da coroa da categoria seja a Alpro, uma marca de bebidas vegetais que cada vez tem mais saída. Não obstante, não é uma jovem promessa: "Na Alpro fomos pioneiros do vegetal muito antes de que existisse Instagram", dizem no seu site, é que lançaram a bebida de soja em 1980. Meio século depois, Alpro é uma das 50 marcas mais consomida pelos espanhóis.
Assim o reflete um recente relatório da consultora Kantar (Brand Footprint 2023), no qual a Alpro acelerou para se tornar a marca com a melhor incorporação no top-50, ficando em 43º lugar.
–Como se consegue uma incorporação assim num contexto de inflação?
–No ano passado não entramos, mas fomos a marca com maior crescimento e ficamos muito próximo, de modo que este ano estamos muito contentes. É verdade que o contexto não ajuda ao mundo vegetal, e hoje não é fácil, sobretudo para as marcas de fabricante, mas continuamos o nosso caminho e continuamos a crescer. Por sorte, cada vez mais pessoas consomem vegetal, não só por necessidade mas sim por decisão. Esse é a mudança que está a viver a categoria nos últimos anos. Somos a maior e mais reconhecida marca no mundo dos legumes, e a confiança é sempre importante.
–Quanto cresceu o setor dos bebidas vegetais nos últimos anos?
–Estamos a rondar um crescimento anual de 3%. Tem sido assim há vários anos, ainda que na pandemia tudo foi um pouco anómalo. Mas desde há três anos estamos nesse crescimento de volume. Neste ano achamos que vai subir um pelín mais, estamos a projectar um crescimento de 4%.
–Que factor é o predominante para que um consumidor decida apostar nas bebidas vegetais? Saúde, gosto, sustentabilidade?
–Segundo os nossos estudos, o principal motivo pelo qual as pessoas decidem consumir vegetais é a saúde, seja porque não se sentem bem com o leite ou porque procuram alternativas com as quais completar sa ua alimentação E há bastante diferença entre o resto de motivos. É verdade que o facto de que seja mais sustentável também ajuda a tomar a decisão e a reforça.
–Quais são os produtos da Alpro com mais sucesso?
–Historicamente, os que mais se consomem são a bebida de aveia sem açúcar e a bebida de amêndoa sem azúcar. Dão um extra de saúde : tiramos-lhe o açúcar naturalmente presente aos ingredientes. Depois, a nossa última inovação, que é nova e capitaliza um pouco, é This is not Milk, que já tem várias cópias no mercado e concorrentes que aderiram ao movimento.
–Qual é o perfil do consumidor?
–O consumidor de bebidas vegetais é mais mulher que homem, ainda que aada vez é algo mais em massa e generalista. Quanto à idade, concentra-se maioritariamente entre os 35 e os 65 anos. Estes trechos compreendem mais da metade do volume. E, hoje em dia, as pessoas estão a consumir cada vez mais por convicção, e não por necessidade, o que alarga muito os alvos.
–Em que regiões espanholas se consomem mais bebidas vegetais?
–Surpreendeu-me quando o vi, mas a região onde mais se consome, onde a penetração é mais alta, é Canárias. E acho que é um tema cultural. Não é que tenha mais intolerância, mas sim que é um tema de escolha, decisão de estilo de vida. No general, nas grandes cidades há mais penetração: mais em Barcelona que na Catalunha, mais em Madrid capital que na Comunidade… Também se consome bastante no arco mediterráneo.
–Em março, a Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (Aesan) mitiu um alerta que se revelou errado sobre um produto Alpro. O alerta dizia que o produto continha proteínas do leite, mas não continha. O que aconteceu?
-Foi um erro de amostragem que, felizmente, puderam corrigir o mais rapidamente possível, embora nunca seja demasiado cedo. Ficámos muito surpreendidos com a notícia e também muito calmos, porque os nossos controlos de qualidade são extremos. A nossa produção não permite a contaminação cruzada, pelo que sabíamos que isto não podia acontecer. No mesmo dia em que fomos notificados, enviámos auditorias externas e internas, analisámos o produto... E estava tudo bem. Conseguimos falar com eles rapidamente, contámos-lhes tudo, abrimos as portas da nossa fábrica e eles concordaram em repetir o teste. Evidentemente, foi negativo, e depois comunicaram a retificação.
–Alpro teve que reajustar o preço de algum produto depois da subida de custos?
-Sim, o preço final depende inteiramente do distribuidor, mas sim. Penso que todo o sector foi duramente atingido em termos de custos. Felizmente, conseguimos conter o preço um pouco mais do que outros sectores. Ainda assim, é difícil, porque a inflação de custos é muito alta. No entanto, verificámos que o consumidor, nas bebidas vegetais, está a ser bastante resistente. Também é verdade que têm as suas alternativas de marca própria, que têm preços mais baixos. Mas fomos atingidos, como toda a gente. A última vez foi em dezembro e esperamos não ter de o fazer novamente.
–Acha que dentro de cinco ou seis anos, quando haja mais investimento e mais consumidores, o preço dos bebidas vegetais baixará?
-É possível que sim. É verdade que a diferença entre algumas bebidas e outras é cada vez menor. E é do senso comum que as economias de escala ajudam. Mas há uma questão de origem dos ingredientes que se manterá. Não creio que a diferença entre uma bebida e outra vá aumentar, pode ter tendência a equilibrar-se, mas nunca estará ao mesmo nível. Ora, em cada mundo há qualidades diferentes, pelo que é um pouco difícil comparar categorias. Mas penso que tenderá a diminuir. A tecnologia está a ajudar cada vez mais.
–O que é que a deixa mais orgulhosa de trabalhar na Alpro?
–Não só o que fazemos, mas como fazemos as coisas. Não só somos B Corp, mas que estamos nas 5% das melhores companhias B Corp do mundo.
E isso põe um selo na forma como fazemos as coisas. A sustentabilidade está no nosso ADN, nascemos com esse objetivo, mas há muito mais. As nossas culturas de amêndoa, por exemplo, são aqui no Mediterrâneo e são alimentadas pela chuva e não por irrigação intensiva. A forma como nos certificamos de que a nossa soja é sustentável, como cuidamos da nossa colaboração com os fornecedores... Isso deixa-me orgulhosa.