Albert Ventura está "desde sempre" no ufabricante de brinquedos espanhol IMC Toys. Mais especificamente, desde que criou a empresa em 1981. "Comecei como responsável financeiro e agora sou CEO e accionista", explica à Consumidor Global. No início, lembra, a marca não fabricava brinquedos, só os distribuía. Esse modelo funcionou até finais de 90.
"O meu projecto consistia em desenhar em Espanha e fabricar na China. Depois, de Hong Kong começou a vender e exportar para todo mundo. Era 2001. Facturavamos uns 7 ou 8 milhões", explica Ventura. Este ano a previsão de vendas ronda os 180 milhões.
--A IMC Toys continua a fabricar na China?
--"Nos últimos 20 anos houve mudanças. Agora fabrica-se na Chinesa uns 40% dos nossos produtos. E a estratégia é ir saindo. Estamos a fabricar já na Índia e no Vietname. Antes, a China era um país mais competitivo, mas agora já não tanto. E quanto a produto, agora trabalhamos menos com a Disney e mais com projectos próprios como os Bebés Llorones, um dos brinquedos mais vendidos em Espanha".
--Quando nasceram os Bebés Llorones ou Cry Babies? Esperava-se o sucesso que tiveram?
--"Os Bebés Llorones foi o primeiro brinquedo que lançamos em 2017 apoiado com uma série própria no YouTube. Fizemo-lo para dar um suporte às vendas, mas vimos que em si mesmo este conteúdo já era um negócio. Agora estamos já na temporada 6 e vendemos a série a várias redes e também à Netflix ".
--Não há agora no catálogo nada de Disney?
--"É muito residual. Temos o Bebé Llorón de Minnie Mouse, isso sim".
--Quais são os brinquedos mais vendidos?
--"Durante os últimos três anos foram os Bebés Llorones. Têm sido número um. Agora estão a baixar. Mas contnuam no top 10 em Espanha. Agora lançamos há pouco as BFF, uma nova linha de bonecas da categoria Fashion Dolls, que são as irmãs mais velhas dos Bebés Llorones. Porque para as meninas o segmento de bonecas é o mais importante. E esperamos que as BFF, tal como arrancaram, em julho estejam no top 5. E dentro da categoria de jogos de mesa, por exemplo, A máquina da verdade é um dos mais vendidos".
--Os meninos até que idade brincam agora com brinquedos?
--"O que tem passado com o brinquedo é que com os anos se perderam muitos consumidores. A partir dos 8 anos brincam menos e passam para o mundo dos videojogos. Há muito tempo que vemos essa tendência".
--Mais crianças compram agora bonecas?
--"Isto não o sabemos, a verdade".
--Os clássicos nunca morrem?
--"Alguns sempre se mantêm como, por exemplo, o Monopoly. Mas há outros que têm um ciclo de vida mais curto. A verdade é que a categoria de jogos de mesa é bastante estável".
--Os espanhóis gastam muito em brinquedos?
--"Em Espanha gasta-se muito menos em brinquedos. Relaciona-se mais com o conceito de presente. Por criança em Espanha a despesa pode estar nos 150 euros por ano. Gasta-se mais na Alemanha, pelo clima, já que as crianças estão mais em casa. E na Inglaterra acontece o mesmo. A despesa em brinquedos por criança em Espanha é a mais baixa de Europa junto com a Itália".
--A inflação também chega ao sector dos brinquedos?
--"Este ano, o sector cresceu porque tem cresceu o preço médio. Entre janeiro e maio venderam-se menos unidades, mas o sector cresceu 5%. Subiram os preços porque no ano passado, não se tocaram, e foi um dos mais complicados para a indústria. As matérias primas e o transporte internacional subiram muito, mas isso não se repercutiu no preço por medo. No entanto, em 2022 subimos um pouco os preços. O aumento médio em Espanha será de 3-4%".
--Que importância tem a campanha de Natal para o vosso catálogo? E como esperais a de 2022?
--"75% das nossas vendas produzem-se no Natal, ainda que o verão também não seja uma época tão baixa neste sentido. É a segunda temporada mais importante, quando acaba a escola e com a chegada das férias. A nível interno acho que com os nossos novos lançamentos de Natal teremos uma boa campanha, mas falta ver como o tema da inflação afecta este tipo de consumo. Mas é difícil que uma criança fique sem presentes de Natal , é possível que tenha menos ou não tão caros".
--Que novidades veremos neste ano?
--"Acabamos de lançar as BFF, que valem 30 euros. Mas também lançaremos um Bebé Llorón 3.0 Emotions com movimentos na cara para Natal que custará 100 euros. Prevemos umas 15.000 unidades. Não são muitas, mas esperamos que esse número de famílias esteja disposto a gastar o dito dinheiro. E também lançaremos um peluche interactivo mais no final de ano que obedece a duas dezenas de ordens de voz por 65 euros. Em realidade, em cada linha há lançamentos novos a cada 6 meses".
--Por que triunfam os Bebés Llorones?
--"Basicamente por três razões. O desenho foi muito inovador. Têm uma mínima tecnologia, choram, fazem ruído. E chegaram acompanhadas de uma série audiovisual".
--São mais caros neste ano?
--"Valiam 40 euros. Subiram um pouco. Há uma versão de Bebés Llorones de 42 euros. Mas apertámos um pouco as margens. Dava-nos medo passar a 45 euros".
Anúncio das novas bonecas BFF de IMC Toys
--Que vos fica por fazer? Metaverso? Videojogos?
--"O metaverso, pelo que dizem, popularizar-se-á nuns anos e será mais um atractivo para crianças e adultos. Mas agora estamos a trabalhar mais no negócio audiovisual. Para 2023 gostaríamos de lançar videojogos dos Bebés Llorones. Temos mais de 300 produtos licenciados desta marca, mas queremos ir um passo além. Por isso, agora trabalhamos no lançamento de videojuoos e audiolivros. Estes últimos já poderiam chegar, de facto, este 2022".
--De vosso negócio, quanto significa agora o âmbito audiovisual?
--"Agora, mais ou menos, 6% ou 7% dos nossos lucros vêm da monetização do nosso conteúdo audiovisual. Acabamos de começar. Mas talvez em dois ou três anos poderia ser 15%. Ainda que não nos podemos esquecer que sempre é um complemento à linha de brinquedos que temos".
--Esperam fechar neste ano com uma facturação de 180 milhões… Como fechou 2021?
--"No ano passado fechamos com uns 150 milhões. Os Estados Unidos é um mercado muito grande e o salto forte este exercício vem motivado por este mercado. No entanto, para nós é muito complicado sermos fortes na Ásia. A China é um país muito hermético. Espanha, por enquanto, é nosso mercado número dois e o terceiro estaria entre Alemanha, França e UK".
--Quanto se demora a criar um brinquedo?
--"Depende do projecto. Mas demora-se em média a fazer um brinquedo entre 18 e 24 meses. Por exemplo, se fazes um peluche novo do que já tens um mecanismo é mais fácil, mas se é uma linha totalmente nova já mover-nos-íamos na faixa dos dois anos".
--Quais são as chaves para se manter e crescer num setor tão tradicional como o do brinquedo?
--"O brinquedo morre se não te renovas. Há que lançar produtos novos a cada ano. Tens que ir lançando modelos diferentes ou ficas de fora. Para uma boneca, o máximo que pode durar o seu sucesso são três ou quatro anos".
--É a concorrência muito feroz nesta indústria?
--"Têm entrado novos atores, basicamente empresas americanas que costumam ser as que têm mais força. E para competir com outros há que atirar da imaginação e ir passo a passo".