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Warner e Paramount desprezam o consumidor espanhol com a qualidade de som das suas fitas Blu-Ray
Os cinéfilos reclamam às grandes revendedoras a inclusão da pista de áudio Dolby Atmos nos formatos domésticos, tal como ocorre nas salas e noutros idiomas
Ter acesso desde casa a uma qualidade de som rica e invólucro de um filme como ocorre nas salas de cinema também é um direito. Ao menos assim o vêem os mais de mil utilizadores que assinaram a petição no Change.org para que grandes revendedoras como Warner e Paramount incluam uma pista de áudio sem compressão e com máxima qualidade na dobragem espanhola dos formatos domésticos Blu-Ray.
"Não entendemos porque nas salas de cinema podemos desfrutar da tecnologia Dolby Atmos na dobragem espanhola e pelo contrário, se compramos o Blu-Ray para ver o filme em casa, a qualidade é a mesma que a de há 25 anos", expõe Javier González à Consumidor Global, o criador da petição. É que, esta pista de áudio sem compressão existe e pode-se desfrutar nalgumas salas de cinema. O que não entendem alguns utilizadores, tal como conta González, é porque não se inclui nos discos físicos, tal como noutros idiomas como inglês, francês, italiano e alemão.
A tecnologia Dolby Atmos
Dolby, a companhia líder no desenvolvimento de técnicas para melhorar a qualidade dos sistemas de audio em diferentes indústrias como a cinematográfica, estreou há dez anos a sua inovadora tecnologia Dolby Atmos. Trata-se de um sistema envolvente que leva a um novo nível de experiência de escutar os filmes. É conhecido como o 4K do som e baseia-se em sons tridimensionais e o uso de diferentes altifalantes para movimentos concretos do filme.
Ainda que o mais comum é pensar que para desfrutar desta tecnologia é necessário contar com um home cinema com vários altifalantes, a verdade é que a Dolby Atmos é compatível com os televisores actuais com ou sem barra de som. "Não é necessário gastar muito dinheiro num equipamento para poder desfrutar deste tipo de som, as televisões novas são compatíveis e estão preparadas para apreciar os sons envolventes", explica Javier González.
O espaço não é o problema
Os compradores de Blu-Ray e 4K Ultra HD, os formatos domésticos maioritários, denunciam que, se o conteúdo cinematográfico se mistura nos estudos com o som espacial Dolby Atmos e essa pista se aproveita para as dobragens de países como Itália, França e Alemanha, "porque não podemos desfrutar de um som em alta definição na nossa dobragem para que todas as pessoas possam desfrutar da melhor qualidade na sua língua materna?", questiona-se González.
Pode-se pensar num problema de espaço, mas a verdade é que este argumento tem pouco peso, pois a capacidade dos suportes Blu-Ray e 4K Ultra HD é de até 50 GB no primeiro e 100 GB no segundo, portanto a capacidade do disco não seria desculpa para que as majors não incluam as pistas Dolby Atmos em castelhano. "A compressão fazia sentido há 25 anos, quando não havia muito espaço nos DVD, mas agora é absurdo", acrescenta Miguel Ángel P., outro cinéfilo fã do Blu-Ray. É que, se um amante do cinema quer desfrutar destes filmes em casa e dobrado em espanhol, o formato que ouvirão será o Dolby Digital 5.1. Esta tecnologia que comprime o áudio é a mesma que se utilizava há 25 anos com o aparecimento do DVD.
Sony, a que melhor trata o áudio espanhol
No ranking de revendedoras que pior tratam o consumidor espanhol em matéria de som, a Warner Bros ocupa o primeiro lugar, pois mantém em todos os seus filmes o áudio Dolby Digital 5.1. para a dobragem em castelhano. Não acontece com outros países como Itália, Alemanha e França, nos quais se incorpora o Atmos. O mesmo ocorre com a Paramount, e no caso da Universal, depende do título, mas impera o som comprimido.
No lado oposto, a Sony leva o prémio da empresa que melhor trata a qualidade de som em Espanha. "Sony sempre costuma pôr o som HD, tanto em Blu-Ray como em 4K. Salvo alguma excepção, o castelhano sempre esteve no HD nos discos de Sony". Nestes casos, o formato utilizado é Dolby True HD que, sem chegar aos níveis de qualidade do Atmos, é uma pista de áudio sem compressão que nada tem a ver com o Dolby Digital que costumam usar a Warner e a Paramount.
A cultura do som
Mas, se a questão de espaço nos discos Blu-Ray não é um problema e também não há custos por converter o formato de alta definição que já há em salas aos formatos domésticos, porque as majors seguem ignorando o consumidor espanhol? "Ninguém sabe, é um mistério. Dolby já disse em mais de uma ocasião que às revendedoras não lhes custa mais dinheiro incluir estas pistas porque já estão feitas", conta Miguel Ángel P. Javier González, por sua vez, acha que o problema está na falta de procura que tem havido até agora. "Se às empresas não lhes exigimos este tipo de som, vão passar".
Nessa linha concorda José María Gómez, engenheiro de telecomunicações na especialidade de som e imagem. "As grandes empresas pensam que em Espanha somos menos sensíveis a tudo o relacionado com o som e decidem poupar essas pistas já que não vêem muita procura", sublinha o especialista à Consumidor Global. "No final, é uma questão de falta de cultura do som, somos menos exigentes e as pessoas conformam-se com qualquer coisa em comparação a outros países", conclui o perito. A Consumidor Global tentou pôr-se em contacto com a Warner, a Paramount e a Dolby, no entanto, não obteve resposta por parte das empresa no momento da publicação desta reportagem.
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