0 comentários
Um isolamento de luxo: quase 500 euros para passar a noite sob a luz de um farol
Conseguir um quarto num dos quatro alojamentos turísticos deste estilo que há em Espanha é muito complicado
O seu nascimento foi marcado por naufrágios e tempestades. São o primeiro sinal de vida que um barco vê quando se acerca de terra firme, mas estão localizados em lugares tão inóspitos que já ninguém quer viver ali. Na verdade, com a chegada das novas tecnologias o oficio de faroleiro desapareceu --hoje são chamados de técnicos de sistemas de ajuda à navegação-- e as luzes funcionam de forma automatizada. Para que não caiam no esquecimento, quatro dos 187 faróis que há em Espanha converteram-se durante os últimos anos em hotéis onde se pode isolar do mundo e desfrutar da vida contemplativa.
Numa ilha de um hectare que está ligada a terra firme por uma estreita ponte, no alto de uma montanha íngreme sobre o mar, na ilha mais verde das Canárias e quase no fim do mundo encontram-se estes quatro alojamentos turísticos que, apesar de não estarem ao alcance de todas as carteiras, estão transbordando de reservas. "Se não se adaptarem mais faróis é porque a viabilidade económica é limitada. Trata-se de espaços pequenos e afastados das grandes urbes", explica da entidade pública Portos do Estado à Consumidor Global.
As vistas pagam-se
O primeiro a adaptar as suas instalações foi o velho farol da Ilha Pancha (Lugo). Depois de mais de um século em funcionamento, deixou de usar-se em 1983 e há quatro anos abriu um pequeno hotel de dois apartamentos para quatro pessoas que na temporada alta custam 400 euros a noite. Enquanto, dormir sob a lanterna do Hotel Faro de Punta Cumplida (La Palma), outro enclave idílico, sai por uns 290 e 490 euros. E a suite Farero, que conta com um grande salão com lareira, um terraço voltado para o pôr do sol e capacidade para quatro pessoas, é a mais cara deste hotel localizado na também conhecida como isla Bonita.
No final da estrada, rodeada por falésias escarpadas que caem até o oceano Atlântico, encontra-se o Hotel O Semáforo de Fisterra. Os seis quartos deste edifício centenário anexo ao famoso farol alugam-se por 220 e 320 euros a noite. Este preço é muito semelhante ao do Farol de Llafranc, num ponto privilegiado da Costa Brava, onde o quarto custa cerca de 300 euros. É verdade que de lugar nenhum se domina o mar em toda sua imensidão como desde estes faróis, mas, como apontam alguns utilizadores nas redes, "também é um lugar muito bonito e tranquilo para dormir na autocaravana", um plano alternativo que sem dúvida resulta mais económico.
Os 20 quartos mais procurados de Espanha
"No fim de semana não fica nada até outubro. A procura de hotéis como o nosso --pequenos, de qualidade e no meio da natureza--, disparou", explica José Luis López Braña, gerente dos dois apartamentos do Farol da Isla Pancha. O mesmo sucede no farol de Llafranc e no de Punta Cumplida, onde encontrar um quarto no feriado é uma autêntica quimera. "Ainda os voos ainda não operem como antes e há muitas restrições pelo Covid, chegar a um farol tem um atractivo e um encanto irresistíveis", aponta Tim Wittenbecher, diretor de Floatel, a empresa alemã que gere o precioso hotel La Palma.
Piscinas infinitas sobre o mar, terraços com panorâmicas capazes de tirar o fôlego ao mais urbano e janelas com vistas únicas fazem com que a disponibilidade nestes quatro hotéis brilhe pela ausência. Quando no resto de Europa já é de noite, ali o sol põe-se no infinito, seguramente por isso o Hotel O Semáforo de Fisterra "está quase sempre completo", tal e como aponta Jacinto Picallo, o seu diretor. Estão a ir tão bem que em julho abrirão um hotel de nove quartos no farol de Punta Insua (A Corunha), a poucos quilómetros ao sul do fim do mundo. E é que os alojamentos insólitos, como estes, são cada vez mais procurados pelos espanhóis.
Clientes de proximidade
O público que ia a este tipo de alojamentos era, antes da pandemia, maioritariamente internacional, mas o Covid mudou por completo o panorama. Actualmente, tal como asseguram os gerentes destes faróis reconvertidos em hotéis, 90% dos clientes são nacionais e 10% internacionais.
"Durante o ano passado ficamos mais populares tanto no resto da Espanha como nas ilhas Canárias", explica Wittenbecher, que vaticina que quando tudo voltar à normalidade o mais provável é que os seus clientes sejam metade nacionais e metade internacionais. "Alojar-se num farol é um nicho turístico que é independente do clima, das férias ou da época do ano. As pessoas vêm viver um sonho único e as escapadelas românticas sempre estão em época alta", afirma.
Que se pode fazer num farol?
"Sente-se o temporal como se estivesses dentro", comenta no Tripadvisor um cliente do Hotel O Semáforo de Fisterra, onde se pode contratar um passeio de barco pela Costa da Morte, fazer uma rota de buggy por praias selvagens ou visitar as cascatas de Ézaro, o único salto de água de Europa que cai até o mar. Em função do tempo, a opção de se efugiar no quarto com um bom livro e um copo de vinho enquanto as ondas batem nas falésias também pode resultar tentadora.
Um bom plano no Hotel Faro de Punta Cumplida é subir as 158 escadas que levam ao miradouro, mesmo por debaixo da lanterna, apanhar algo do minibar e relaxar contemplando o horizonte. "É um lugar mágico no qual se respira paz", apontam vários utilizadores sobre o alojamento turístico da Isla Pancha, que está rodeado de "um ambiente de conto de fadas" onde se podem desfrutar de imensos areais e do constante fluxo de pássaros de passagem.
Desbloquear para comentar