A luz ténue de um lustre flexo recebe aos assistentes, evocando a história que deu origem a este vasto universo animado. É impossível não pensar naquele breve cortometraje de 1986, Luxo Jr., que introduziu ao mundo um pequeno lustre que, jogando com uma pelota, fez vibrar os alicerces do cinema de animação. Aquela breve cena continha a esencia do que Pixar, usar tecnologia para contar histórias que tocam o coração. Esse espírito manifesta-se uma vez mais numa experiência envolvente que leva por nome Mundo Pixar.
A exposição, que começou sua andanza em São Paulo e arrasou em Madri com mais de 600.000 visitantes, tem chegado a Barcelona, no exterior do shopping Westfield A Maquinista. Desde o 26 de setembro de 2023 até o 21 de janeiro de 2024, os assistentes têm a oportunidade de adentrarse num universo a mais de 3.000 metros quadrados, uma autêntica oda aos filmes que têm enternecido tanto a meninos como a adultos ao longo das décadas. As entradas, que oscilam entre 12,90 e 40 euros, prometem 55 minutos de pura imersão em treze histórias icónicas. Para manter a fluidez do percurso, não se permite regressar às salas anteriores; por isso, me resulta recomendável ler atenciosamente as mensagens informativas, onde se escondem curiosidades fascinantes sobre a cada uma destes queridos filmes.
Começamos o percurso
O percurso começa com a fachada da casa de Carl Fredricksen, de Up. Os balões multicolores flutuam sobre o tejado, e ao cruzar a ombreira, é como se entrasses num lar detido no tempo, onde as lembranças de Carl e Ellie ainda ressoam nas paredes. O palco transporta ao momento em que Carl empreendeu sua viagem, enquanto o interior da casa irradia uma calidez acolhedora, com uma mistura de madeira envelhecida e detalhes que acordam uma profunda nostalgia. Cabe recordar que Up é a segunda fita de animação que foi nominada ao Óscar como melhor filme, sendo a primeiroà bela e a besta em 1991.
Mal uns passos mais adiante, as portas de Monstros, S.A. abrem-se, e uma atmosfera diferente apodera-se da sala. As portas giratórias de Monstruópolis refletem a vitalidad dos gritos e risos que dão energia à cidade. Nesta sala também se encontra a porta de Boo, permitindo se assomar ao quarto da pequena. Este detalhe acrescenta uma capa extra de interacção e encanto, submergindo ainda mais aos visitantes no universo de Sulley e Mike Wazowski.
Chegamos no ponto álgido da experiência
O ponto álgido do percurso chega ao entrar na habitação de Andy, de Toy Story. Uma das salas mais conseguidas, onde as nuvens brancas pintadas nas paredes azuis parecem se expandir até onde atinge a vista, revivendo essa sensação infinita da infância. A sala está cheia de brinquedos e muebles a tamanho real, que fazem me sentir como se fosse parte deste mundo. É interessante destacar que a primeira fita à que rende homenagem esta sala –a história desenvolveu três secuelas– se consolidou como o primeiro largometraje de Pixar produzido integralmente com gráficos animados por computador. Estreada em 1995, marcou uma meta na história do cinema.
De imediato, viajo a Paris, à cozinha do famoso restaurante Gusteau's de Ratatouille. Nesta sala, o aroma a sopa recém feita faz-se tão palpable que quase podes saborear o caldo no ar. Remy, diminuto e astuto, parece esconder-se depois de um gorro de chef, como se a cozinha fosse seu próprio reino em miniatura. Aqui o mundo volta-se maior e mais pequeno ao mesmo tempo, uma metáfora perfeita do talento que se precisa para cumprir os sonhos.
Continuamos por outras dimensões
A sala de Inside Out oferece-nos outra dimensão, a da mente de Riley, onde as emoções dançam entre luzes e sombras. A grande novidade desta exposição é o aparecimento de Ansiedade, a personagem estrela da segunda entrega da saga. Neste espaço espaço onde as cores mudam com as emoções, me deixo arrastar pelas luzes que piscam como pensamentos fugaces.
Ao ingressar na nova sala, o ar impregna-se com um agradável aroma a chicle de fresa que dá as boas-vindas ao vibrante mundo de Cars. No centro desta cena destaca Raio McQueen, brilhante em seu vermelho intenso, luzindo orgulhosamente o número 95, uma homenagem subtil ao ano em que Pixar apresentou Toy Story.
As grandes ausências da experiência
A viagem segue pelos mares de Portorosso, em Luca, um filme inspirado na infância do diretor Enrico Casarosa, onde a brisa marinha e o sol da Riviera italiana impregnam a atmosfera. Um contraste brilhante e vivaz que encontra seu contrapunto no México de Coco, uma dos filmes mais aclamadas de Pixar, como o demonstra a dedicação de duas salas inteiras a este emblemático largometraje. Aqui, a emoção sente-se no ar, em cada pétalo que flutua, nos recordando a importância da memória, de manter vivos a nossos seres queridos em nossos corações.
O percurso conclui baixo o mar, em Procurando a Nemo, onde a água salgada e a brisa marinha envolvem ao visitante num oceano infinito de tonalidades azuis. É um dos mundos mais vastos e invólucros de Pixar, onde a sensação de imersão é total, como se realmente nadássemos junto a Marlin e Dory arredor de umas enormes gafas de mergulho. Dantes de abandonar o fundo do mar e o Mundo Pixar em general, sentiu falta alguma referência a Bichos: Uma aventura em miniatura ou Os Incríveis, que são histórias notáveis e merecem ser reconhecidas nesta exposição.
A magia dissolve-se nesta sala
O toque final chega na loja de Mundo Pixar, mas aqui a magia dissolve-se um pouco. A icónica pelota amarela com a estrela vermelha que aparece em Toy Story —essa mesma que, durante todo o percurso, esteve escondida em cada sala como parte de um repto visual— se vende por 14,95 euros. Após procurá-la com esmero nas treze salas, um espera quiçá um pequeno reconhecimento, mas ao final, é só um repto "pessoal". Uma pequena desilusión, sobretudo quando os preços dos demais produtos como uma tote bag por 9,95 euros, nos recordando que, como em muitas experiências, a lembrança tangível tem um preço elevado.
Apesar deste pequeno desencanto final, Mundo Pixar é uma experiência inolvidable, uma imersão total nos universos que Pixar tem construído ao longo de quase três décadas. Cada sala está meticulosamente desenhada para acordar não só a vista, sina também as lembranças e as emoções mais profundas. Uma viagem sensorial e emocional que nos recorda por que Pixar segue sendo um gigante do cinema, capaz de contar histórias que trascienden gerações.